Como elogiar as crianças acabou virando um tabu

O mundo do elogio infantil mudou drasticamente. Agora, somos encorajados a aplaudir o esforço, não a conquista

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Bloomberg Opinion — Quando eu era criança, eu ouvia bastante “Muito bem”. Dupla de sucesso na liga infantil? “Muito bem!” 93% em um teste de matemática? “Muito bem!” Em contraste, a frase “Você se esforçou” ficava reservada para... coisas menores. Você falhou, mas... você se esforçou muito. Isso é um bom esforço, mas não um “Muito bem!”.

O mundo do elogio infantil, no entanto, mudou drasticamente. Dizer “Muito bem” se aproximou do status de tabu. As contas de mídia social de especialistas em paternidade e maternidade estão repletas de conselhos para evitar esse tipo de elogio, em todas as suas formas – nada de “Incrível!” ou “Você é tão inteligente.” Em vez disso, somos encorajados a aplaudir o esforço, não a conquista: “É ótimo saber que você trabalhou duro nisso”. Muitas vezes, os pais são informados de que é melhor não dizer nada.

Esse conselho é bem-intencionado, mas pode se tornar mais um que nós, pais e mães, somamos à sensação de que estamos falhando. Também pode ser paralisante. Alguns meses atrás, minha filha me contou como ela se saiu em um teste de matemática. Preocupada em dizer a coisa errada, eu apenas disse “OK”. O que também não parecia certo.

A razão subjacente para a proibição de elogios é, mais ou menos, baseada em dados. Talvez o artigo mais famoso e amplamente citado seja “Elogio pela inteligência pode minar a motivação e o desempenho das crianças”, publicado no Journal of Personality and Social Psychology, em 1998. Neste artigo, Carol Dweck e Claudia Mueller relatam os resultados de uma série de experimentos com alunos do quinto ano em que eles realizaram várias tarefas e foram elogiados por sua inteligência ou por seu esforço. Em geral, eles descobriram que aqueles que foram elogiados por seu esforço estavam mais interessados em buscar problemas mais difíceis e mais propensos a sentir que poderiam melhorar.

Com base nesta pesquisas e em outras relacionadas, Dweck apresentou ao mundo a ideia da “mentalidade de crescimento”. É mais amplo do que esse elemento, mas um aspecto fundamental é a ideia de focar nos esforços das crianças, e não em suas habilidades.

Esta pesquisa é interessante e convincente. É um forte argumento para incentivar uma mentalidade de crescimento na escola e ajudar as crianças a ver o valor da perseverança. O que não faz – pelo menos não diretamente – é sugerir que você nunca deve dizer ao seu filho “Muito bem!” Esse salto – de uma pesquisa interessante para uma polêmica parental – é um salto que o complexo parental-industrial deu por conta própria.

O complexo industrial parental tem um longo histórico desse tipo de reação exagerada. Pense no conselho de conversar com seu bebê o tempo todo. Ele decorre em grande parte do trabalho de dois acadêmicos em meados da década de 1990. Eles trabalharam com 72 famílias no Kansas em todo o espectro de renda e descobriram que o número de palavras que as crianças ouviam aos 3 anos de idade diferiam amplamente – talvez 30 milhões de palavras – em todo o espectro socioeconômico. Eles e outros argumentaram que essa exposição à linguagem era fundamental para o desenvolvimento acadêmico e social.

Essas são descobertas extremamente interessantes e podem sugerir caminhos para que possamos ver a desigualdade surgir mesmo cedo na vida. Obviamente, é extremamente difícil separar correlação de causalidade aqui – existem outras diferenças entre as famílias – mas essa evidência certamente sugere que conversar regularmente com nossos filhos é importante. O que esta pesquisa não diz é que você deve narrar cada troca de fralda. E definitivamente não diz que pais e mães mais calados estão fazendo algo errado.

Sou, em geral, uma grande fã do uso de dados na maternidade. Há situações em que bons dados são tremendamente valiosos. Um exemplo é a introdução precoce de alérgenos. Na última década, novas pesquisas sobre a melhor forma de reduzir as alergias deixaram claro que a introdução de alérgenos comuns – amendoim, ovos, laticínios – no início da primeira infância reduz drasticamente o risco de desenvolvimento de alergias. Expor as crianças a produtos com amendoim aos 4 a 6 meses, em vez de esperar até 12 meses, reduz o risco de desenvolver uma alergia ao amendoim em talvez 70%.

Este é um exemplo onde os efeitos são importantes, convincentes e significativos. Mas há muitos lugares onde os dados são apenas menos úteis. Eles são sugestivos, mas não conclusivos. Ou o impacto é minúsculo. O tamanho do possível benefício para o seu filho de narrar as trocas de fraldas é muito pequeno.

Apesar disso, muitos conselhos para pais e mães baseados em dados não conseguem diferenciar entre coisas que poderiam fazer uma grande diferença e coisas que deveriam ser determinadas por nossas preferências, nossas restrições e se realmente queremos conversar sobre cocô com nosso bebê. O resultado é que os pais se sentem pressionados a fazer coisas que nunca oferecem mais do que um benefício extremamente pequeno.

Às vezes, nosso desejo de usar os dados – de usá-los em excesso, na verdade – é confrontado ainda mais com a realidade de que os dados podem estar simplesmente errados. Você se lembra do estudo que sugeriu que ouvir Mozart ajudou os alunos a terem um melhor desempenho nos testes? Quantas pessoas colocaram música clássica para tocar perto do

útero, ou comprou vídeos do bebê Mozart? Quantos pais escutaram Bach no carro quando prefeririam ouvir os Beatles?

Mesmo que as descobertas tenham sido replicadas, essa foi uma reação exagerada. E, no final, o estudo não resistiu. Acontece que a música pode melhorar um pouco os resultados dos testes – talvez porque relaxe os alunos antes de um teste – mas não importa se é erudita ou não.

Então, às vezes interpretamos demais os dados. E daí? Nós paramos de ouvir Beatles, falamos mais do que queremos, ocasionalmente ficamos sem palavras em resposta a um teste de matemática. Mas, realmente, são pequenos impactos.

Onde eu acho que eles se tornam maiores é quando começamos a desconfiar de nós mesmos, quando conselhos baseados em dados geram ansiedade. Todos nós queremos ser bons pais e mães e não queremos atrapalhar nossos filhos e filhas. “Seguir os dados” parece estender uma mão tranquilizadora. Mas à medida que os pais e mães ouvem mais o que fazer e o que não fazer, há mais pressão, mais maneiras de falhar.

Os pais e as mães não precisam de mais maneiras de se sentirem fracassados. Às vezes, só precisamos ouvir um “Muito bem!”.

Emily Oster é professora de economia na Brown University. Ela é a autora de “Cribsheet” e “Expecting Better”.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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