(Bloomberg) -- A longa lista de preocupações para os gestores de mercados emergentes corre o risco de se expandir ainda mais com rendimentos reais positivos nos EUA, que pioram uma perspectiva já obscurecida pela desaceleração do crescimento e pela guerra na Ucrânia.
Os primeiros sinais de alerta vieram na semana passada, quando o yield ajustado pela inflação dos títulos do Tesouro americano de 10 anos subiu brevemente acima de zero pela primeira vez em dois anos.
Embora o nível não tenha se mantido por muito tempo, sinalizou uma virada. A era dos rendimentos negativos que levaram os investidores a correr para os mercados emergentes em busca de retornos mais altos pode estar chegando ao fim, à medida que o Federal Reserve aumenta juros de forma agressiva.
Um aumento sustentado e significativo dos rendimentos reais nos EUA seria uma má notícia para os países em desenvolvimento, pois normalmente puxa uma alta do dólar e suga capital de ativos mais arriscados, como aconteceu em 2008 e 2013.
Os investidores já se preparam para esse resultado: a Franklin Templeton corta posições em dívidas de alto rendimento, enquanto a Fidelity International aposta contra moedas de mercados emergentes e a State Street evita dívidas locais de nações com finanças fracas.
“À medida que os rendimentos dos EUA entram em território positivo, isso começa a apertar as condições financeiras e pressiona muitos mercados emergentes, particularmente os mais fracos”, disse. Mohieddine Kronfol, diretor de investimentos de renda fixa para Oriente Médio e Norte da África na Franklin Templeton. “Ainda achamos que há muito com o que se preocupar, desde crescimento à geopolítica e da inflação à política monetária”.
Não se trata apenas da chegada de rendimentos reais positivos nos EUA, mas do fato de que chegam em um momento ruim para os mercados emergentes. A inflação no mundo em desenvolvimento permanece alta no segundo trimestre, o que desmente a expectativa de alguns gestores de que atingiria o pico no final de março.
Isso significa que levará ainda mais tempo antes que as próprias economias emergentes possam oferecer aos investidores juros reais positivos, o que os deixa em desvantagem em relação aos EUA. Até 35 das 42 nações monitoradas pela Bloomberg têm taxas negativas. Os 47% negativos da Turquia são a pior taxa real do mundo.
“Estávamos esperando que a inflação dos mercados emergentes começasse a atingir o pico já no primeiro trimestre, mas ficou impossível prever após o forte aumento nos preços das commodities com a guerra na Ucrânia”, disse Guido Chamorro, co-diretor de dívida em moeda forte de mercados emergentes na Pictet Asset Management.
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