Bloomberg — As oscilações bruscas nas commodities, do trigo ao petróleo, vieram para ficar, com cadeias de suprimentos globais sendo reavaliadas após a invasão russa na Ucrânia.
Isso de acordo com Gregory Broussard, chefe global de comércio financeiro da unidade de gestão de risco da gigante agrícola Cargill.
É provável que o ostracismo econômico da Rússia persista mesmo que a guerra termine, levando o mundo a repensar como suprimentos críticos como grãos, fertilizantes e combustíveis são adquiridos e produzidos, disse Broussard em entrevista à Bloomberg. Países provavelmente começarão a acumular commodities como precaução.
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“Vamos sair desta guerra mais apertados no lado da oferta do que entramos”, disse ele. “Quando se começa a aplicar sanções, elas não se dissipam da noite para o dia. Isso tem implicações no roteamento de matérias-primas.”
A necessidade de depender menos de regimes instáveis para commodities ganhou destaque em meio à pior inflação dos EUA em quatro décadas. Também coincide com outro fator de volatilidade - o esforço global para reduzir emissões até meados do século, em uma tentativa de evitar mudanças climáticas catastróficas.
“Todo mundo vai avaliar como obtém matérias-primas, se pode de fato produzir essas matérias-primas sem ter que lidar com players como a Rússia”, disse Broussard, que raramente dá entrevistas públicas e conhece os maiores mercados agrícolas em todo o mundo.
Desistir das exportações russas não será fácil. A Rússia é o maior fornecedor de gás natural da União Europeia, respondendo por mais de 40% das importações. É também um dos principais exportadores globais de fertilizantes, que são produzidos com hidrogênio e amônia, vistos também como ingredientes promissores para futuros combustíveis “limpos”.
Governos e empresas estão procurando novas fontes de biocombustíveis, fora do cultivo alimentar, à medida que mais empresas de petróleo procuram produzir diesel ecológico a partir de ingredientes como soja e canola.
“As pessoas estão tentando transformar tudo, de madeira a esterco de vaca, em combustíveis”, disse Broussard. “Todos os tipos de tecnologias estão na mesa para ajudar a responder à pergunta: queremos abrir mão da metade de nossa comida para colocar em nosso carro?”
Como a transição energética vai se desenrolar é uma incógnita, mas no curto prazo, uma coisa é clara, disse Broussard: “Será altamente transformador”.
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