Longe da guerra, dívida latino-americana conquista investidor

Além de ser favorecida por alta nas commodities, região também não possui fortes laços com a Rússia

Goldman Sachs e Citigroup apreciam títulos do México
Por George Lei
01 de Abril, 2022 | 11:58 AM

Bloomberg — Bem distante da guerra na Ucrânia, a América Latina desponta como oásis de estabilidade em meio à derrapada dos títulos de dívida globais desencadeada pela invasão.

Os títulos soberanos e corporativos da região denominados em dólares geraram retorno de 0,4% desde que a Rússia invadiu a Ucrânia no final de fevereiro. