Twitter pode elevar Musk a status de magnata da mídia

Com a compra da plataforma de mídia social por US$ 44 bilhões, Elon Musk pode colocar em prática suas intenções ao fechar o capital da empresa

Elon Musk opinó sobre compra de Twitter tras veto a Babylon Bee
Por Brad Stone
25 de Abril, 2022 | 05:00 PM
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Bloomberg — No domingo (24), Elon Musk se reuniu com executivos do Twitter (TWTR) para discutir sua oferta de compra da empresa. Mas há outros interesses que devem ser levados em consideração nessa mistura já explosiva, como, por exemplo o bem-estar da democracia nos Estados Unidos e no exterior.

Musk deixou claro que seu principal objetivo ao comprar o Twitter é apoiar a expressão irrestrita e reduzir a suspensão de usuários ou a remoção de tweets. “É muito importante que haja um espaço inclusivo para a liberdade de expressão”, disse ele este mês durante entrevista em um TED Talk. “O Twitter se tornou uma espécie de praça pública, então é muito importante que as pessoas tenham a realidade e a percepção de que podem falar livremente dentro dos limites da lei.”

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Embora seu próprio histórico em tolerar discursos críticos de seus interesses seja duvidoso, Musk acrescentou: “Um bom sinal de liberdade de expressão é perguntar a si mesmo: alguém de quem você não gosta pode dizer algo que você não gosta? Se for o caso, então temos liberdade de expressão.”

Por trás desse objetivo aparentemente louvável está o destino da famosa conta no Twitter de um certo ex-presidente dos EUA e provável futuro candidato presidencial. O Twitter, como você deve se lembrar, baniu permanentemente Donald Trump do serviço em 8 de janeiro de 2021, “devido ao risco de mais incitação à violência” após a invasão ao Capitólio dias antes.

Musk disse que prefere ficar fora da política, mas há boas razões para suspeitar que, com o Twitter se tornando de sua propriedade, a empresa reativaria a conta do presidente Trump. Além de dizer no TED Talk que quer ser “muito cauteloso com vetos permanentes”, Musk aplaudiu o ex-presidente há dois anos, quando Trump endossou os planos de Tesla (TSLA) de reabrir uma fábrica de automóveis na Califórnia durante o lockdown pela covid-19. Em tweets recentes, Musk parecia estar adotando a perspectiva de direita da Fox News em várias questões culturais cruciais (“a mentalidade da lacração está tornando a Netflix inacessível”, publicou Musk na semana passada).

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Essas são todas as razões pelas quais, como escreveu a plataforma Politico, os conservadores adotaram Musk como o salvador do Twitter.

Musk também tem sido um importante doador para a União Americana das Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês). O grupo escreveu sobre as vantagens de preservar o discurso político de todos os candidatos para ajudar os eleitores e os tribunais a tomarem decisões mais informadas. A organização de direitos civis outrora associada a um liberalismo fraco (na época de Bush contra Dukakis) agora aponta que todas as figuras políticas devem ter acesso irrestrito às mídias sociais, não importa os riscos.

É por isso que a oferta de Musk parece muito mais do que uma aquisição barata do Twitter. É também uma aquisição política, semelhante ao acordo de Rupert Murdoch em 1976 para a compra do New York Post e a compra do The Wall Street Journal em 2007. Musk, pessoa mais rica do mundo e que disse que “não se importa com a parte econômica” de comprar o Twitter, pretende adquirir um tipo diferente de poder: o controle de um dos maiores megafones do mundo e a capacidade de impor sua ideologia libertária sobre questões de moderação e desinformação.

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Assim como Murdoch é acusado de usar seus meios de comunicação para defender seus interesses comerciais, Musk também terá não apenas razões éticas, mas também fortes motivos financeiros para permitir que algumas dessas vozes anteriormente proibidas voltem à plataforma. Por exemplo, se Trump for reeleito e a Tesla tentar restabelecer os créditos fiscais federais para seus veículos elétricos, Musk poderá enfrentar a tentação de restabelecer a conta do presidente, se ainda não o fez. Com mais de 80 milhões de seguidores, ele já usa o Twitter como um poderoso mecanismo de marketing para seus negócios.

A pressão será ainda mais significativa fora dos EUA. Em 2020, o Twitter disse que começaria a rotular contas de determinados funcionários do governo chinês e meios de comunicação ligados ao estado como “mídia afiliada ao estado”, além de garantir que os tweets desses perfis não fossem amplificados. O governo chinês certamente odeia essas restrições. Pode-se dizer que suprimir declarações do governo contamina o discurso de liberdade de expressão, mas a Tesla também tem importantes objetivos comerciais na China e precisa do apoio do presidente Xi Jinping.

Tudo isso lembra a compra do Washington Post por Jeff Bezos em 2013, quando o fundador da Amazon (AMZN) prometeu não se intrometer nas decisões editoriais da redação. Quaisquer que fossem suas razões para comprar o jornal – vaidade, visibilidade ou interesse em resgatar uma grande instituição americana – ele parece ter cumprido sua promessa.

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Musk está prometendo exatamente o oposto: ele vai se envolver. Portanto, o que ele fizer para permear sua própria ideologia no Twitter, isso não afetará apenas os usuários e acionistas das redes social, mas todos nós.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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