Putin reagrupa tropas para nova ofensiva na Ucrânia

Seis semanas de guerra expuseram sérias falhas na capacidade da Rússia de sustentar operações militares, forçando o Kremlin a reduzir suas ambições

Encorajada por sua defesa bem-sucedida de Kiev e apoiada por aliados americanos e europeias, a Ucrânia decidiu reforçar suas tropas
Por Bloomberg News
07 de Abril, 2022 | 06:28 PM

Bloomberg — O presidente da Rússia, Vladimir Putin, aposta que suas tropas podem obter uma vitória no leste da Ucrânia ao resgatar uma operação de seu exército, depois de não conseguir tomar a capital Kiev. Mas Putin ainda tem tarefas muito difíceis pela frente.

Seis semanas de guerra expuseram falhas na capacidade da Rússia de sustentar operações militares, forçando o Kremlin a reduzir seus objetivos de guerra. O foco agora está em tomar as regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk, em Donbas, e potencialmente o máximo possível da costa sul do país, permitindo que Putin estabeleça um corredor terrestre para a península da Crimeia, anexada à Federação Russa em 2014.

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É mais realista do que os grandes objetivos que eles tinham originalmente, mas a velocidade da operação é essencial”, disse Samuel Cranny-Evans, analista do Royal United Services Institute, em Londres. “As tropas russas estão cansadas, a dificuldade para elas será manter o ímpeto, manter a pressão; muito dependerá do estado das forças ucranianas”, disse.

A Ucrânia está se preparando para “uma luta dura por Donbas”, disse Ihor Zhovkva, vice-chefe de gabinete da presidência ucraniana, à Bloomberg TV. As autoridades disseram aos civis para deixar a área o mais rápido possível.

Com até um terço das unidades da Rússia prontas para a batalha implantadas na Ucrânia fora de ação, de acordo com algumas estimativas dos EUA, as forças ucranianas vizinhas exigirão reforços significativos, de acordo com o Rochan Consulting, um grupo de pesquisa de defesa com sede em Gdansk, na Polônia.

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As melhores tropas já foram usadas e não podemos ter certeza da qualidade das reservas da Rússia”, disse Pavel Luzin, analista militar independente baseado na Rússia. “Quanto dessa força de trabalho está pronta para o combate? Ela está motivada o suficiente para fazer tal ofensiva?”

Em um sinal de escassez de tropas, a Rússia está redistribuindo algumas forças das regiões separatistas da Geórgia para reforçar sua invasão da Ucrânia, de acordo com autoridades ocidentais. As tropas russas que se retiraram de Kiev para retornar à Rússia não serão eficazes para combater por algum tempo, de acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra.

As tropas russas já estão fazendo avanços modestos ao leste de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, em um esforço para isolar as forças ucranianas que defendem Donbas, que estão entre as melhores e mais duras do país.

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Encorajada por sua defesa bem-sucedida de Kiev e apoiada por armamentos fornecidos pelos EUA e aliados europeus, a Ucrânia está reforçando suas tropas.

As negociações entre os dois lados para interromper o conflito estão paralisadas e podem não recuperar o ímpeto até que o resultado desta nova fase da guerra seja mais claro.

Prazo para a vitória

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Putin busca “algum tipo de vitória” antes do desfile anual do Dia da Vitória, em 9 de maio, na Praça Vermelha em Moscou, que marca a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, disse Mikk Marran, diretor-geral do Serviço de Inteligência Estrangeira da Estônia.

A Rússia pode ver seu primeiro grande triunfo no campo de batalha territorial se conseguir assumir o controle da cidade portuária de Mariupol, no sul, após um cerco brutal que matou centenas e reduziu muitos de seus prédios a escombros.

Até agora, a Rússia conseguiu controlar apenas a cidade de Kherson, no Mar Negro, embora os ucranianos tenham lançado uma contraofensiva. Odessa, o maior porto do país, permanece firmemente sob o controle de Kiev.

Ainda assim, a Ucrânia tem pedido por mais ajuda, incluindo tanques e aviões. O ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, disse na quinta-feira (7) em Bruxelas, em conversas com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que veio para “discutir as três coisas mais importantes: armas, armas e armas”.

– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, content producer da Bloomberg Línea.

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