Bloomberg Línea — A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, causou mal-estar na noite de segunda-feira (4) em um jantar com executivos da Faria Lima e empresários ao defender a redução das margens de lucro da Petrobras (PETR4) e a volta da política de juro subsidiado do BNDES, disseram à Bloomberg Línea três participantes do evento que preferiram não se identificar.
Segundo um participante, Gleisi defendeu uma política de suavização dos preços dos combustíveis, afirmando que a Petrobras tem custos em reais para extração de petróleo e uma margem muito grande em relação aos pares internacionais. Por esse motivo, não faria sentido, segundo Gleisi, praticar no Brasil os preços dos EUA já que a questão mexe com toda a cadeia produtiva, disse um dos presentes no jantar.
Gleisi chegou acompanhada do economista Gabriel Galípolo, 39, ex-presidente do Banco Fator, que foi apresentado como conselheiro do PT na área econômica. Galípolo é visto como seguidor de Luiz Gonzaga Belluzzo, economista ligado ao PT. O jantar reuniu cerca de 30 pessoas na casa do empresário João Camargo, do grupo Camargo de comunicação, incluindo Abilio Diniz (Carrefour), Cândido Pinheiro (Hapvida), José Olympio Pereira (ex-Credit Suisse), Flavio Rocha (Riachuelo), Nicola Calicchio (ex-Softbank), Florian Bartunek (Costelattion), entre outros.
Também participou Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula e do PT na Justiça Eleitoral.
Teto de gastos e reforma trabalhista
No jantar, segundo dois dos participantes, a presidente do PT disse que Lula e o partido querem que a Petrobras volte para o segmento de refino de combustíveis, entre outros negócios que deixou depois da Operação Lava Jato. Também se mostrou contrária à privatização da Eletrobras (ELET6) e defendeu a revisão do Teto de Gastos e da reforma trabalhista.
As afirmações de Gleisi teriam deixado os participantes desconcertados, mas em nenhum momento houve um confronto e o clima foi respeitoso e cordial, disse um executivo da Faria Lima. Os participantes, no entanto, saíram com a impressão de que o PT tentará impor as mesmas políticas do governo Dilma, que mais tarde se mostraram equivocadas, na avaliação desse participante do jantar.
Gleisi foi questionada diversas vezes por participantes do jantar sobre as políticas adotadas pela ex-presidente Dilma Rousseff, da qual foi foi ministra-chefe da Casa Civil, disse um outro participante. Gleisi defendeu Dilma, mas reconheceu alguns equívocos do governo petista, afirmou essa fonte.
Em vários momentos, o anfitrião se posicionou para esclarecer que as ideias defendidas por Gleisi eram a posição oficial do partido naqueles assuntos e que não necessariamente representaria a forma como Lula se posicionaria sobre aquelas questões, disse um empresário.
A presidente do PT não foi no evento na qualidade de interlocutora de Lula com a Faria Lima e com os empresários, disse outro participante. Camargo está chamando os presidentes de partidos políticos para reuniões com executivos do mercado financeiro e empresários. Por esse motivo, Gleisi foi a convidada, afirmou a fonte.
Diálogo e previsibilidade na economia
Segundo um dos presentes ao jantar, Gleisi deixou claro que aquelas eram as posições do partido e não da plataforma de campanha de Lula. De acordo com essa fonte, Gleisi procurou assegurar aos empresários que um eventual governo Lula será pautado pelo diálogo com todos os setores e pela previsibilidade, especialmente na economia.
Antes da fala de Gleisi, que preferiu responder perguntas a fazer um discurso, Gabriel Galípolo citou alguns números da economia e disse que o próximo governo tem que ser pragmático para resolver os problemas econômicos, que, na visão dele, não estaria sendo suficiente para resolver os problemas do país, relatou outro participante do jantar.
Abilio Diniz interveio na fala do economista, de acordo com um dos presentes que falou à Bloomberg Línea sob a condição de não ser identificado. O empresário teria afirmado que, embora a economia brasileira não esteja bem, o mundo inteiro vive uma crise econômica e cobrou de Gleisi posições sobre o que o PT poderia fazer melhor do que o presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua equipe econômica.
Outro participante afirmou que sua referência econômica do PT seria a dupla Lula-Meirelles, e não Lula-Guido, relatou um dos presentes.
Já José Olympio Pereira teria questionado Gleisi sobre a posição do PT a respeito da reforma administrativa - o partido votou contra a proposta do governo na Câmara. Segundo a fonte, Gleisi explicou que o PT não é contra uma reforma no serviço público, mas viu problemas no texto apresentado pelo governo e defende que o assunto seja mais bem discutido com outros setores da sociedade.
(atualizado às 14h10 com relato de outro participante)
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