Real sofre maior queda em dois anos

Operadores temem que BC adote postura mais dovish, seguindo a tendência do Fed

Mídia local informou que o presidente do BC fez comentários mais moderados em reuniões privadas em Washington
Por Aline Oyamada - Josue Leonel
22 de Abril, 2022 | 05:17 PM

Bloomberg — O real sofreu seu pior dia em quase dois anos, com os operadores temendo que o banco central esteja pronto para uma mudança para uma postura “dovish”, conforme o Federal Reserve americano dobra os sinais de aperto.

A moeda enfraqueceu 4%, a maior queda diária desde março de 2020 e a maior queda entre todas as moedas do mundo, com a reabertura dos mercados locais após o feriado de Tiradentes. O dólar à vista fechou a R$ 4,8172 nesta sexta-feira, quebrando o nível técnico de R$ 4,80 por dólar que vinha limitando as negociações nas últimas semanas.

PUBLICIDADE

Investidores brasileiros reduziram as apostas mais agressivas em aumentos das taxas de juros depois que a mídia local informou que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez comentários mais moderados em reuniões privadas em Washington. A autoridade monetária sinalizou o fim de um ciclo de aperto que se arrastou por um ano após a última alta de um ponto em maio, mas na semana passada os traders começaram a apostar em uma alta adicional de meio ponto em junho, depois que Campos Neto disse que ele ficou surpreso com o aumento da inflação em março.

Ao mesmo tempo, os traders aumentaram as apostas no aumento das taxas de juros dos EUA após comentários na quinta-feira do presidente do Fed, que disse que um aumento de 50 pontos base é possível no próximo mês.

“Isso é um reflexo das narrativas divergentes dos banqueiros centrais, com Powell sinalizando um endurecimento enquanto Campos Neto segue o outro caminho”, disse Marcos Ross, economista-chefe do Banco Haitong em São Paulo. O presidente do Banco Central do Brasil “parece estar mais confortável do que o mercado com a inflação atual”.

PUBLICIDADE

Os ativos dos países em desenvolvimento estão sendo atingidos pelas apostas em um ritmo mais agressivo de aumentos de juros por parte do Federal Reserve e do Banco Central Europeu. Na quinta-feira, Powell delineou sua abordagem mais agressiva até agora para conter a inflação, levando os mercados monetários a precificar em 200 pontos-base de aperto para setembro.

Enquanto isso, o Banco Central do Brasil está se preparando para encerrar seu ciclo de aumento de juros de um ano, que levou a taxa de referência de uma baixa recorde de 2% para 11,75%. Preço das taxas de swap em alta de um ponto em maio e 45 pontos base de endurecimento adicional em junho.

Embora o real tenha resistido a ventos contrários externos devido ao seu alto carry – a taxa básica de juros do Brasil é quase seis vezes a taxa de fundos do Federal Reserve – seu desempenho estelar até agora este ano deixa espaço para a realização de lucros. Mesmo após a correção de sexta-feira, a moeda subiu 15,8% este ano, o maior ganho entre as principais moedas do mundo.

PUBLICIDADE

“Houve uma grande liquidação hoje”, disse Brendan Mckenna, estrategista do Wells Fargo em Nova York. “Parte disso é que a moeda está se recuperando depois de fechar ontem, mas parece que os mercados estão respondendo a um Powell agressivo de ontem.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

PUBLICIDADE

Risco de recessão cresce com aperto do Fed, dizem banqueiros

EUA estudam reduzir tarifas sobre produtos chineses, diz Yellen