Bloomberg — A Alemanha foi avisada de que poderia enfrentar um impacto de 220 bilhões de euros (US$ 240 bilhões) na produção nos próximos dois anos no caso de uma interrupção imediata no fornecimento de energia da Rússia devido à guerra na Ucrânia.
Institutos econômicos que assessoram o governo em Berlim disseram na quarta-feira (13) em uma previsão conjunta de que a suspensão total das importações de gás natural da Rússia resultaria em uma “forte recessão”.
“A decisão de se tornar independente do fornecimento russo de matérias-primas provavelmente continuará válida mesmo quando a situação militar e política se acalmar novamente”, disse o relatório. “Isso significa que parte do fornecimento de energia e da indústria de uso intensivo de energia deve se realinhar.”
Embora a estimativa de 220 bilhões de euros seja o equivalente a 6,5% da produção anual, não chega nem perto dos quase 890 bilhões de euros em empréstimos que a Alemanha fez em 2020 e 2021 para proteger a economia das consequências da pandemia.
Em meio a crescentes baixas e relatos de atrocidades brutais, a Alemanha está sob crescente pressão para justificar sua resistência a um embargo ao gás russo – amplamente visto como a cartada final contra o presidente Vladimir Putin.
A Ucrânia ignorou um pedido de Frank-Walter Steinmeier, presidente da Alemanha, para visitar Kiev nesta semana, após críticas por seu apoio anterior ao gasoduto Nord Stream 2 da Rússia para a Alemanha e por sua atitude, como ministro das Relações Exteriores, de incentivar a reconciliação e o diálogo com o Kremlin.
O ministro das Finanças, Christian Lindner, destacou os enormes desafios para a Alemanha tentar se livrar da energia russa o mais rápido possível, ao mesmo tempo em que busca a neutralidade climática até 2045.
“Nosso mundo não será o mesmo de antes”, escreveu Lindner, que é presidente do partido pró-negócios Democratas Livres, em artigo para o jornal Handelsblatt publicado na quarta-feira.
“Precisamos de novos modelos de negócios, novas ideias, novas cadeias de suprimentos e novas relações comerciais”, disse. “Temos que reduzir as dependências unilaterais, seja da energia da Rússia ou das exportações para a China.”
O DIW, com sede em Berlim, um dos institutos envolvidos na estimativa, disse na sexta-feira (8) que a Alemanha poderia sobreviver sem o gás russo, que atualmente responde por dois quintos de suas entregas de gás. O grupo disse que uma combinação de estoques, reforço de outras fontes de energia e implementação de programas para reduzir a demanda pode compensar a falta da Rússia já neste inverno.
Essa não é uma visão amplamente compartilhada pela comunidade empresarial; líderes do setor, incluindo o CEO do Deutsche Bank, Christian Sewing, alertaram sobre terríveis consequências econômicas se os suprimentos russos forem cortados.
Perspectiva ruim
Mesmo sem um corte, o relatório desta quarta-feira reduziu as perspectivas para a economia da Alemanha, prevendo um crescimento este ano de 2,7% e 3,1% em 2023. Esses números se comparam às projeções anteriores de expansão de 4,8% e 1,9%. A inflação terá uma média de 6,1% em 2022 – a maior em 40 anos.
“As ondas de problemas da guerra na Ucrânia estão afetando n atividade econômica tanto do lado da oferta quanto da demanda”, disse Stefan Kooths, vice-presidente do Instituto Kiel para a Economia Mundial. “O aumento dos preços de commodities energéticas fundamentais após a invasão russa alimenta ainda mais a pressão sobre os preços.”
A economia da Alemanha focada em indústria enfrenta obstáculos consideráveis depois que a guerra elevou os preços da energia e interrompeu as cadeias de suprimentos que já sofriam com problemas relacionados à pandemia. A inflação atingiu 7,6% no primeiro mês completo da guerra – o nível mais alto desde que os registros começaram após a reunificação no início dos anos 90.
As empresas são consideradas particularmente vulneráveis devido à dependência do gás russo por parte da Alemanha. A coalizão governante concordou na semana passada com um pacote de auxílio para empresas em dificuldades que inclui empréstimos, garantias de empréstimos e injeções de capital e destina-se a ajudar especificamente as empresas de energia.
--Com a colaboração de Chris Reiter e Iain Rogers.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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