Brasileiro comprou mineradora australiana para controlar jazida de ouro no Nordeste

Controlada pelo empresário Paulo Carlos de Brito, Aura Minerals paga R$ 313 milhões em empresa australiana para assumir depósito confirmado de 56 toneladas de ouro

Empresa assume mina no Rio Grande do Norte e deve começar investimentos para extração até meados de 2023
21 de Abril, 2022 | 02:52 PM

Bloomberg Línea — A Aura Minerals (AURA33) acaba de assumir uma nova mina no país, dessa vez, no Rio Grande do Norte, que está entre as 10 maiores reservas conhecidas do mineral do Brasil. Para levar o ativo, a empresa teve que desembolsar 91,7 milhões de dólares australianos, pouco mais de R$ 313 milhões, para comprar 100% das ações da australiana Big River Gold, dona da mina no Brasil.

O negócio envolve ainda a Dundee Resources, uma das maiores acionistas da Big Rivers, que passará a ser sócia da Aura, com uma fatia de 20% da holding que vai controlar a empresa australiana. Com a operação, a Big River, hoje listada na bolsa do Canadá, terá seu capital fechado.

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O alvo da aquisição, de fato, é a mina do projeto Borborema, no município de Currais Novos, no Rio Grande do Norte, a cerca de 170 quilômetros de Natal. Com o plano geológico realizado, já licenciada e com depósito de ouro confirmado, a mina tem um estoque de 1,87 milhões de onças, cerca de 56 toneladas de ouro, segundo os estudos realizados pela Big Rivers, que serão ainda revistos e confirmados pela Aura.

“Após aprovada a aquisição, vamos trabalhar para otimizar o projeto de construção da fábrica que já existe para tentar iniciar as obras ainda no primeiro semestre de 2023″, afirma Rodrigo Barbosa, CEO da Aura, em entrevista à Bloomberg Línea. Apesar de não confirmar o quanto a empresa pretende investir na construção da fábrica, a Big River já havia apresentado a investidores uma projeção entre US$ 94 milhões e US$ 98 milhões em investimento para a construção e custos operacionais.

Quem é a Aura Minerals

A Aura é uma empresa com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, escritório corporativo em Miami, listada no Canadá e com BDR’s emitidas na B3 e controlada por brasileiros desde 2016. Conforme seu formulário de referência, o empresário Paulo Carlos de Brito, fundador da Cotia Trading e da mineradora Santa Elina, aparece como detentor de 50,985% das ações da Aura por meio da Northwestern Enterprises. Outros 4,824% estão nas mãos de seu filho, Paulo Carlos de Brito Filho, por meio da Conway Holding e 43,516% estão em circulação na bolsa canadense. Antes disso, a Aura era controlada pelo grupo canadense Yamana Gold.

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No ano passado, a empresa registrou um faturamento de R$ 2,4 bilhões, com um crescimento de 52,9% em comparação aos resultados de 2020. Apesar da receita maior, a companhia viu seus gastos gerais e com exploração aumentarem no ano passado, o que acabou por reduzir seus resultados finais. O lucro líquido da Aura caiu 37,6% para R$ 240,37 milhões em 2021.

A aquisição do projeto no Rio Grande do Norte eleva para quatro o número de minas de ouro que a empresa tem no Brasil. A companhia já explora uma mina em Pontes e Lacerda, em Mato Grosso, e deve iniciar as obras de uma segunda unidade em Matupá para exploração de uma nova área, com potencial para 50 mil onças, onde devem ser investidos US$ 70 milhões. Além disso, está em fase de construção uma nova fábrica no Tocantins, no município de Almas, a 300 quilômetros a sudeste de Palmas, que deve produzir outras 50 mil onças de ouro, com investimentos de US$ 73 milhões.

Mas as operações da Aura não estão restritas ao Brasil. A empresa opera uma mina de ouro em San Andrés, em Honduras, e outra de ouro, cobre e prata em Aranzazu, no México. Além disso, tem projetos de ouro em Tolda Fria, na Colômbia e no Arizona, nos Estados Unidos. Hoje, 76% da receita da empresa é proveniente da exploração de ouro e os demais 24% de cobre.

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O mercado de ouro

O ouro foi uma das commodities que mais se valorizou nos últimos meses devido ao aumento da procura de investidores pelo mineral como forma de proteção da inflação. A demanda se intensificou com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que aumentou a tensão geopolítica mundial, elevando as incertezas entre os investidores.

Questões geopolíticas e inflação são duas variáveis importantes que historicamente criaram um cenário de aumento dos preços do ouro. Hoje, temos essas duas variáveis acontecendo ao mesmo tempo”, afirma Barbosa. Segundo o executivo, a China tem se posicionado como importante player do mercado, permanecendo entre os maiores produtores e importadores de ouro do mundo, tendo como estratégia elevar suas reservas do minério e diminuir sua exposição em dólar.

Ele lembra que o Brasil já foi um grande produtor de ouro, mas caiu no ranking global pela falta de investimentos provocada pelas elevadas taxas de juros. Ainda assim, permanece entre os 10 maiores do mundo. “A exploração de ouro exige altos investimentos, principalmente na fase inicial e tem um risco considerável. Contudo, Chile e Peru, dois concorrentes diretos do Brasil na produção, estão revendo suas legislações sobre a mineração de ouro o que tende a afastar os investidores e o Brasil pode ser um novo alto para esse capital”, diz Barbosa.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.