Web3 amplia proteção ao ambiente de produção de conteúdo

Estrutura descentralizada da nova internet gera impacto positivo sobre a criação de textos, que ganha mais segurança contra violações

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Por Gino Matos para Mercado Bitcoin

São Paulo — A Web3, a internet que promete mais privacidade e segurança aos usuários por meio da descentralização, costuma ser associada apenas à ideia de que eles serão donos de seus dados novamente, reduzindo o controle de grandes empresas de tecnologia, as big techs. As vantagens, no entanto, vão além. A produção de conteúdo está entre as mais beneficiadas.

Os materiais publicados na Web3 são registrados em uma blockchain pública, assumindo a forma de tokens. Ou seja, não há uma instituição centralizada que possa retirar o conteúdo do ar. Isso não só combate qualquer ato de censura como reforça a autoria do texto, a monetização do conteúdo e sua reprodução na rede.

O escritor Tim Denning, que produz conteúdos para canais como CNBC e Business Insider, conta em seu blog que artigos podem ser vendidos como NFTs, por exemplo. A transformação do material elaborado em um token não-fungível faz com que ele seja único. Para Denning, isso faz com que as “oportunidades para ganhar dinheiro escrevendo na Web3 não tenham fim”.

Artur Gontijo, embaixador da Polkadot no Brasil e lead de tecnologia no marketplace de inteligência artificial SingularityNET, explica que o modelo atual de hospedagem de um blog na internet leva a plataforma a depender de um serviço centralizado. Caso a empresa encerre os serviços, o blog sai do ar, levando as publicações do autor junto. Isso dá uma ideia dos benefícios da Web3 para produtores de conteúdo.

Quem escreve na Web3

A Web3 já dispõe de plataformas voltadas à produção de textos descentralizados, sendo a Mirror uma das mais buscadas atualmente. Nela, escritores podem colocar seus artigos gratuitamente ou optar por vendê-los como NFTs. Um guia sobre NFTs para iniciantes, por exemplo, é comercializado na página inicial por 2,28 Ethereum, quase R$ 25 mil na cotação atual do ativo.

Tasha Kim, investidora e chefe de Media & Brand da Crypto, Culture and Society, conta que utiliza a Mirror para se comunicar com o público e divulgar pesquisas. “Achei a plataforma amigável aos novos usuários e a única barreira que identifiquei foi a necessidade de ter uma carteira de criptomoedas”, diz Kim. “Tirando isso, publicar na Web3 é bem semelhante a escrever em plataformas populares, como Medium ou Substack.”

Além de mudar a forma como o conteúdo escrito é divulgado pelos produtores, a Web3 também altera os caminhos percorridos até a informação, ganhando suas próprias versões descentralizadas de plataformas, como Google e Wikipedia.

Buscas descentralizadas

A KurateDAO é uma organização descentralizada autônoma com uma proposta parecida com o que a Wikipedia faz atualmente. Michael Fischer, fundador da KurateDAO, explica que a ideia da plataforma é de que um grupo de usuários crie um local que permita buscar vagas de emprego em um setor, músicas de determinado gênero, NFTs específicos, artigos acadêmicos, carteiras de criptomoedas, receitas culinárias, etc.

No sistema planejado, qualquer um pode criar um tópico, como notícias sobre um país, restaurantes de uma cidade ou até mesmo ferramentas da Web3. A mesma pessoa define critérios para que dados sejam incluídos em seu tópico, tornando-se um curador.

Os tópicos são preenchidos com informações levadas pelos chamados batedores, cargo que qualquer usuário do projeto pode ocupar. Para inserir uma informação, é necessário dar um token do projeto como garantia, que é tirado de circulação caso a informação seja rejeitada. Além disso, é possível que outros usuários contestem decisões dos curadores também utilizando tokens.

O processo de inclusão, checagem e contestação de informações cria um serviço de curadoria totalmente descentralizado. Cabe ainda ressaltar que curadores e batedores são remunerados de acordo com suas colaborações com o protocolo. Nesse sentido, embora considere a Wikipedia excelente e a trate como um exemplo onde a ação coletiva funcionou, o fundador da KurateDAO faz ressalvas.

Uma delas é a ausência de moderadores na Wikipedia, o que impede a visão de diferentes nuances sobre um mesmo assunto. Outro ponto negativo apontado por Fischer é a ausência de disputa pelos cargos de moderação. “Um sistema de disputas, na minha visão, tornaria o ecossistema mais saudável.”

Ainda na visão de Fischer, a falta de remuneração influencia as informações. “Moderadores da Wikipedia não são pagos, significando que eles possuem outra fonte de renda. Isso pode tornar as informações enviesadas para o olhar de classes mais altas. A KurateDAO é sobre recompensar as pessoas por fazer a coisa certa, construindo o conhecimento de baixo para cima.”