Bloomberg — A guerra na Ucrânia pressionará ainda mais os países importadores de grãos da África e da Ásia, já que um número reduzido de navios para entrega de cargas aumenta o custo do frete, de acordo com o chefe da Câmara Internacional de Navegação.
Cerca de 80 a 100 navios, principalmente graneleiros, não conseguem deixar as águas ucranianas há quase dois meses devido a minas submarinas e bloqueios militares, disse o presidente da organização, Esben Poulsson, em entrevista.
As taxas de frete a granel estão aumentando à medida que armadores e afretadores precificam o fato de que os navios ficarão presos por períodos mais longos.
Os fluxos comerciais de grãos estão passando por mudanças significativas, disse ele, e a distância que os navios terão que percorrer para levar remessas das Américas aos clientes é maior que as viagens partindo do Mar Negro.
“Isso terá repercussões para os países mais pobres da África, que mal podem pagar grandes quantias a mais por seus grãos”, disse Poulsson.
A guerra na Ucrânia abalou o comércio global de grãos de US$ 120 bilhões à medida que as entregas da região produtora do Mar Negro se tornam cada vez mais complicadas. Alternativas estão surgindo, com produtores nas Américas enviando cargas para clientes na África e no Sudeste Asiático, alguns pela primeira vez em anos.
A China está aumentando as compras de milho dos Estados Unidos, ao passo que o Brasil está enviando trigo para lugares como Turquia, África do Sul e Sudão.
Um aumento nas taxas de frete pode aumentar ainda mais os custos dos alimentos, gerando mais pressão inflacionária para consumidores e agravando a crise global da fome. Um índice das Nações Unidas de preços dos alimentos já está em nível recorde, e o impacto é sentido mais nos países pobres, onde os mantimentos representam uma grande parte dos orçamentos dos consumidores.
“As taxas de frete permanecerão altas e podem subir um pouco mais”, disse Poulsson, cuja organização representa armadores e operadores que cobrem cerca de 80% do comércio mercantil mundial. “Mas será volátil porque as coisas podem mudar.”
O Baltic Dry Index, referência amplamente observada para taxas de frete a granel, oscilou bruscamente no último ano, atingindo uma máxima de 13 anos em outubro devido à escassez de produção de matérias-primas, e depois despencou quando as restrições da China à poluição de fábricas enfraqueceu a demanda por minério de ferro. O indicador registra alta de 65% desde sua mínima em janeiro.
Além da situação na Ucrânia, as taxas de frete também estão sendo afetadas pelos esforços da China para combater a propagação da covid-19. Centenas de navios a granel estão enfrentando atrasos na costa da China, com lockdowns em cidades como Xangai.
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