Indústria alimentícia produz mais emissões que setor de transportes

Melhorar o setor é uma oportunidade única; as mudanças reduziriam emissões em mais de 10 gigatoneladas por ano

Fumigación de árboles de aguacate en la plantación Finca Los Abuelos en El Peñol, Colombia. Cosecha de maíz en Illinois, EE. UU..  Recolección a mano hojas de té en el departamento del Valle del Cauca cerca de Cali.
01 de Maio, 2022 | 06:59 PM

Bloomberg Línea — Até agora, a indústria de alimentos em todo o mundo não consta nos planos dos países para mitigar as mudanças climáticas, de acordo com uma pesquisa da Aliança Global para o Futuro da Alimentação.

Os sistemas alimentares não apenas contribuem para as mudanças climáticas e são particularmente vulneráveis às mudanças, mas também são uma parte fundamental das soluções urgentes para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C até 2050.

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Essa indústria, que engloba o uso da terra, produção, processamento, armazenamento, distribuição, consumo e até mesmo o desperdício de alimentos, é responsável por quase um terço das emissões de gases de efeito estufa, até 80% da perda de biodiversidade e utiliza até 70% da água doce do mundo, diz o estudo.

A indústria alimentícia engloba a atividade agrícuola

A pesquisa conclui que mudar as formas de produção e consumo pode reduzir as emissões globais em pelo menos mais de 10 gigatoneladas de carbono por ano até 2050. A Aliança Global enfatiza que, embora esta seja uma “estimativa conservadora”, já que outros modelos mostram um potencial maior, o cálculo “é um pouco maior do que as emissões combinadas do transporte global e do uso de energia residencial em 2019″.

O estudo avaliou 14 países, incluindo Colômbia, Estados Unidos e Espanha, e determinou que uma transformação como a proposta (em nível global) equivale a pelo menos 20% da redução de emissões necessária para 2050 para evitar uma mudança climática catastrófica.

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Mesmo que todas as emissões de gases estufa não provenientes do setor alimentício sejam nulas entre 2020 e 2100, as emissões dos sistemas alimentares ainda excederiam a meta de 1,5°C entre 2051 e 2063.

Os países analisados foram selecionados devido a seu potencial de adaptação relacionado aos sistemas alimentares, sua necessidade de aumentar a segurança alimentar, bem como seu equilíbrio geográfico e sua representatividade socioeconômica na diplomacia climática.

Vida mais sustentável

A Aliança Global afirma que mudar para sistemas sustentáveis levaria ao progresso por sua relação direta em áreas como desenvolvimento econômico, segurança alimentar, saúde e bem-estar humano, ecológico e animal.

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A pesquisa afirma que nenhum plano de ação climática contabiliza integralmente as emissões geradas pela importação de alimentos, “principalmente aquelas ligadas ao desmatamento e à destruição da natureza e dos ecossistemas”.

Medidas específicas de promoção de dietas saudáveis e sustentáveis, que busquem reduzir o consumo de carnes, laticínios e alimentos processados, também não foram incluídas nos planos

No Bangladesh, foram consumidos 3,3 kg de carne por pessoa em 2017; já nos EUA, média saltou para 98

Apenas a China inclui uma meta para promover “estilos de vida sustentável”, embora seu plano climático não deixe claro se isso inclui esquemas alimentares. No Canadá, França, Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Reino Unido, a obesidade e o sobrepeso associados a dietas pouco saudáveis afetam entre 25 e 40% da população e são condições fortemente ligadas ao aumento do risco de doenças. Por outro lado, Bangladesh, Colômbia, China, África do Sul, Quênia e Vanuatu enfrentam o duplo fardo da desnutrição.

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A boa notícia é que a maioria dos planos promove a agroecologia e abordagens regenerativas, e a Colômbia e o Quênia apresentam o conjunto mais ambicioso de medidas agroecológicas.

A Alemanha é o único país comprometido em evitar as consequências nocivas de práticas como a agricultura com uso intensivo de produtos químicos, a pecuária intensiva e a produção de alimentos ultraprocessados.

Os pesquisadores destacaram que a Colômbia vive um caso excepcional, apesar do conflito armado que afeta a produção de alimentos há mais de 50 anos.

O plano climático do país foi particularmente percebido como democrático e inclusivo, pois não apenas agricultores e varejistas foram consultados, mas também comunidades tradicionais, povos indígenas e especialistas em gênero.

O ex-presidente Juan Manuel Santos assinou uma ordem para proteger as terras do páramo do departamento de César (um ecossistema único no norte dos Andes que serve como fonte para os principais rios do país) de atividades como mineração, agricultura e qualquer outra ação que coloque em risco seu abastecimento de água.

Embora as mulheres sejam essenciais para o fornecimento de produtos-chave, como frutas e legumes nas cadeias de abastecimento locais, em alguns casos, como Bangladesh e Quênia, elas têm acesso desigual aos recursos e mercados agrícolas.

Disparidades climáticas

Embora a indústria contribua significativamente para as emissões de países como Bangladesh, Egito, Colômbia e África do Sul devido ao percentual significativo que a agricultura contribui para a atividade econômica, seu impacto na poluição global é inferior a 0,3%.

O inverso ocorre nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Espanha e França, cuja contribuição para as emissões globais é substancialmente maior. “Um fator chave aqui é o consumo per capita relativamente alto de produtos de origem animal. Ao passo que, no Bangladesh, foram consumidos 3,3 kg de carne por pessoa em 2017, nos EUA, a média salta para 98 kg EUA”, disse o relatório.

Alemanha é o único país comprometido em evitar as consequências de práticas como a pecuária intensiva

Outras soluções

A Aliança Global alerta para a necessidade de reorientar as finanças do setor público e a política fiscal de práticas agrícolas e alimentares prejudiciais rumo a abordagens regenerativas.

“Há uma necessidade urgente de realizar uma abordagem integrada dos sistemas alimentares nos planos climáticos” tendo em vista a próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas 2022, a COP27, que será realizada em novembro, e a primeira avaliação global do Acordo de Paris em 2023.

Os sistemas sustentáveis devem ser reconhecidos como uma solução essencial para os desafios mencionados. “É possível alimentar uma população mundial crescente e ao mesmo tempo proteger nosso planeta”, disseram os pesquisadores.

A transformação dos sistemas industrializados oferece uma grande oportunidade para manter o aquecimento global abaixo do limiar crítico e, sem essa transformação, “será impossível fazê-lo”, disse Fong.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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Imelda Vera

Comunicóloga y periodista mexicana con perspectiva de género. Fue Coeditora Web y Editora de portada en El Financiero. Conductora del serial sobre género 'La Tía Violeta'. Antes, cruzó las puertas de La Jornada. Autora del artículo: Periodismo digital como paradigma del consumo noticioso en México (X Congreso Ulepicc, Quito).