Mercado declina com nova onda de sanções e inversão da curva dos bônus dos EUA

Futuros nos EUA e bolsas europeias apagam ganhos ante receio de que sanções levem a escassez de matéria-prima energética; inversão da curva de bônus também preocupa

As variáveis que orientarão os mercados
05 de Abril, 2022 | 08:44 AM

Barcelona, Espanha — Os futuros de ações dos Estados Unidos e as bolsas europeias apagaram os ganhos do início da manhã depois que a União Europeia propôs a proibição das importações de carvão da Rússia, aumentando a pressão sobre Moscou por causa da invasão à Ucrânia e da alegação de que o país estaria cometendo crimes de guerra contra civis ucranianos.

A Rússia fornece cerca da metade do carvão térmico do continente, utilizado para alimentar centrales elétricas e gerar eletricidade. A reação dos mercados foi imediata. Instantes atrás, os futuros de índices dos EUA, que no começo do dia chegaram a subir, mostravam perdas. Na Europa, as bolsas também foram de mais a menos. Os títulos soberanos também perdiam valor ao mostrar maiores prêmios. O petróleo avançava.

A guerra nubla o cenário, a disparada dos preços das matérias-primas deteriora indicadores econômicos e um aperto monetário está em curso ao redor do globo. O ressurgimento da Covid-19 na Europa e na Ásia turva ainda mais as perspectivas de crescimento global.

↪️ Atenção à curva

Os prêmios dos bônus do Tesouro norte-americanos de 10 anos subiam pelo terceiro dia seguido, com os holofotes direcionados à inversão das curvas de rendimento dos títulos com diferentes prazos de vencimento, que pode sinalizar uma retração econômica. Os investidores pedem prêmios de 2,46% para carregar os títulos de 10 anos e 2,47% para os ativos com dois anos de prazo.

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Na Europa, os títulos também são abalados por notícias, divulgadas hoje, segundo as quais os custos de insumos para as empresas francesas de serviços aceleraram para um recorde.

A curva de prêmios de títulos do Tesouro dos EUA  mostra uma inversão sem precedentes

📊 A macro do dia

O destaque são os Índices de Gerentes de Compras (PMI) consolidados de vários países. Ao compilar dados sobre a compra de materiais para a fabricação de produtos, o indicador dá um panorama sobre a situação e a direção da economia.

🏦 Informação que vale ouro

Amanhã o Federal Reserve (Fed) divulga as atas da reunião de 16 de março, quando deu sinais de que o aumento dos juros não termina aí. São informações valiosas para o mercado, que deverá operar em modo de espera.

🔴 Olhos na guerra

Nova rodada de sanções contra a Rússia. O país está sendo acusado de cometer atrocidades contra civis ucranianos. EUA e União Europeia preparam-se para endurecer as penalizações. O crescente isolamento da Rússia semeia preocupações sobre as interrupções no fornecimento de mercadorias, sobretudo matérias-primas energéticas.

Em tempo: O Tesouro dos EUA suspendeu os pagamentos da dívida em dólares das contas do governo russo em bancos norte-americanos, forçando Moscou a encontrar fontes alternativas de financiamento para pagar os investidores em títulos. O movimento foi concebido para forçar a Rússia a escolher entre três opções pouco atraentes - esgotar as reservas de dólares mantidas em seu próprio país, gastar novas receitas ou entrar em inadimplência, disse um porta-voz do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro, que discutiu detalhes da decisão sob condição de anonimato.

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Um panorama dos mercados

🟢 As bolsas ontem: Dow (+0,30%), S&P 500 (+0,81%), Nasdaq (+1,90%), Stoxx 600 (+0,84%), Ibovespa (-0,24%)

Mesmo com as tensões sobre a guerra na Ucrânia e a possibilidade de novas sanções contra a Rússia, as bolsas internacionais iniciaram a semana com ganhos. As ações de tecnologia, impulsionadas pelo desempenho do Twitter, foram o destaque. Os papéis da rede social saltaram 27% com a notícia de que Elon Musk, CEO da Tesla e o homem mais rico do mundo, comprou uma participação de 9,2% na empresa. O valor de mercado desta fatia gira em torno dos US$ 2,89 bilhões. Os preços do petróleo subiram, apagando parte do declínio na semana passada, que constituiu a maior queda semanal em mais de 10 anos.

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Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

• Feriado na China e em Hong Kong (Festival Ching Ming)

• Indicadores PMI: Estados Unidos, Brasil, Zona do Euro, Alemanha, Reino Unido, França, Espanha, Itália, Hong Kong, China

• EUA: Balança Comercial/Fev; PMI Indicadores ISM do Setor Não-Manufatureiro/Mar; ISM Atividade Empresarial Não Manufatureira/Mar); Estoques de Petróleo Bruto Semanal API; Vendas de Veículos

• Europa: França (Produção Industrial/Fev); Itália (Déficit Público/4T21)

• Bancos centrais: Discursos de Neel Kashkari, Lael Brainard e Williams (Fed/FOMC). Decisão sobre taxas de juros na Austrália

📌 E para amanhã:

• EUA: Pedidos de Hipotecas MBA; Índice de Compras MBA; Índice do Mercado Hipotecário; Atividade das refinarias de Petróleo pela EIA; Estoques de Petróleo Bruto; Relatório Semanal EIA de Estoques de Destilados; Produção e Estoques de Gasolina

• Europa: Zona do Euro (IPP/Fev); Alemanha (Encomendas à Indústria/Fev); Espanha (Confiança do Consumidor)

• Ásia: Japão (Reservas Internacionais/Mar)

• América Latina: Brasil (IGP-DI/Mar; Fluxo Cambial Estrangeiro); México (Investimento Fixo Bruto/Jan)

• Bancos centrais: Atas da Reunião do FOMC; Discurso de Luis de Guindos, Fabio Panetta, Philip Lane (BCE), Asahi Noguchi (BoJ)

-- Com informações de Bloomberg News

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.