Bloomberg — A proibição da exportação de óleo de palma da Indonésia começou nesta quinta-feira (28) em um dos casos mais drásticos de protecionismo alimentar desde o início da guerra na Ucrânia.
O país impôs uma vasta proibição às exportações de óleo de cozinha, abrangendo produtos de óleo de palma em toda sua cadeia. O óleo é encontrado em todos os lugares hoje em dia - em alimentos, sabonetes, batons e até tintas para impressão - o que torna a decisão da Indonésia um importante ponto de atenção para o mundo.
A medida aumenta o impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia, que mergulhou o mercado global de óleo comestível em uma grande desordem. Com os custos dos alimentos subindo para níveis recordes, os governos estão tomando medidas para garantir seus próprios suprimentos. As Nações Unidas pediram aos líderes que mantenham o comércio aberto, alertando que o protecionismo aumentará os preços e levará a prateleiras vazias em países dependentes de importações.
Em um movimento que ilustra a determinação do país em aplicar a proibição, a Marinha disse que deteve dois navios-tanque que transportavam óleo de palma para a Índia e para os Emirados Árabes Unidos por uma suposta violação dos controles de exportação. A Marinha vai aumentar ainda mais o monitoramento e a segurança nas águas do país para evitar o contrabando.
A proibição da exportação da Indonésia é “inflacionária para todos”, disse Atul Chaturvedi, presidente da Associação de Extratores de Solventes da Índia. A Índia é o maior importador de óleo de palma e obtém cerca de 45% de seu fornecimento do país do Sudeste Asiático. “Se a cadeia de suprimentos for interrompida, as empresas tentarão racionar seus suprimentos porque não sabem o que vai acontecer amanhã.”
O país não está facilitando a navegação diante de sua proibição das exportações. O maior produtor disse na última sexta-feira que suspenderia todos os embarques de óleo de cozinha, elevando os preços da palma e de seu substituto, o óleo de soja. Então, na segunda-feira (25), surgiram relatos de que apenas a oleína de palma, um produto refinado, seria interrompida, provocando um rápido recuo nos preços, com os comerciantes correndo para cumprir a proibição.
A medida é “um dos maiores atos de nacionalismo agrícola até agora durante esse aumento nos preços dos alimentos”, disse Tobin Gorey, estrategista de agrocommodities do Commonwealth Bank of Australia.
Os contratos futuros de óleo de palma caíram 1,1%, fechando em 6.910 ringgits (US$ 1.583) a tonelada na quinta-feira, reduzindo os ganhos da semana. Os preços saltaram para o limite de negociação de 10% um dia antes, horas antes de a Indonésia anunciar a proibição de exportação ampliada.
O presidente Joko Widodo disse na quarta-feira (27) que a proibição seria suspensa assim que a demanda local por alimentos básicos fosse atendida, acrescentando que era “irônico” que o país tivesse dificuldade em obter óleo de cozinha. A decisão de proibir as exportações veio depois que as políticas anteriores não se mostrarem eficazes para aliviar a escassez, disse ele.
É incerto se a proibição terá o efeito desejado. O governo reconheceu que a política pode reduzir a produção de palma do país e resultar em colheitas não comercializadas para os agricultores. Também há preocupações sobre quando os produtores indonésios ficarão sem capacidade para armazenar o óleo que não podem mais exportar.
“Com essa postura dura, o governo está punindo os refinadores e punindo toda a indústria de cultivo da Indonésia”, escreveu o analista da RHB Research, Hoe Lee Leng, em nota. “Todos os players na Indonésia provavelmente serão afetados, mas os exportadores são os que provavelmente vão sofrer mais.”
– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.
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