São Paulo — Depois de estrelar a campanha de vacinação do governo de São Paulo, reforçando seu posicionamento de responsabilidade social com seu público, a Galinha Pintadinha, uma das personagens infantis mais populares do Brasil, terá uma loja oficial no AliExpress, marketplace chinês que tira o sono dos varejistas brasileiros.
A investida chega no momento em que empresários do varejo nacional, como Luciano Hang, da Havan, e Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multilaser, pressionam o governo federal a conter o avanço de plataformas chinesas como AliExpress e Shein, que adotam promoções agressivas e ganham participação de mercado no Brasil. O setor acusa o varejo chinês de práticas de competição desleal, como a venda de produtos no país sem o ônus da tributação.
A Receita Federal estuda uma MP (Medida Provisória) para impedir que empresas de comércio eletrônico estrangeiras vendam mercadorias para brasileiros sem pagar os devidos impostos, noticiou o jornal Folha de S.Paulo, no último dia 25 de março, atribuindo a informação ao secretário especial da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes. A mudança, se efetivada, deve atingir markeplaces como AliExpress e Shopee, segundo a publicação. Gomes explicou que a mudança permitirá verificar o fluxo financeiro das operações e comparar com o que é declarado na importação das mercadorias. Segundo a Folha, Gomes disse que a medida coibirá o que chama de “camelódromo virtual”.
O AliExpress, site de vendas internacionais do grupo chinês Alibaba, tem adotado uma estratégia agressiva de crescimento no Brasil. No último dia 28 de março, por exemplo, iniciou um período de 5 dias de promoções, em que milhares de novos itens foram incluídos, temporariamente, na categoria frete grátis e muitos produtos tiveram redução de preço de até 80%.
Em agosto do ano passado, o AliExpress anunciou que, com a abertura de seu marketplace para todos os vendedores brasileiros, os lojistas poderiam se beneficiar, sem nenhum custo mensal, do tráfego e dos milhões de usuários que o AliExpress acumulou no Brasil em mais de uma década.
Uma pesquisa da Webshoppers da NielsenIQ|Ebit e Bexs Pay mostra que fazer compras em sites estrangeiros, como o AliExpress e Shopee, foi um jeito de economizar para muitos brasileiros. Em 2021, 56% dos entrevistados compraram por meio da Shopee (eram 8% em 2020) e 21% por meio da Shein (praticamente inexistente no Brasil até então). Já AliExpress e Amazon, conhecidas há mais tempo, foram acessadas por 44% dos consumidores (ante 52% e 49% em 2020, respectivamente).
“A avaliação dos brasileiros aos sites estrangeiros é a melhor dos últimos três anos, em grande parte por conta da redução no tempo de entrega. Isso demonstra que o brasileiro tem apetite por consumir produtos do exterior, sendo impedido muitas vezes por questões técnicas da jornada de compra. Com a melhora nessa experiência, o e-commerce cross-border deve crescer ainda mais”, disse Marcelo Orsanai, Head de e-commerce da NielsenIQ|Ebit.
Em janeiro, o site do AliExpress registrou 399,7 milhões de visitas, sendo 10% provenientes do Brasil, seguido por Espanha (8%), EUA (7,71%) e Rússia (7,47%), segundo dados da Similarweb, que monitora o tráfego do comércio eletrônico.
33 bilhões de views
Neste mês, a marca da Galinha Pintadinha pretende estrear sua loja global no AliExpress, tornando-se uma das poucas brasileiras a ter um espaço oficial na plataforma. Serão vendidas pelúcias da personagem com selo de certificação de qualidade, disse Juliano Prado, sócio-criador da Galinha Pintadinha.
“Contar com o AliExpress faz parte da nossa estratégia global de negócios para conseguirmos entregar e atender os fãs em todos os lugares do mundo. Além disso, temos a chance de levar produtos oficiais e licenciados para o mercado global com uma logística já muito bem estabelecida”, diz o empresário, em nota.
A loja pretende focar, principalmente, no mercado da América Latina, Estados Unidos e Europa. Segundo ele, a expansão possibilita levar os negócios e os personagens para diversas regiões do globo. Em terras brasileiras, os produtos da Popó continuam disponíveis pela Amazon Brasil. Já no México, os consumidores têm a opção de compra pelo Mercado Livre.
Surgido de um vídeo no YouTube, em 2006, o projeto musical viralizou na rede, alcançando recordes de visualizações e parcerias. Segundo Prado, a marca já rendeu cerca de 3 milhões de DVDs vendidos, centenas de produtos oficiais licenciados e mais de 33 bilhões de views dos canais em português e internacionais.
Responsabilidade social
A Bromelia Filmes é a criadora e detentora da marca Galinha Pintadinha. Disponível nos principais serviços de streaming, como a Netflix, a personagem também está na televisão, na TV Cultura, no SBT e no canal Nat Geo Kids. A Galinha Pintadinha, também chamada de Popó, é considerada o “primeiro personagem do bebê”, sendo uma das franquias mais fortes junto ao público pré-escolar de até cinco anos.
A responsabilidade social é um aspecto da imagem da personagem cada vez mais explorado, aumentando seu apelo com o público infantil. No começo do ano, a personagem foi a estrela da campanha de vacinação contra a Covid-19 no estado de São Paulo, transformando-se em “Galinha Vacinadinha”, aparecendo nos materiais publicitários veiculados pelo Governo do Estado de São Paulo, além do clipe com a Galinha Pintadinha, o Galo Carijó e o Pintinho Amarelinho que leva informação para as crianças e suas famílias, além de um jingle inspirado em suas canções.
Esta não é a primeira vez que a Galinha Pintadinha se envolveu em ações vacinais e medidas de prevenção de saúde. Em 2018, a galinha foi a protagonista de uma campanha com o Zé Gotinha, sobre a importância de manter a carteirinha de vacinação dos pequenos atualizada de acordo com o calendário vacinal.
(Atualiza às 13h20 com novos dados sobre o AliExpress, contexto do varejo e a franquia brasileira)
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