Cassação de Mamãe Falei avança em sessão com pancadaria verbal

Durante algumas horas, deputados bolsonaristas, petistas e do centro esqueceram as desavenças para se revezar nas críticas a deputado do MBL

Cassação avança em sessão com pancadaria verbal
12 de Abril, 2022 | 06:48 PM

Bloomberg Línea — A sessão do Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou, por 10 votos a zero, o relatório favorável à cassação do deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei (ex-Podemos), que disse em um áudio vazado que as mulheres ucranianas, fugindo da guerra, “são fáceis porque são pobres”.

A unanimidade da votação refletiu o isolamento do youtuber do MBL (Movimento Brasil Livre), que foi eleito em 2018 com mais de 400 mil votos.

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Com um mandato marcado pelo estilo provocador de fazer política, Mamãe Falei conseguiu o feito de unir bolsonaristas, tucanos, petistas e os que se dizem do centro político contra a sua permanência na Casa.

Durante algumas horas na tarde desta terça, os deputados esqueceram as desavenças ideológicas para se revezar, na sessão, ora criticando o teor da fala do deputado sobre as mulheres ucranianas, ora espinafrando-o, com raiva.

O bolsonarista Gil Diniz, o Carteiro Reaça (PL), foi o mais exaltado: “Você não é só um anão físico, é também um anão moral”.

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E depois complementou com “palhaço”, “playboy”, “vagabundo”, “covarde”. Teve de ser contido pelos colegas.

O lulista Teonílio Barba (PT), vaticinou que “o Arthur não tem caráter”.

Valéria Bolsonaro (PL, parente distante do presidente), invocou as duas filhas para descrever o que sentiu ao ouvir o áudio sobre as ucranianas: “Tive um sentimento de asco. Como mãe, eu morreria se uma filha minha chegasse perto de uma pessoa dessas.

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Campos Machado (Avante), mais longevo deputado em atividade (está na Casa desde 1987), foi fiel ao seu estilo de raposa política: não discursou e disse apenas um discreto “sim” na hora da votação.

De certa maneira, alguns deputados aproveitaram a sessão para ajustar contas do passado com Mamãe Falei. O petista Barba lembrou o episódio em que o colega do MBL chamou servidores públicos de “vagabundos” na tribuna. Carteiro Reaça lembrou que Mamãe Falei gostava de apontar o dedo para os demais deputados para passar por “probo”.

Ao falar no final da sessão para se defender, Mamãe Falei não apresentou qualquer ilusão sobre o seu destino, antes da votação: “Vamos ser sinceros aqui, gente. Todo mundo sabe o que está acontecendo aqui. Esse processo de cassação não é pelo que eu disse, é por quem disse, que sou eu. Eu não tenho dúvidas de que vai ser de 10 a zero”.

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“A verdade é que todos aqui me odeiam”, concluiu. O mau relacionamento com os demais deputados – causa dos votos pela cassação, na sua opinião – deve-se ao fato de não usar carro oficial, motorista e verba de gabinete.

“Eu não sou como o PT que tem que ser escravo do Lula. Se o Lula vier aqui e mandar vocês defenderem a guerra por causa do imperialismo americano, vocês vão fazer. Se o Bolsonaro mandar os bolsonaristas aqui dizerem que a guerra não é tão ruim assim, vocês vão fazer. Vocês são escravos dessas pessoas”, disse, sobre os colegas.

“A verdade é que não tenho ninguém aqui para por um guarda-chuva quando eu erro e eu errei”, afirmou.

Agora, o relatório do deputado Delegado Olim (PP) será votado pelo plenário da Assembleia Legislativa.

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.