Bloomberg Línea — Refletindo o recente aumento nas expectativas de taxas de juros, o Credit Suisse ajustou estimativas para os balanços de tecnologia do primeiro trimestre e ajustou estimativas de longo prazo, adotando uma abordagem mais conservadora nas margens.
Em relatório divulgado nesta sexta-feira (29), os analistas Daniel Federle e Victor Ricciuti atualizaram a avaliação da VTEX (VTEX) para “outperform”. Antes, a VTEX estava ranqueada como “neutral”.
Os investidores estão demonstrando um apetite muito baixo por empresas que não relatam lucros substanciais no curto prazo.
Daniel Federle, Victor Ricciuti
“Temos uma visão estrutural muito positiva da VTEX e nossa antiga classificação neutra foi baseada na falta de impulso de crescimento no meio de 2021, o que acreditamos ter sido superado”.
Federle e Ricciuti avaliam que a falta de interesse tornou as ações de tecnologia baratas, com os investidores demonstrando um apetite muito baixo por empresas que estão com prejuízo ou não relatam lucros substanciais no curto prazo. Os analistas acreditam que esse desinteresse criou distorções e levou empresas como a VTEX a se tornarem significativamente baratas, com potencial de upside superior a 50%.
“Embora seja difícil prever com precisão quando os investidores vão voltar a olhar para as ações de tecnologia de maior duração, destacamos que, além de avaliações atraentes, esperamos que as empresas brasileiras de tecnologia apresentem modelos de negócios protegidos contra a inflação e esperamos que apresentem fortes resultados no primeiro trimestre e ao longo do ano”, escrevem.
Do ponto de vista do momento operacional, os analistas acreditam que a TOTVS será a empresa brasileira de tecnologia que apresentará o resultado mais forte no primeiro trimestre, seguida pela VTEX, que deve ter uma maior aceleração nas vendas e crescimento de receita, “provavelmente ultrapassando o topo do guidance”, dizem os analistas.
Federle e Ricciuti consideram que a VTEX está acelerando rápido e esperam um primeiro trimestre forte. “O EBITDA provavelmente atingirá o equilíbrio já no quatro trimestre de 2023. O potencial de valorização permanece sólido em 50%. Qualquer frustração potencial relacionada à expansão global da VTEX é um risco importante”, dizem. Durante o VTEX Day neste mês, o CEO da empresa, Mariano Gomide, disse que a empresa vê um espaço muito grande para crescer nos Estados Unidos e Europa e recentemente abriu um escritório em Singapura.
Os resultados do primeiro trimestre da VTEX serão divulgados no dia 12 de maio.
“O IPO foi feito no momento certo”
Perguntado pela Bloomberg Línea em entrevista durante o VTEX Day, Gomide disse que o IPO de julho de 2021 foi feito “no momento certo”. “Planejamos o IPO por quatro anos e acessamos o mercado em um momento bom”.
Gomide considera que o IPO trouxe um “selo” para a VTEX. “Você vai como uma empresa privada para os Estados Unidos e bate na porta dos clientes e fala que é uma empresa com origem na Amérca Latina. Eles falam quem é você na fila do pão. Tem um preconceito muito grande. Se você é uma empresa aberta na NYSE te olham diferente, porque estamos sob a curadoria de um berço de investidores. Há três anos as pessoas que contratavam a VTEX demoravam três meses de diligência sobre quem é a VTEX, quem são os donos da VTEX. Hoje a diligência dura três dias porque a VTEX é uma empresa pública. A razão do IPO foi posicionar a VTEX ao mundo em um dos maiores palcos que existem em termos de comunicação. Pegamos um momento do mercado maravilhoso, talvez se fizéssemos cinco meses depois o mercado já teria invertido”.
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Gomide disse que os fundadores da VTEX ainda controlam mais de 37% da companhia. “Isso mostra que a gente está aqui para o longo prazo”.
Geraldo Thomaz, fundador e co-CEO da empresa, disse para a Bloomberg Línea durante o VTEX Day que o momento atual é de muita volatilidade e que o custo de financiamento certamente aumentou para quem precisa se financiar no curto prazo. “No nosso caso, a VTEX já faz esse produto [de software] há 10 anos praticamente se auto custeando. Já fomos lucrativos por muitos anos, a gente imagina que em um cenário que se estenda, a gente consiga reagir com bastante velocidade de modo que essa volatilidade não afete o nosso negócio a longo prazo”.
Olhando para o outro lado da moeda, Gomide disse que em um mundo em que há menos liquidez nos países emergentes, a empresa tem que se fazer valer na operação, onde os fundadores latino-americanos são muito bons. “Os Estados Unidos são mais competitivos com mais acesso a esse capital neste jogo de equity funding de emitir papel, fazer round, e investir na empresa. Em um mundo que não existe essa liquidez, a empresa tem que se fazer valer na operação. E nisso nós somos muito bons, não só a VTEX, mas todo esse ecossistema aqui foi forjado a sobreviver em condições que o mundo lá fora nunca enxergou”.
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