Petrobras: Impasse sobre comando da empresa derruba ações

Ações caem diante de desistência de indicados pelo governo de assumir cargos no conselho e na diretoria-executiva

Indicado pelo governo federal para presidir a Petrobras, economista Adriano Pires comunicou que desistiu de aceitar o convite, segundo jornal
04 de Abril, 2022 | 04:28 PM

Bloomberg Línea — A Petrobras (PETR4; PETR3) entrou no mês de abril sofrendo com o clima de incertezas sobre o alto comando da estatal. No domingo (3), o empresário Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, comunicou ao governo que desistiu de presidir o conselho de administração da estatal. Nesta segunda-feira (4), o economista e consultor Adriano Pires enviou carta ao Ministério de Minas e Energia informando que também desistiu de aceitar o convite do governo para ser CEO da empresa, segundo o jornal O Globo.

A Assessoria de Comunicação do Ministério de Minas e Energia, ao qual a Petrobras está subordinada, informou à Bloomberg Línea que “o Palácio do Planalto e o Ministério de Minas e Energia não receberam nenhum comunicado oficial do senhor Adriano Pires nesta segunda-feira”.

A ação preferencial da Petrobras terminou o dia negociada em queda de 0,9%, cotada a R$ 32,70. Pela manhã, o papel chegou a cair 2,4%. Já as ações ordinárias recuaram 1,02%, negociadas a R$ 34,87.

O impasse começou na semana passada, quando o governo enviou a lista de seus indicados para o conselho de administração e não renovou a indicação do general Silva e Luna como presidente - seria substituído por Adriano Pires.

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Segundo O Globo, Pires desistiu do convite depois que um relatório apontou situações em que ele estaria em conflito de interesses. Como consultor, Pires tem como clientes empresas do setor de petróleo e gás e distribuidoras de combustíveis.

Para solucionar o problema, a indicação seria que ele deixasse o conselho de sua empresa, o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), hoje presidido por seu filho - que provavelmente também teria que deixar o cargo. O Ministério Público no Tribunal de Contas da União chegou a pedir a suspensão da indicação até que a situação fosse esclarecida.

O governo, no entanto, não tem plano B para a presidência da Petrobras e deve continuar a aposta em Pires, mas especula-se até mesmo que Silva e Luna pode voltar ao cargo - o general, no entanto, não foi comunicado sobre nenhuma mudança em sua situação e continua fora da empresa. A União tem até 13 de abril para fechar as indicações para a Petrobras.

“Caso seu nome seja rejeitado, haveria duas opções: um dos conselheiros assume como conselheiro interino e CEO até que seja convocada nova assembleia geral extraordinária; ou o conselho escolhe outro CEO dentre os demais conselheiros. Acreditamos que a primeiro opção seria mais provável”, escreveram os analistas Vicente Falanga, do Bradesco BBI, e Ricardo França, da Ágora Investimentos, em nota enviada aos clientes nesta manhã.

Flamengo

Na carta enviada ao governo para explicar seus motivos, Rodolfo Landim informou que seus compromissos no Flamengo impediriam que ele se dedicasse às tarefas de presidente do conselho da Petrobras.

Os analistas destacam que as notícias sobre o futuro da Petrobras devem trazer mais volatilidade às ações até que um novo nome seja proposto pelo acionista controlador. “Normalmente, a Petrobras realiza uma verificação de antecedentes antes que os nomes sejam votados na assembleia de acionistas. Desta vez, os nomes foram sugeridos no último minuto, então existe a possibilidade de que a verificação completa de antecedentes não tenha sido totalmente realizada antes da reunião de 13 de abril”, dizem.

O calendário eleitoral, combinado com a disparada dos preços dos combustíveis, também entra nesse contexto sobre a Petrobras.

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O ex-presidente Lula (PT), que está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, tem usado o tema para criticar seu rival, o presidente Jair Bolsonaro (PL). Na última terça-feira (29), em debate sobre os impactos dos preços dos combustíveis e o futuro da Petrobras, Lula criticou Adriano Pires por suas posições favoráveis à privatização da estatal e o chamou de “lobista”.

(Notícia atualizada às 17h31 com cotação do fechamento)

Veja também:

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Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.