Eleições: Nordeste vira campo de batalha para Bolsonaro e Lula

Presidente espera ter um percentual significativamente melhor que nas eleições passadas na região, que conta com quase um terço da população do país

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Bloomberg — Exibindo suas mercadorias à beira da estrada na cidade de Salgueiro, Pernambuco, Matheus Silva tem uma nova linha de produtos neste ano eleitoral.

Ao lado dos limpadores de para-brisa, capas de assento de carro e redes, seus principais produtos, Silva agora vende toalhas com a imagem dos dois principais candidatos à presidência, a R$ 35 cada. No final da tarde ele havia vendido quatro mostrando o presidente Jair Bolsonaro e seis de seu provável adversário, Luiz Inácio Lula da Silva – mas acrescentou que vendeu mais Bolsonaros mais cedo na cidade vizinha de Cabrobó.

“Dá empate”, disse Silva.

Após um mandato turbulento de quase quatro anos em que fez pouco caso da Covid-19, entrou em confronto com o Judiciário e reverteu proteções à Amazônia, Bolsonaro, de 67 anos, está atrás do ex-presidente Lula nas pesquisas para a eleição presidencial de outubro. Mas sinais de apoio até mesmo em lugares como Salgueiro – no estado natal de Lula, Pernambuco – sugerem que o presidente ainda não está derrotado.

Um tour por três estados do sertão nordestino em meados de fevereiro mostrou que os ventos contrários mais fortes para a reeleição de Bolsonaro vêm menos de suas políticas mais controversas do que de uma economia fraca e inflação desenfreada que estão atingindo com mais força os mais pobres.

Contudo, em vez de isso se traduzir em apoio sólido ao seu adversário Lula, de 76 anos, muitas pessoas ficaram indecisas sobre em quem votar.

Se o presidente tem chance de virar a maré a seu favor, é por causa de seu programa de assistência em dinheiro às famílias mais pobres. Em particular, seu carro-chefe, o “Auxílio Brasil”, tornou-se crucial para seu futuro eleitoral – e o desempenho de Bolsonaro no Nordeste será um indicador-chave de se isso pode ajudá-lo a conseguir votos suficientes para ganhar um segundo mandato.

“O Nordeste será o campo de batalha desta eleição”, disse Creomar de Souza, diretor executivo da Dharma Political Risk and Strategy, consultoria com sede em Brasília. “É onde Lula e Bolsonaro vão medir forças.”

A eleição está se tornando uma disputa contundente entre polos opostos no espectro político para determinar a direção da maior economia da América Latina em um momento de mudança.

Líderes de esquerda assumiram o poder no ano passado no Peru e no Chile e podem vencer na Colômbia, à medida que a indignação cresce em toda a região rica em recursos naturais por conta das desigualdades que foram expostas e agravadas pela pandemia.

No Brasil, a divisão também é geográfica. O Sudeste, que inclui o centro financeiro de São Paulo, respondeu por cerca de 55% da economia no ano passado, segundo estimativas da LCA Consultores. Isso se compara a 13% do Nordeste. Apenas a região Norte, escassamente povoada, foi menor. Consequentemente, o Nordeste tem mais domicílios recebendo o Auxílio Brasil do que qualquer outra região.

É também a única das cinco regiões do Brasil em que Bolsonaro não conseguiu vencer em 2018. Mas com cerca de 30% dos 215 milhões de habitantes do país, sua equipe de campanha a vê como fundamental para suas chances de conquistar a vitória.

Isso ajuda a explicar porque o presidente visitou a região mais do que qualquer outra no último ano, registrando 31 viagens até o final de março, incluindo a mais recente em 30 de março.

Bolsonaro não vencerá no Nordeste, reconheceu seu chefe de gabinete, Ciro Nogueira, em entrevista à TV Globo transmitida no mês passado. “Mas vai ter um percentual muito maior do que teve na eleição passada”, disse Nogueira. “No geral, acho que Lula ganha no Nordeste, mas vai perder no resto do país de uma forma muito significativa.”

A assistência do governo foi implementada para moldar esse resultado. A taxa de pobreza do Brasil caiu para um mínimo histórico de 4,8% da população em agosto de 2020, quando o governo Bolsonaro pagava R$ 600 por mês a famílias pobres no auge da primeira onda da pandemia – coincidindo com um pico no índice de aprovação do presidente.

Quando o auxílio foi reduzido pela metade, em outubro de 2021, os níveis de pobreza saltaram para 13%. O governo agora está pagando R$ 400 para um número menor de famílias. Em média, o Auxílio Brasil é o dobro do que foi pago pelo Bolsa Família, programa do governo Lula rebatizado por Bolsonaro.

Nos dias de pagamento, as filas dobram o quarteirão das agências bancárias para receber o que para alguns é sua única fonte regular de renda.

É o caso de Francisca Vieira Gomes, de 53 anos, e sua família nos arredores de Brejo Santo, uma cidade de cerca de 50 mil habitantes no interior do Ceará. Ela mora com o marido, um filho de 26 anos, a nora e três netos pequenos em um casebre de madeira e barro, cujo teto é parcialmente coberto com uma folha de plástico.

Ninguém na casa tem trabalho formal. O botijão de gás acabou dois meses antes e ela estava usando um fogão a lenha para cozinhar. Às vezes, ela diz, passa fome.

“Quando o Bolsonaro botou esse dinheiro para nós, ele ajudou muito”, disse Gomes. Ela ainda não sabe em quem vai votar. “A situação aqui é difícil”, acrescentou. “Só Deus sabe quem vai ganhar.”

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