Bloomberg Línea — A plataforma Dolado anunciou, nesta quarta-feira (6), que captou R$ 53 milhões (US$ 10,1 milhões) em uma rodada Série A liderada pela Valor Capital Group. Flourish, GFC, Clocktower Ventures, IDB e Endeavor completaram a rodada.
De uma família de comerciantes, o cofundador da startup, o engenheiro Khalil Yassine, passou um tempo trabalhando no Citibank (C) com operações de fusões e aquisições e IPOs. Aos finais de semana, ele ajudava seu pai no fechamento de caixa e comprando mercadorias para seu pequeno comércio.
“Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o processo que meu pai passava para poder abastecer a loja dele de mercadoria. No interior de São Paulo, o pequeno comerciante tem que acordar quase de madrugada, ir até um centro atacadista, encher o carro de mercadoria e voltar até a loja para abastecer a prateleira. Ele tem que ir correndo, comprar correndo para abastecer a prateleira e não tem tempo para conseguir analisar mercadoria, ver fornecedores e o mercado de maneira geral”, explica Yassine, em entrevista à Bloomberg Línea.
Com a necessidade de digitalização para sobrevivência, a Dolado apostou em ser um sistema de soluções para o pequeno comerciante
Em novembro de 2019, ele deixou o Citibank para criar uma solução para o comércio de seu pai e outros pequenos lojistas. A ideia inicial era criar uma plataforma que ligasse fornecedores de diversos cantos do Brasil com pequenos comerciantes de bairros e regiões periféricas. “A proposta de valor para os fornecedores era ter capilaridade em regiões que eles nunca conseguiram chegar e para os comerciantes era tempo e variedade de produto e preço principalmente por eles não terem o poder de barganha alto, eles sempre estavam em desvantagem”.
O empreendedor procurou o fundador da 99 e investidor anjo Paulo Veras, e um dos fundadores do iFood, Guilherme Bonifácio, para validar sua ideia. Bonifácio indicou dois amigos (Guilherme Freire e Marcelo Loureiro) que estavam estudando a tese de uma empresa para resolver problemas de estoque na Índia. Eles viraram os sócios de Yassine para construir a Dolado.
Tudo caminhava para um modelo de negócio bem sucedido, atacando o problema dos pequenos comerciantes. Até que a pandemia chegou, e a covid-19 fez os comércios fecharem as portas. A compra de mercadorias virou o menor dos problemas dos pequenos lojistas. Com a necessidade de digitalização para sobrevivência, a Dolado apostou em ser um sistema de soluções para o pequeno comerciante.
De porta em porta
Ao invés do produto de compra, o primeiro produto da Dolado foi um catálogo digital. “A gente batia de porta em porta. Nosso primeiro cliente foi meu pai, que digitalizou a loja dele. A gente ensinava a tirar foto do produto, como compartilhar com os clientes e partir disso eles conseguiriam pelo menos vender naquele momento que era crítico. Em março de 2020 a gente não sabia o que ia acontecer com o mundo, se a pandemia ia durar um mês, era muita incerteza para um público que nunca estava conectado com o mundo digital”, disse.
Durante um ano, a empresa testou o produto de catálogo digital gratuito, que viralizou depois que um comerciante divulgou o produto em um grupo de Facebook. Em seis meses, a plataforma atingiu 5 mil comerciantes. O produto de reposição de compras automatica veio depois, em março de 2021, com o conhecimento que a startup adquiriu de funcionamento das operações desses lojistas.
A proposta inicial da Dolado era ser um marketplace para o pequeno lojista, mas a empresa acabou decidindo verticalizar o modelo para comprar a mercadoria e entregar para o comerciante, por meio de terceiros. Assim, Yassine disse que era possível garantir a experiência do comerciante.
Hoje, a Dolado ganha pela diferença de preço, tendo uma margem de lucro dos pequenos comerciantes por juntar os pedidos dos lojistas e compilar com fornecedores.
Com a empresa crescendo, o COO disse que a companhia precisava se estruturar para crescer e começou a procurar a Série A. Agora, com o novo aporte, a startup pretende contratar pessoas de produto, tecnologia e relacionamento com cliente, além de lançar novos recursos.
Segundo o executivo, a Dolado se propõe a solucionar três problemas dos comerciantes: como ele vai vender, como ele vai comprar a mercadoria e como fará a gestão financeira. “O público que a gente atende é muito informal. É o comerciante que trabalha com CPF. Na periferia, as pessoas recebem salário em dinheiro, então ninguém sabe quem é essa pessoa de verdade. A proposta da Dolado é que se a gente sabe o quanto esse comerciante compra, e ajudando ele a fazer uma gestão financeira mais inteligente do negócio dele, conseguiremos ter propriedade para poder não só dar crédito, mas ajudá-los a tomarem as melhores decisões para o negócio”.
Hoje, a Dolado tem 20 mil clientes e pretende atingir 100 mil até o final deste ano.
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