Bloomberg — Robin Brooks fala no tom sóbrio de um economista com PhD que dedicou grande parte de sua carreira a calibrar modelos de valor justo para taxas de câmbio. Foi, portanto, um choque quando de repente ele virou uma sensação nas redes sociais no Brasil.
Brooks é uma raridade nos círculos financeiros: há tempos ele diz que o real deveria estar mais valorizado. Mesmo nos piores momentos do colapso da moeda brasileira durante a pandemia, Brooks manteve sua opinião, fazendo dele o rosto público de um rali vertiginoso que transformou o real na moeda de melhor desempenho entre as maiores do mundo esse ano.
Para seus seguidores no Twitter no Brasil, onde observar a taxa de câmbio é uma espécie de obsessão nacional, Brooks é simplesmente “o careca”, ou às vezes “o careca do Goldman”. Na verdade, ele não trabalha no Goldman Sachs (GS) há cinco anos, mas, de qualquer forma, esse título soa melhor do que o “careca do Institute of International Finance”, onde atualmente atua como economista-chefe.
Seus posts no Twitter sobre o real são imediatamente recebidos com milhares de curtidas e dezenas de respostas que dizem “In careca we trust”, que se tornaram uma espécie de marca registrada de seus seguidores. Trata-se de um trocadilho com o lema americano “In God we trust” impresso no dólar.
Os mais fanáticos twittam fotos de photoshop retratando-o como um boxeador ou GIFs elogiando-o como “o homem, o mito, a lenda”.
A família de Brooks, diz ele, está pasma com sua fama. “Meus filhos dizem: ‘O que é isso? Esse é o nosso pai idiota.”
Alguns de seus críticos, que são muitos, usam linguagem semelhante para descrever sua análise. Eles tiram sarro de como sua estimativa de valor justo para a taxa de câmbio - R$4,5 por dólar - não mudou em mais de dois anos, apesar de todas as reviravoltas na economia local e nos mercados globais.
Os críticos também apontam que a estimativa otimista teve a sorte de coincidir aleatoriamente com duas grandes forças que impulsionam os ganhos da moeda: aumentos agressivos das taxas de juros pelo banco central e um boom repentino na demanda global pelas exportações de commodities do Brasil.
Para Brooks, porém, esses desenvolvimentos refletem apenas sua crença de longa data de que os fundamentos econômicos e de comércio exterior do país estão melhorando e que a moeda continua mais fraca do que deveria, mesmo depois de se fortalecer 19% este ano, para R$ 4,70 por dólar.
Sua projeção, no entanto, continua fora do consenso. A maioria dos analistas consultados pela Bloomberg prevê que o real vai enfraquecer até o fim do ano.
Logo depois que Brooks divulgou sua estimativa de valor justo para o real, a pandemia começou e os investidores começaram a sacar dinheiro do Brasil de forma tão rápida que o economista diz ter pensado que o computador em que acompanhava os números de fluxo estava quebrado.
Essas saídas de dólares, diz Brooks, juntamente com as críticas mordazes que ele via os brasileiros fazerem contra seus líderes políticos no Twitter, reforçaram sua visão da moeda brasileira. “Geralmente para mim isso é um sinal de que há exagero. Talvez o real esteja muito barato.”
Nascido e criado na Alemanha, Brooks, de 51 anos, estudou na London School of Economics e na Universidade de Yale antes de trabalhar no Fundo Monetário Internacional, Brevan Howard e Goldman Sachs, onde foi o principal estrategista de câmbio da empresa.
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