Bloomberg — O que para muitos britânicos costumava ser um simples prato de frango ao curry agora é simplesmente um terço de sua ingestão diária de calorias.
Nesta semana entrou em vigor uma nova lei que obriga que grandes grupos de restaurantes do Reino Unido incluam contagens de calorias em seus menus. Empresas de alimentos com 250 ou mais funcionários agora precisam listar os dados calóricos de cada prato e bebidas presentes no menu, juntamente com a declaração de que “adultos precisam de cerca de 2.000 kcal por dia”.
Um menu atualizado no grupo de restaurantes Caravan agora inclui os números, com pratos menores que variam de 79 calorias para feijão edamame, por exemplo, a 774 para croquetes. Na Dishoom, uma rede popular de restaurantes indianos, os clientes agora podem ver o conteúdo calórico de pratos exclusivos, como o rubi de frango, com 728 kcal.
A medida é uma tentativa do governo de combater a obesidade no país, onde quase dois terços dos adultos, ou 35 milhões de pessoas, são classificados como acima do peso, segundo o Serviço Nacional de Saúde. Um terço das crianças que saem da escola primária são considerados acima do peso, com esse número aumentando ainda mais em áreas carentes.
A prática já é difundida nos Estados Unidos, onde a Food and Drug Administration (FDA) exige que redes com 20 ou mais restaurantes rotulem as calorias de seus pratos desde 2018. Empresas americanas como o McDonald’s já incluem a prática em seus menus há alguns anos.
Mais ansiedade?
Embora a pesquisa do National Bureau of Economic Research tenha mostrado que os novos dados realmente fazem os clientes pedirem refeições com menos calorias, alguns especialistas argumentam que a contagem de calorias não é um indicativo de valor nutricional.
Instituições para distúrbios alimentares, como a Beat, também alertaram que os menus rotulados podem aumentar a ansiedade entre as pessoas que sofrem de distúrbios alimentares.
“Exigir contagens de calorias nos menus pode causar um grande sofrimento para pessoas que sofrem ou são vulneráveis a distúrbios alimentares”, disse o CEO da Beat, Andrew Radford. “Pesquisas mostram que as campanhas antiobesidade que se concentram no peso em vez da saúde são contraproducentes”, explicou.
Em uma pesquisa realizada em toda a Grã-Bretanha no ano passado, 55% dos entrevistados disseram que as calorias nos menus seriam ineficazes no combate à obesidade.
Wagamama, uma rede de restaurantes de comida asiática de propriedade do The Restaurant Group, diz que oferecerá aos clientes uma “versão sem calorias de seu menu” para “clientes que sofrem com um relacionamento desafiador com a comida”. A empresa também contratou a “empresária antidieta” Lucy Mountain para uma nova campanha de cardápio promovendo a ideia de “nutrição verdadeira” em vez de contagem de calorias.
Sem descanso para a mente
A maior parte dos restaurantes na Inglaterra não terá que cumprir as regras por empregar menos de 50 pessoas. Mas isso não impediu alguns executivos de se preocuparem com o impacto no comportamento do consumidor.
“É um sufoco para nossa criatividade”, disse Sam Ward, diretor administrativo do Umbel Group, que está perto de cruzar o limite do número de funcionários estabelecido pela nova lei. “Ninguém entra em um restaurante sofisticado para economizar calorias. Comer deve ser um suposto alívio. Um espaço para desligar”, disse.
– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, content producer da Bloomberg Línea.
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