O que diz o mercado sobre o novo CEO da Petrobras, José Mauro Coelho

Ações fecham em queda no dia da posse de José Mauro Coelho, enquanto analistas descartam mudanças na política de preços

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São Paulo — O novo CEO da Petrobras, José Mauro Coelho, tomou posse nesta quinta-feira (14), sem despertar no mercado expectativas de um abandono da atual política comercial de cálculo dos preços dos combustíveis, pivô da disparada dos custos de empresas e consumidores e dos índices de inflação.

Em seu primeiro discurso como novo comandante da estatal, ele se mostrou alinhado à retórica do presidente Jair Bolsonaro (PL), com ênfase em menções familiares e religiosas, expressando ainda um compromisso com os principais pontos do plano estratégico conduzido pelo seu antecessor, Joaquim Silva e Luna. As ações preferenciais da estatal (PETR4) fecharam em queda de 1,17%, cotadas a R$ 31,27.

“A eleição de José Mauro Coelho e Márcio Weber [como presidente do conselho de administração] aconteceu como esperado. Conforme discutimos em um relatório recente, ambos são nomes técnicos e não devem defender mudanças materiais na política de preços da Petrobras”, avaliaram os analistas Vicente Falanga, do Bradesco BBI, e Ricardo França, da Ágora Investimentos, em nota enviada aos clientes.

Já os analistas Leonardo Marcondes e Monique Greco, do Itaú BBA, lembraram o contexto da troca de comando da estatal, marcado pela alta volatilidade dos preços do petróleo e de maior competição internacional por produtos refinados, devido às restrições às exportações russas, em meio à guerra com a Ucrânia. Em relatório, eles apontaram ainda a tendência de maior defasagem entre o patamar dos preços domésticos do diesel e as cotações internacionais, uma situação que, se prolongada, pode levar à redução das importações do produto e ao aumento do risco de desabastecimento.

O Preço de Paridade de Importação (PPI), em vigor desde outubro de 2016, reajusta os preços dos combustíveis com base na cotação internacional do petróleo, variação cambial e custos de importação. Coelho é favorável ao alinhamento de preços de diesel e gasolina ao mercado internacional.

Em seu discurso de posse, o CEO reafirmou a agenda já conhecida da estatal, que inclui a continuidade do seu plano de desinvestimento de ativos e de abertura do mercado de gás natural, o foco na exploração das águas ultraprofundas do pré-sal e a garantia do abastecimento de combustíveis, além das referências aos temas ESG e de governança, como a transição energética e a criação de valor para os acionistas. “A Petrobras não está saindo do refino”.

O risco de interferência política nos rumos da maior petroleira do Brasil em um ano de disputa presidencial é considerado hoje um freio ao ritmo de valorização das ações da Petrobras. “Nenhum presidente tem muita autonomia sobre a política de preços, porque isso está na legislação da empresa e das estatais da época do Temer. Conselheiros e cargos estatutários respondem com patrimônio na física e com próprio patrimônio se fizerem ingerência e manter preços muito fora e abaixo do custo”, comenta Paulo Cunha, especialista no mercado financeiro e CEO da iHUB Investimentos.

A manutenção da regra do repasse integral da alta do barril do petróleo para os preços dos combustíveis é uma das críticas da oposição ao governo federal. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto, à frente de Bolsonaro, já disse que, em um eventual governo, a Petrobras evitaria reajustes atrelados às variações do mercado internacional.

Confira o discurso do novo CEO da Petrobras durante a posse:

  • Dividendos e royalties: “A Petrobras mais forte e mais valorizada traz maior retorno para seu acionista e para a sociedade brasileira. São mais dividendos pagos ao brasileiro e mais participações governamentais, como royalties, e mais tributos pagos aos estados, municípios e à União, que levam a maior arrecadação desses entes federativos e a maiores investimentos em benefícios do cidadão, gerando mais empregos e mais renda”
  • Preços do mercado: “Trabalharemos pela expansão da carteira global de clientes, pelo desenvolvimento de novos mercados, na redução de gargalos logísticos e pelo aumento da eficiência e competitividades das nossas operações. A prática de preços do mercado é condição necessária para a criação de um ambiente de negócios competitivo para atração de investimentos e novos agentes econômicos do setor, para expansão a infraestrutura do país e garantia do abastecimento”
  • Plano estratégico: “Continuaremos maximizando o valor do portfólio, com foco em ativos de águas profundas e ultraprofundas, priorizando os investimentos de exploração e produção na importante província do pré-sal. Os desinvestimentos continuarão de modo que empresas com porte adequado e com experiência neste tipo de ativo possam dar continuidade da produção ou a extensão da vida útil dos campos e o aumento do fator de recuperação”

Dividendos

Além da eleição do novo CEO, a Assembleia Geral Ordinária (AGO) da estatal aprovou a remuneração aos acionistas relativa ao Exercício Social de 2021 no valor de R$ 7,773202 por ação (ordinária ou preferencial) em circulação. Esse valor inclui as antecipações já realizadas ao longo de 2021 e o dividendo complementar a ser pago a partir do próximo dia 16 de maio, informou a petroleira em comunicado.

O dividendo complementar equivale a R$ 2,8610762 por ação (ordinária ou preferencial) em circulação. Considerando a atualização monetária pela taxa Selic do dia 31 de dezembro até ontem (13), esse valor tem um acréscimo de R$ 0,0811879 por ação. Desta forma, o valor total bruto a ser distribuído aos acionistas, considerando a atualização monetária até hoje, é equivalente a R$ 2,9422641 por ação.

O pagamento do referido dividendo complementar será realizado no próximo dia 16 de maio, para os detentores de ações de emissão da Petrobras negociadas na B3, e a partir de 23 de maio de 2022, para os detentores de American Depositary Receipts (ADRs) negociadas na NYSE.

A data de corte para os detentores de ações de emissão da Petrobras negociadas na B3 foi ontem (13), e a record date para os detentores de ADRs será o dia 18 de abril. As ações da Petrobras começaram hoje a ser negociadas ex-direitos na B3 e as ADRs na NYSE.

(Atualiza às 19h40 com falas do novo CEO durante o discurso de posse)

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