Opinión - Bloomberg

Musk é o líder errado para a missão vital do Twitter

Empresário tem sido um líder eficaz e ousado na Tesla – mas a Tesla fabrica veículos elétricos; não é uma empresa de mídia

Sede de Twitter en San Francisco. Fotógrafo: David Paul Morris/Bloomberg
Tempo de leitura: 5 minutos
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Bloomberg Opinion — Parece que o Twitter (TWTR) vai mesmo se vender para Elon Musk por US$ 43 bilhões, o que tornaria o acordo uma das maiores aquisições alavancadas (”LBOs”, ou leveraged buyouts, do inglês) ou da história de Wall Street e colocaria o administrador da Tesla em uma posição muito privilegiada nas mídias sociais.

A matemática, no entanto, não está fazendo muito sentido, assim como as intenções de Musk. Ambos os fatores prometem tornar este negócio um desastre em potencial e forçarão investidores, gestores, usuários e sociedade a pensar com mais clareza e seriedade sobre o papel que as empresas de mídia social desempenham em uma era marcada pela propaganda viral e pela desinformação.

Esse tipo de aquisição normalmente envolve fechar empresas de capital aberto, acumulando dívidas sobre elas e usando seu fluxo de caixa para pagar essas obrigações. Ao longo do caminho, as corporações que assumem as empresas pretendem tornar seus alvos mais competitivos e inovadores. Essa é a teoria, de qualquer maneira. A onda de compras que começou na década de 1980 e atingiu o auge em 2007 foi repleta de negócios que deram errado. O cenário de LBOs ficou mais calmo após a crise financeira de 2008, mas bons retornos para os investidores e baixas taxas de juros fizeram com que as transações atingissem novos patamares nos últimos anos. Se isso tudo for uma armadilha de Musk para o Twitter, inevitavelmente se tornará um estudo de caso marcante da eficácia dos LBOs.

Claro, a presença de Musk significa que a compra não se trata de uma coisa só, então vamos examinar a matemática. Musk diz que está prometendo US$ 21 bilhões de seu próprio dinheiro e provavelmente venderá uma parte das ações da Tesla para levantar esses fundos. Os bancos vão lhe emprestar US$ 12,5 bilhões, garantidos por US$ 62,5 bilhões adicionais de suas ações da Tesla (TSLA). O restante do preço de compra e outros custos serão financiados por US$ 13 bilhões em dívidas que o Twitter assumirá. No final das contas o Twitter terá cerca de US$ 1 bilhão em pagamentos de juros devidos anualmente.

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Será viável na prática uma transação dessas? É provável que sim. Os fluxos de caixa do Twitter (o dinheiro que entra antes de contabilizar juros, impostos, depreciação e amortização) são projetados em cerca de US$ 1,43 bilhão este ano e US$ 1,85 bilhão em 2023. Portanto, os pagamentos de dívidas consumirão uma grande parte do dinheiro do Twitter. Proprietários de imóveis submersos em um financiamento gigantesco e pagamentos de juros relacionados poderão simpatizar com a situação financeira em que o Twitter está sendo colocado agora por Musk, que também terá cerca de US$ 1 bilhão em pagamentos de juros e, se as ações da Tesla navegarem por águas turbulentas, ele poderá se encrencar, mas vamos deixar a carteira dele fora da conversa por enquanto. O próprio Twitter terá que trabalhar a todo vapor para ganhar o dinheiro necessário para ser lucrativo e autossuficiente.

Portanto, haverá pressão sobre Musk para que as finanças funcionem. O que se diz é que ele tem grandes planos para fazer isso, o que até agora parece equivaler a uma carta secreta na manga, que ele só mostrou recentemente a seus apoiadores. Mas ele também disse que não está interessado no Twitter por razões econômicas, o que acabou gerando uma certa resistência por parte de alguns financiadores em potencial. O acordo “não faria muito sentido para a maioria dos investidores de private equity”, segundo a Bloomberg News.

Mas Musk influenciou o Morgan Stanley (MS), o Bank of America (BAC), o Barclays (BCS) e outros grandes players, em parte por causa do que a Bloomberg News descreveu como seu “entusiasmo pelo negócio”. O entusiasmo só leva você até certo ponto, mas grandes instituições como o Morgan Stanley presumivelmente fizeram sua due dilligence. Ou talvez eles também queiram ficar nas boas graças de Musk para que possam estar bem posicionados para se beneficiar do fluxo de negócios da Tesla? Talvez um pouco de ambos? O tempo vai dizer. Os investidores expressaram algum otimismo, elevando o preço das ações em mais de 3% na segunda-feira (25), embora ainda esteja abaixo do preço de oferta de US$ 54,20 por ação.

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Musk ainda não forneceu detalhes significativos sobre o que exatamente ele fará para acelerar os mecanismos do Twitter. Ele tem sido um líder eficaz e ousado na Tesla – mas a Tesla fabrica veículos elétricos; não é uma empresa de mídia. A proeza gerencial geralmente não se traduz em diferentes ramos de negócios. E as empresas de mídia acharam a era digital desafiadora, com a publicidade evaporando ou encontrando novos canais e a receita de assinatura difícil de controlar.

As empresas de mídia também prestam um serviço público. Em um mundo ideal, as empresas de mídia responsáveis mantêm os usuários informados, monitoram a maneira como o poder é usado e como a sociedade evolui e fornecem fóruns para ideias. Musk usou as mídias sociais para brincar com seus interesses comerciais, trollar aqueles de quem não gosta e entrar em conflito com a lei e os reguladores. Nada disso é uma receita para o gerenciamento de mídia esclarecido. Como também aprendemos com as inúmeras dificuldades do Facebook e do Twitter no monitoramento de propaganda e desinformação, as empresas de mídia social precisam fazer um trabalho melhor para verificar as informações em suas plataformas. Musk não mostra nenhum sinal de estar à altura dessa tarefa.

Sim, pode ser até divertido assistir Musk fazer suas coisas e interessante (e muitas vezes perturbador) ver o quanto suas atitudes são muitas vezes inconsistentes, mas as empresas de mídia são importantes. Elas moldam o diálogo público e as conversas privadas. Além disso, o preço da brincadeira e da chacota é superior a US$ 43 bilhões.

Timothy L. O’Brien é colunista sênior da Bloomberg Opinion.

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Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

– Esta coluna foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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