Gestoras SPX e Verde veem ‘tempos difíceis’ com inflação e baixo crescimento

Em carta aos cotistas referente a março, SPX Capital diz ver crescimento pujante temporário mascarando realidade mais complexa adiante

Gestora SPX Capital vê dinâmica de menos crescimento global pela frente.
10 de Abril, 2022 | 04:04 PM

Bloomberg Línea — A retomada do crescimento econômico, puxado por uma demanda reprimida no consumo e no setor de serviços pós-pandemia, não têm animado renomados gestores de fundos de investimento, como Verde Asset e SPX Capital, que seguem vendo um horizonte desafiador pela frente, marcado pela alta inflação e baixo crescimento.

Isso porque o cenário externo, de guerra na Ucrânia, aumento no preço das commodities e forte inflação continua a pressionar bancos centrais ao redor do mundo que, em uma posição difícil de escolha entre crescimento e inflação, podem se ver forçados a apertar mais do que o desejado sua política monetária.

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“Dessa forma, os riscos para o crescimento aumentam ainda mais e uma desaceleração econômica mais significativa se torna uma possível realidade em algumas economias ao redor do mundo”, escreve a SPX, em carta enviada aos cotistas referente ao desempenho de março do fundo SPX Nimitz.

Neste contexto, a gestora de Rogério Xavier afirma que o crescimento mundial pujante atual é temporário e que “mascara uma realidade mais complexa adiante, na qual o crescimento global deve ser mais fraco”.

O maior pessimismo com o cenário à frente também é destacado na carta da Verde Asset, que chama atenção para os aspectos estagflacionários do quadro macro atual, que têm levado a uma reprecificação “violenta” das taxas de juros pelo mundo.

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“Por ora, nos surpreende como o mercado acionário global tem absorvido bem esse forte aumento das taxas de desconto, e nos perguntamos até quando isso vai durar”, escreve a Verde.

Para a gestora de Luis Stuhlberger, a calmaria no noticiário doméstico é apenas temporária, à medida que a fase aguda do ciclo eleitoral se aproxima, e a “disputa dá sinais que será mais competitiva do que o consenso imagina”.

Desglobalização?

Assinada pelo gestor Tiago Fernandes, a carta da SPX se questiona se estaríamos hoje vivenciando uma situação similar à desglobalização passada, no início do século 20. Isso porque, não bastasse a pandemia de covid, que gerou uma reavaliação de riscos por parte dos países e empresas em suas cadeias de produção, vivemos atualmente o ataque da Rússia à Ucrânia.

Com isso, a avaliação é de que o fator de risco, em detrimento do fator de custo, pode estar ganhando mais relevância do que no passado – podendo levar, no futuro, países e empresas a concentrarem suas atividades em um mesmo grupo de países ou região.

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“Essa mudança, por ser proveniente de uma nova avaliação de risco, em vez de uma avaliação de eficiência econômica, provavelmente irá reduzir as margens de lucro das empresas e aumentará o repasse da pressão dos custos para os preços”, escreve o gestor, chamando atenção para um cenário de mais inflação e menos crescimento.

Para a casa, o continente europeu será o mais afetado, seguido pela Ásia. Os Estados Unidos e as economias latino-americanas exportadoras de commodities, contudo, continuarão um pouco mais resilientes.

O Brasil, por ser um país exportador de commodities, está “parcialmente protegido dos riscos de crescimento”. “A melhora dos termos de troca do Brasil gera uma melhora fiscal e de contas externas, fazendo com que o país tenha um amortecedor momentâneo para os choques, fato que já sustenta algum crescimento atualmente”, escreve Fernandes.

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Principais alocações

Neste contexto de menor crescimento global e inflação nas alturas, o carro-chefe da gestora, o SPX Nimitz, mantém posições favoráveis à alta de juros nos países onde a casa acredita ainda existir grande desequilíbrio entre as condições econômicas e os preços de mercado. No Brasil, o fundo está aplicado em juros reais na parte intermediária da curva.

Na Bolsa brasileira, tem posições vendidas (aposta na queda) em fintechs e no setor de mineração, além de posição comprada (isto é, aposta na alta) no setor de transporte contra o índice e alocações relativas nos setores de transportes e consumo.

Na parte internacional, a SPX tem preferência por setores mais defensivos em relação a ativos cíclicos nos Estados Unidos, enquanto na Europa, tem exposição ao tema de transição energética e ao setor de defesa. Há ainda uma posição comprada na bolsa chinesa.

O fundo possui também alocações compradas no dólar americano contra uma cesta de moedas e, no mercado de commodities, o fundo está com alocações compradas em metais industriais, preciosos, energia e crédito de carbono.

Desempenho

Em março, o fundo SPX Nimitz apresentou ganhos de 7,34%, ante variação de 0,93% do CDI. No período, as maiores contribuições positivas vieram das alocações em juros e moedas.

Já no acumulado do ano, o multimercado avança 13,15%, ante desempenho de 2,42% do principal benchmark de renda fixa.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.