Bloomberg — Os bancos centrais da América Latina estão enfrentando uma pressão renovada para estender os aumentos agressivos das taxas de juros depois que os preços ao consumidor ultrapassaram as estimativas em toda a região, impulsionados pelo aumento dos custos das matérias-primas.
A inflação de março superou até mesmo as previsões mais pessimistas no Brasil e no Chile, de acordo com números oficiais divulgados nesta sexta-feira (8). Isso segue dados de preços piores do que o esperado na Colômbia, Peru e México. A região está sendo atingida pelo aumento dos custos de combustível e alimentos devido à invasão russa da Ucrânia.
As autoridades monetárias da América Latina foram as primeiras no mundo a começarem a aumentar os custos do dinheiro à medida que as restrições globais de oferta e, em alguns países, medidas de estímulo contra a pandemia reacenderam a inflação.
Novas pressões sobre os preços agora desafiam os planos do Brasil e do Chile de encerrar o aperto. Elas também correm o risco de alimentar revoltas, que assumiram a forma de protestos em massa no Peru.
O IPCA de março no Brasil registrou maior alta mensal de preços desde 2003, com a gasolina saltando 6,95%. Os preços ao consumidor do Chile registraram o maior ganho mensal em cerca de três décadas, com o pão subindo 5,9% e a energia subindo 2,6%.
O gás de cozinha e a gasolina impulsionaram a inflação no México, com o valor anual atingindo a maior alta em 21 anos.
Mesmo assim, os aumentos de preços poderiam ter sido muito piores.
“Os preços do gás e da gasolina subiram muito menos do que as referências internacionais”, Alonso Cervera, economista-chefe para a América Latina do Credit Suisse, sobre o México. “A inflação seria muito maior se não fossem os subsídios.”
Em xeque
A inflação de março põe à prova a estimativa do presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, que tem repetidamente sinalizado planos para um aumento final em maio, e da presidente do banco central do Chile, Rosanna Costa, que disse semana passada que os formuladores de políticas serão capazes de desacelerar o ritmo de aumentos futuros das taxas.
Por outro lado, alguns economistas não têm tanta certeza sobre aumentos ainda mais agressivos de juros. “Em vez de olhar para a inflação atual, eles estão olhando para a inflação de 12 a 24 meses à frente. Isso é o que realmente importa para eles”, disse Alejandro Arreaza, economista do Barclays.
Há sinais crescentes de que a indignação com os preços está repercutindo na política. O presidente peruano Pedro Castillo decidiu impor um toque de recolher em Lima nesta semana, depois que os protestos contra a inflação se transformaram em violentos confrontos com a polícia.
No Brasil, a Petrobras anunciou em março que aumentaria os preços dos combustíveis em até 25%. O presidente Jair Bolsonaro, que se candidata à reeleição em outubro, demitiu o presidente da empresa duas semanas depois, quando as pesquisas mostraram que os eleitores estavam furiosos com a inflação.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
©2022 Bloomberg L.P.