A aposta de Bezos no Brasil: Stark Bank levanta US$ 45 milhões

Quatro meses depois da Série A, a fintech levantou a Série B liderada pela Ribbit Capital e Bezos Expeditions, o fundo pessoal de Jeff Bezos

Rafael Stark, CEO do Stark Bank
11 de Abril, 2022 | 05:00 AM

São Paulo — O Stark Bank, fintech que quer ser o banco de empresas de médio e grande porte, recebeu US$ 45 milhões em uma rodada Série B liderada pela Ribbit Capital com participação do fundo de Jeff Bezos, fundador da Amazon, a Bezos Expeditions.

É o primeiro investimento da Bezos Expeditions no Brasil. Na América Latina, o fundo já tinha investido no unicórnio chileno NotCo. SEA Capital e os atuais investidores Lachy Groom e K5 Global, além dos fundadores do Airbnb, Kavak, executivos da DST, Visa e Coinbase também participaram da rodada.

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Rafael Stark é o CEO do Stark Bank. Formado em engenharia, começou sua carreira desenvolvendo aplicativos para Android. Ele estudou nos Estados Unidos e voltou para o Brasil em 2014 para abrir sua primeira empresa, a Hummingbird, que criava produtos digitais para empresas como a Nextel e Banco Paulista. Essa startup cresceu 300% ao ano, segundo Stark.

“Como desenvolvedor, eu estava acostumado a fazer integrações com API do Google Maps, API do Twitter. Então pensei em conectar com um banco através de API e para minha surpresa nenhum banco tinha isso. Agora, o Banco Central está obrigando os bancos a terem integrações”, disse, em entrevista à Bloomberg Línea.

O Stark Bank começou em agosto de 2018, com o dinheiro que o empreendedor obteve com a Hummingbird, investindo quase R$ 1 milhão na plataforma. Depois, a empresa captou US$ 500 mil com anjos e recebeu uma rodada Seed de US$ 2 milhões. Em dezembro do ano passado a companhia captou sua Série A de US$ 13 milhões liderada por Lachy Groom (ex-Stripe) com a participação dos fundadores da Coinbase, Dropbox, Flexport, Figma, Rappi, dLocal, Wildlife e Slack. Agora, com a Série B, tem US$ 58 milhões em caixa para gastar.

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Pagamentos arcaicos

“Descobri que era arcaico como se faziam pagamentos. Comecei com esse piloto, um sistema API para fazer transferências”, conta. A Buser foi o quarto cliente do Stark Bank, usando a plataforma para fazer reembolsos. “A gente entrava no aplicativo, colocava os dados de conta e fazia esse estorno de pagamento de folha, pagamento de fornecedores, ajudando com boleto, e depois pagando impostos. Em 2019, a gente fazia praticamente tudo que os bancos fazem na parte transacional via API. E pensamos como poderíamos melhorar isso”, disse.

Outros produtos foram acrescentados como internet banking e conexão com o Excel e Google Sheets, já que muitos clientes faziam pagamentos de folha de funcionários por essas planilhas.

“As empresas continuaram pedindo coisas para a gente e com o tempo percebemos que essas empresas tinham problemas com contas a pagar e contas a receber. A nossa visão hoje está bem clara, a gente está montando um banco focado em empresas de médio e grande porte”.

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Segundo Stark, a dinâmica de um banco para pessoas físicas é diferente de um banco para empresas. Ele diz que enquanto as pessoas valorizam praticidade, fazer qualquer coisas com poucos cliques, para as empresas o valor do negócio está no controle. “Elas querem saber quem subiu o pagamento, quem aprovou, e ter o anexo do gasto”, explicou.

A diferença da fintech, não é, segundo Stark, um painel de controle, mas sim mecanismos dentro do próprio cartão para que o funcionário só possa gastar em determinados países dentro de categorias específicas, com um valor máximo, para gastos como comida e transporte. Empresas americanas como a Marqeta, Ramp e a Brex trabalham com esses recursos.

Para contas a pagar, o Stark Bank tem regras customizadas para qualquer pagamento, ou seja, pagamentos a partir de tal valor, os executivos têm que aprovar. A startup também desenvolveu recursos dentro do Pix, em que a empresa consegue emitir a cobrança, bloquear pagamentos duplicados e fazer estornos, como é feito no boleto. “Queremos ser o banco do futuro”, disse Stark.

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“A gente tem um relacionamento com a Ribbit há um ano e meio. Desde março de 2020 eles acompanham nosso trabalho. Nossos números vêm crescendo, desde a Série A a gente triplicou o volume transacionado na plataforma e a receita em três meses. Uma coisa é não ter nada e multiplicar para um número alto, [mas nós fomos] para casa de bilhão, processando milhões”, disse.

Para ser banco, a fintech quer dar crédito

Agora, a startup pretende expandir a oferta com um produto de crédito, originando o crédito a partir dos US$ 58 milhões em caixa e eventualmente captar mais ou usar FIDCs (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios).

O Stark Bank atende mais de 300 clientes da nova economia como a Loft, Buser, Flash Benefícios, Daki, Cora e Bitso. “Essas empresas estão muito bem capitalizadas, não precisam de capital de giro. O crédito que elas precisam é para pagar serviços de nuvem, fazer campanha no Google Ads. O crédito vai ser nesse sentido, de limites bem altos para que eles consumam no cartão, mas eventualmente outras necessidades”.

Desde outubro de 2020, o Star Bank tem licença para operar como uma Sociedade de Crédito Direto. “Fomos a primeira fintech regulada em fase de Seed”, afirmou o CEO.

A fintech já atingiu o breakeven [equilíbrio de custos e ganhos]. A nova rodada será aplicada em contratações e expansão de produto. No final do ano passado, a empresa passou a emitir cartão de débito corporativo. Agora, o próximo passo é o cartão de crédito corporativo, adquirência e investimentos. O Stark Bank já está fazendo câmbio, mas quer escalar o serviço. “As empresas não querem ter vários bancos ou fintechs. Elas querem um só player que faça tudo bem feito. Hoje quem faz tudo são só os grandes bancos”.

O Stark Bank vai se dividir em duas empresas, abrindo outra unidade de negócio para estrutura financeira. A empresa fornecerá APIs para empresas serem participantes do arranjo do Pix direto ou indireto. O Banco Central criou a figura do participante indireto, em que, quando o usuário faz o Pix, aparece o nome do banco e os dados do beneficiário. O participante do Pix aparece como banco Itaú, por exemplo. Já no Pix indireto, aparece com o nome da fintech. “Nossa ideia é que qualquer empresa que queira ser participante do Pix direto ou indireto consiga fazer essa conexão com o Banco Central em uma semana”, disse.

O Stark Bank também pretende oferecer um cartão “white label” para que a empresa cliente possa emitir um cartão com a marca dela. Outro plano da fintech é oferecer a bancarização de instituições de crédito. “Hoje empresas que não são instituições financeiras que montam um FIDC para fazer empréstimos compram CCB (Cédula de Crédito Bancário) de uma empresa financeira para conseguir emprestar. Como a gente é uma empresa financeira, conseguimos soltar esse produto”, explicou o executivo.

“Esse aporte vem para mostrar a quantidade de gente boa no Brasil. Fundadores relevantes como Airbnb, Kavak, estão olhando o Brasil. Há vários fundos que não olhavam para o Brasil e estão olhando agora, isso só abre portas para que outras empresas enxerguem o Brasil como o país do empreendedorismo”, disse. O Stark Bank pretende crescer 10 vezes este ano.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups