Bloomberg Línea — Os salários dos presidentes latino-americanos mostram uma grande divergência, com o valor líquido variando de quase US$ 4 mil até US$ 11 mil por mês (convertido para a moeda americana em 19 de abril de 2022). Embora os presidentes tenham remunerações bem acima da média, não chegam a patamares milionários como acontece, por exemplo, com atletas de elite.
A Bloomberg Línea preparou uma pesquisa sobre quanto os líderes da região ganham por mês e destacou alguns dados relevantes. Por exemplo, o maior salário é disputado entre Luis Lacalle Pou, do Uruguai, e Alejandro Giammattei, da Guatemala.
Enquanto isso, as remunerações de Luis Arce na Bolívia, Pedro Castillo, no Peru, e Alberto Fernández, na Argentina, aparecem no patamar mais baixo.
Por outro lado, o salário líquido de Jair Bolsonaro, do Brasil, é um dos mais modestos, embora o valor que ele recebe aumente com sua renda de aposentadoria como militar.
Um caso à parte é o de Guillermo Lasso (Equador) e Luis Abinader (República Dominicana), que declaram doar seus salários.
Confira as remuneração dos chefes de estado na região:
Luis Lacalle Pou, Uruguai
Atualmente, o presidente do Uruguai recebe uma receita bruta de 864.739,08 pesos uruguaios (US$ 20.956,95), mas quando os descontos são aplicados, sua receita líquida é de 449.633,90 pesos uruguaios (US$ 10.896,87), segundo dados divulgados pela Presidência do Uruguai que podem ser consultados online.
O valor implica que o salário bruto de Lacalle Pou é o mais alto para um presidente da região.
Alejandro Giammattei, Guatemala
Em março de 2020 (o último registro atualizado acessado pela Bloomberg Line), o presidente guatemalteco ganhou 33.588 quetzales (US$ 4.388,23) em salário-base, 1.250 quetzales (US$ 163,31) como bônus monetário SAAS e 115.000 quetzales (US$ 15.024,61) para despesas de representação. Os dados foram fornecidos pela Secretaria de Assuntos Administrativos e de Segurança da Presidência da República.
Em outras palavras, o salário bruto do presidente guatemalteco era, na data do último registro, de cerca de US$ 19.576,15. O inconveniente de determinar o maior salário da região é que, ao contrário do que acontece com Lacalle Pou, seu patrimônio não é detalhado.
Gabriel Boric, Chile
O recém-empossado presidente do Chile também é um dos líderes mais bem pagos da região. O último salário bruto informado pelo Estado foi o recebido por seu antecessor, Sebastián Piñera, em fevereiro de 2022, e atingiu 8.748.872 pesos (US$ 10.673,62).
Em termos líquidos, e considerando que se mantém a remuneração de Piñera (não houve informação em contrário), Boric ganha 6.887.985 pesos chilenos, ou seja, US$ 8.403,34. A remuneração do presidente chileno pode ser conferida através do Portal da Transparência da Presidência da República.
Iván Duque, Colômbia
O presidente da Colômbia, Iván Duque, recebe um salário bruto de 37.911.313 pesos colombianos (US$ 10.170,33). Em números líquidos, o presidente fica com cerca de 27.975.313 pesos colombianos (US$ 7.504,83).
A Bloomberg Línea revisou a remuneração do presidente colombiano, que foi fornecida pela equipe de recursos humanos da Presidência.
Andrés Manuel López Obrador, México
No que diz respeito ao salário do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, há uma divergência, embora não muito grande, entre dois registros. De acordo com a Folha de Pagamento Transparente (da Secretaria de Administração Pública), o presidente da segunda maior economia da América Latina recebe cerca de 166.532 pesos mexicanos como salário bruto, ou seja, US$ 8.317,27. Em termos de salário líquido, esse valor se traduz em 115.739 pesos mexicanos (ou US$ 5.780,47).
O curioso no caso do México é que há um segundo valor e é o fornecido pelo Orçamento de Despesas da Federação de 2022, que indica que AMLO recebe 162.311 pesos mexicanos em salário bruto (US$ 8.106,46) e 112.122 pesos mexicanos (US$ 5.599,82) em valores líquidos.
