Bloomberg Línea — A Endeavor está abrindo a captação de seu segundo fundo para investir em startups de estágio inicial, o Scale Up Ventures 2. O fundo pretende investir R$ 100 milhões em 60 startups brasileiras e, para Igor Piquet, diretor da Endeavor no Brasil, o momento para comprar participação de empresas early-stage não poderia ser melhor. “Agora que a gente está vivendo uma correção, continuar investindo em startups early-stage significa que você está comprando uma das maiores revoluções que estão acontecendo na humanidade a preços melhores do que no ano passado”, disse, em entrevista à Bloomberg Línea.
Em 2021, startups brasileiras captaram um recorde de US$ 9,4 bilhões, segundo a plataforma Distrito, o que elevou o valuation das startups. Agora as taxas de juros e o cenário macroeconômico podem ter feito os investimentos de venture capital desacelerarem, e os valuations estão sendo ajustados. O relatório State of Venture, do CB Insights, mostra que os investimentos de venture capital tiveram uma queda de 19% no mundo neste primeiro trimestre em relação ao último trimestre de 2021.
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“O preço das ações dessas empresas estão um pouco corrigidas e por isso você ganha um mesmo upside a preços um pouco menores. A mesma empresa que há seis meses estava captando com valuations maiores, é a empresa de hoje, com a mesma tecnologia, o mesmo potencial. Quem se mantém investindo e apostando em tempos de baixa, acaba saindo melhor no longo prazo. Quando você está investindo só no tempo de alta, só porque está quente, ou na mídia, você compra a preços mais caros”, disse Piquet.
O primeiro fundo early-stage da Endeavor para investir no Brasil, o Scale Up Ventures, foi de R$ 84 milhões e investiu em aproximadamente 40 empresas, de Seed a Série A. Piquet explica que o Scale Up Ventures, tanto o primeiro quanto o segundo fundo, são agnósticos em setores. A única condição é ser uma empresa de tecnologia, ou que a tecnologia ajude a alavancar o negócio.
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Cresce interesse global em startups iniciais na América Latina
Investimentos em early-stage na América Latina também tem atraído competidores globais, como a BluStone, a Picus Capital, e locais, como a Polymath, e a 17Sigma, do fundador da Ualá, Pierpaolo Barbieri.
Recentemente, a Tofino Capital, novo fundo dos fundadores da insiderPR Eliot Pence e Aubrey Hruby, anunciou um fundo de US$ 10 milhões para investir em startups de estágio inicial na América Latina, África, Ásia e Oriente Médio.
“A ideia é investirmos em super-early, Pré-Seed e Seed. Até agora, já captamos US$ 5 milhões, nosso first close, e o fundo será de US$ 10 milhões”, disse Pence, em entrevista à Bloomberg Línea. “Mas já vamos começar a investir”.
Questionado sobre os motivos que têm levado os VCs internacionais a olharem para early-stage na América Latina agora, Pence disse que o talento na região é fenomenal e muitos dos empreendedores vieram de grandes startups como o Nubank ou a Rappi. Aliado a isso, o tamanho do mercado. “É quase tão grande quanto a China, e é praticamente no mesmo fuso horário dos Estados Unidos. O que é muito interessante em relação ao talento latino-americano trabalhando remotamente, é que agora você vê várias empresas de tecnologia americanas contratando desenvolvedores latinos. Isso os dá conhecimento de como o Vale do Silício funciona, e a partir disso eles podem fazer suas empresas”, disse.
Pence disse que o diferencial da Tofino não é o capital, mas o networking que os investidores têm com empresas globais. “Podemos ajudar os fundadores a contarem a história deles para uma audiência global”, pontuou. Teses fintech devem receber a maior parte do investimento do novo fundo.
“Estamos muito focados no histórico do fundador, gostamos de investir em empreendedores seriais que tenham capacidade de atrair talento”, disse. Pence afirma que a Tofino Capital não é um investidor passivo. “Um dos problemas de venture capital em mercados emergentes é que ele tende a ser passivo. E nós queremos ser muito ativos. Temos muita experiência prévia com problemas organizacionais e operacionais em diferentes mercados”.
Ele explica que embora os desafios em mercados emergentes não sejam os mesmos, eles são “similares”. “Quando você tem um VC europeu ou americano chegando a esses mercados, eles tentam aplicar um modelo que funcionou nos Estados Unidos ou na Europa na América Latina ou África. Eu não acho que essa é a solução. Eu acredito em adaptar modelos de mercados emergentes em outros mercados emergentes. Coisas que funcionam na Índia, tendem a funcionar no Brasil e na Colômbia”.
A Tofino Capital pretende investir de US$ 15 a US$ 500 mil em cerca de 16 empresas.
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