Bloomberg — A invasão da Ucrânia por Vladimir Putin colocou em evidência a falta de regulamentação nas classificações ESG após fundos anunciados como socialmente conscientes terem investido em um regime que agora está sendo acusado de crimes de guerra.
Na véspera da invasão, cerca de US$ 9,5 bilhões em fundos que atendem aos padrões ambientais, sociais ou de governança europeus estavam investidos na Rússia, muitas vezes com base em classificações de empresas como Sustainalytics e MSCI.
Embora os avaliadores de ESG não estivessem sozinhos ao julgar mal a beligerância da Rússia, a exposição é constrangedora, visto que seus analistas são pagos para focar em fatores como democracia, direitos humanos e outros quesitos sociais e de governança. Autoridades regulatórias estão agora pedindo um trabalho urgente para esclarecer as inúmeras normas e práticas usadas para gerar as classificações.
“Precisamos repensar isso de alguma forma”, disse em entrevista Erik Thedeen, presidente da Força-Tarefa de Finanças Sustentáveis da Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários (IOSCO). “Esta guerra desastrosa serviu para abrir nossos olhos. Toda a comunidade ESG precisa pensar em como lidar com empresas estatais” em países que violam os direitos humanos.
Os avaliadores de ESG analisam grandes quantidades de dados, desde uso da água até igualdade de gênero, para chegarem a uma nota que em alguns casos se parece com as classificações de risco tradicionais de agências como Moody’s (MCO) e Fitch. A diferença é que as classificações de risco evoluíram ao longo de décadas, tendem a ser bem compreendidas pelos investidores e são regulamentadas.
Por outro lado, existem mais de 600 padrões e estruturas, provedores de dados, classificações e rankings medindo os riscos relacionados a ESG, de acordo com o Federação Bancária Europeia.
Apesar de a maioria dos avaliadores ter levado em consideração o histórico da Rússia de suprimir a dissidência doméstica e de agressão no exterior, isso não impediu que recebesse sinal verde para investimentos em ESG. A MSCI classificou o país como BBB até a invasão de 24 de fevereiro. Em seguida, cortou a nota do governo para B, e depois para CCC.
A MSCI disse que a classificação anterior da Rússia, que se beneficiava de uma força de trabalho qualificada e abundância de recursos naturais, foi afetada por pontuações muito baixas em governança política devido a questões como democracia, liberdade de imprensa e direitos políticos. A classificação também levou em conta a anexação da Crimeia em 2014, disse a empresa.
A IOSCO, cujos membros regulam os mercados de valores mobiliários mundiais, disse em novembro que as empresas de classificação devem fornecer maior transparência sobre como chegam a suas conclusões e revisar regularmente sua metodologia. A Autoridade Europeia de Valores Mobiliários e Mercados está conduzindo uma pesquisa junto ao setor antes de prováveis recomendações de regulamentação.
O porta-voz da Federação Europeia de Investidores e Usuários de Serviços Financeiros, Arnaud Houdmont, disse que os emissores e títulos russos deveriam ter sido rebaixados de um pontos de vista de ESG imediatamente após o país ocupar a Crimeia em 2014.
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