Carlos Alvarado Quesada, Costa Rica
O presidente cessante da Costa Rica, Carlos Alvarado Quesada, recebe um salário bruto de 4.793.123 colones, ou seja, US$ 7.359,42. Em termos líquidos, o presidente costarriquenho, que termina seu mandato em 8 de maio, fica com 3.574.614,36 colones (equivalentes a US$ 5.488,50).
O salário do Presidente da Costa Rica foi fornecido pela Direção Geral da Casa Presidencial.
Laurentino Cortizo, Panamá
O presidente panamenho, Laurentino Cortizo, ganha US$ 7 mil brutos por seu trabalho, que são distribuídos da seguinte forma: US$ 4 mil por seu trabalho como presidente e US$ 3 mil por despesas de representação. Os dados da própria Presidência.
Os registros existentes não permitem o desdobramento do salário bruto em líquido de Cortizo. De qualquer forma, seu salário base pode ser consultado no site da presidência, assim como os rendimentos das despesas de representação.
Jair Bolsonaro, Brasil
O presidente da principal economia da América Latina, Jair Bolsonaro, recebe salário bruto de R$ 30.934,70, cerca de US$ 6.629,10. Em termos líquidos, Bolsonaro recebe R$ 23.453,43, ou US$ 5.025,91, segundo o Portal da Transparência da Presidência da República.
A remuneração do presidente brasileiro convertida em dólares foi favorecida pelo rali que o real vem passando.
Bolsonaro, diferentemente de outros líderes, tem outra renda: remuneração por ter sido militar. Esse extra permite que ele receba mais R$ 11.324,96 (US$ 2.426,86) em termos brutos. Em termos líquidos, ele fica com R$ 8.580,77 (US$ 1.838,80), então no total ele acaba recebendo mais de R$ 30 mil reais líquidos (US$ 6.428,80) entre as duas rendas.
Alberto Fernández, Argentina
Apesar de comandar a terceira maior economia da região, o salário líquido de Alberto Fernández, presidente da Argentina, está abaixo da média de seus colegas.
O presidente recebe uma remuneração bruta de 673.239,96 pesos argentinos (US$ 5.650,56), que se reduz a 434.704,43 pesos (US$ 3.648,511) em termos líquidos, segundo informado pela Presidência.
No entanto, duas considerações podem ser feitas a esse respeito. Por um lado, a moeda argentina se desvaloriza nominalmente todos os dias, já que existe um regime cambial nesse sentido para evitar uma valorização real.
Por outro lado, na Argentina os preços alternativos do dólar têm grande preponderância, já que há um rígido controle cambial. Se o salário do presidente for calculado com base no preço que se obtém ao comprar um título em pesos e vendê-lo em dólares (conhecido no país como dólar MEP), o valor bruto é de US$ 3.495,72 e o valor líquido é de US$ 2.237. 74.
Xiomara Castro, Honduras
No caso de Honduras, em 24 de fevereiro, a ministra da Fazenda do país, Rixi Moncada, informou à mídia que a presidente Xiomara Castro recebeu um salário bruto de 137.600 lempiras, ou seja, US$ 5.609,54. Em termos líquidos, ele tem 95.750,54 lempiras sobrando, ou seja, US$ 3.914,72.
Os salários divulgados oficialmente pela Presidência vão até setembro de 2021, quando Castro ainda não havia chegado ao poder. De qualquer forma, o salário bruto presidencial naquela época era de 137,8 mil lempiras, então a diferença em relação ao número divulgado por Moncada é ínfima.
O governo de Honduras vem propondo que nenhum funcionário possa ganhar mais que o presidente, embora antes do pedido nenhum dado de seu salário havia sido informado às fontes oficiais.
Abdo Benítez, Paraguai
Por sua vez, o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, recebe um salário bruto de 37.908.800 guaranis (US$ 5.532,42).
O salário é dividido em 4.123.392 guaranis para despesas de representação e 33 milhões de guaranis para o salário base. As informações divulgadas não permitem calcular o salário líquido.
Os dados foram fornecidos à Bloomberg Línea pela equipe de Acesso à Informação Pública do Paraguai.
Nayib Bukele, El Salvador
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, recebe um salário bruto de US$ 5.181,72. No caso dele, também não foi possível determinar quanto o presidente recebeu em termos líquidos.
A remuneração de Bukele pode ser conferida no portal da Transparência da Presidência da República.
Pedro Castillo, Peru
O atual presidente do Peru, Pedro Castillo, havia garantido assim que assumiu o cargo que ia baixar seu salário e receber o mesmo que professor. No entanto, isso ainda não aconteceu.
Contudo, seu salário em dólares é o mais baixo de todos os obtidos oficialmente pela Bloomberg Línea.
O Gabinete Presidencial confirmou que Castillo ganha 16.000 soles (US$ 4.285,94) brutos por mês e, após as deduções, sua renda líquida é de 11.760,86 soles (US$ 3.150,39).
“Vamos elaborar um projeto de lei para ver como os funcionários e ministros, começando pela Presidência da República e nossos colegas parlamentares, recebem um corte salarial”, prometeu o presidente peruano.
Luis Arce, Bolívia
Antes do mandato do presidente boliviano Luis Arce, o ex-presidente Evo Morales, em 2018, se gabava de ser o presidente mais mal pago da América Latina e até estimava ter o “menor salário do mundo”. O salário bruto situava-se, segundo informações, em 24.251 bolivianos (pouco mais de US$ 3.535).
Durante o mandato de transição de Jeanine Áñez, surgiram relatos nas redes sociais de que a então presidente havia aumentado seu salário, mas fontes do site de checagem de fatos Chequea Bolívia explicaram à Bloomberg Línea que se tratava de um boato.
A Presidência da Bolívia foi consultada para cotejar esses dados, e eles indicaram que o artigo 2 do decreto nº 3545 diz: “A escala salarial é estabelecida para as mais altas autoridades do órgão executivo do nível central do Estado, com um salário base de a) Presidente do Estado Plurinacional Bs 24.251, b) Vice-Presidente do Estado Bs 22.904″.
Daniel Ortega, Nicarágua
O governo nicaraguense não respondeu aos pedidos da Bloomberg Línea com relação ao salário presidencial. No entanto, uma investigação recente do jornal Confidencial indica que o presidente Daniel Ortega ganhou cerca de US$ 4.200 em 2018.
Venezuela e Cuba
Os governos da Venezuela e de Cuba não forneceram informações sobre a renda dos presidentes.
Filantropos
Luis Abinader, República Dominicana
A Bloomberg Línea registrou dois casos de dirigentes que afirmam doar sua remuneração por ocupar as mais altas magistraturas de seus respectivos países.
Por um lado, há o caso de Luis Abinader, presidente da República Dominicana. Um artigo do jornal Diario Libre, publicado em outubro de 2021, detalha: “Segundo dados oficiais, Abinader ‘cedeu’ seus quatro primeiros pagamentos de 2020 (após assumir o cargo em agosto daquele ano), no valor de 1.360.000 pesos dominicanos, e nove meses de salário de 2021, por um valor de 3.314.014,23 pesos dominicanos.
Esses valores permitem inferir que o salário líquido atual do presidente é de 368.223,80 dominicanos, aproximadamente US$ 6.697,57. Enquanto isso, o salário bruto do Presidente da República Dominicana estabelecido pela Constituição Nacional é de 450.000 dominicanos.
O artigo do Diario Libre acrescenta: “Em 7 de janeiro de 2021, o Conselho Nacional de Cegos recebeu 340 mil pesos correspondentes ao terceiro salário que Abinader ganhou em 2020, como ajuda para o grupo musical de cegos La Luz del Sonido e as despesas operacionais da entidade. No mesmo dia, 340 mil pesos foram transferidos em nome do asilo San Lucas, destinado à compra de três camas, duas máquinas de lavar, uma secadora e uma geladeira.
Enquanto isso, Abinader doou seus primeiros nove salários do ano de 2021 para nove organizações sociais, esportivas e religiosas.
Guillermo Lasso, Equador
Quem também doa sua remuneração para fins beneficentes é o equatoriano Guillermo Lasso. Em 24 de fevereiro de 2022, o presidente cumpriu sua promessa de campanha e, ao assinar uma escritura pública, doou seu salário líquido acumulado dos primeiros seis meses à frente do governo.
A doação relatada pelo próprio presidente chegou a US$ 36.352,26.
O salário bruto de Lasso, conforme informado no site de transparência da Presidência do Equador, é de US$ 5.072 ao mês, aos quais se somam US$ 1.374,25 de conceitos adicionais (totalizando cerca de US$ 6.446,25 brutos).
O dinheiro foi para a Fudrine, uma organização privada sem fins lucrativos com 26 anos de experiência no trabalho com crianças com Paralisia Cerebral (CMI) e Síndrome de Down.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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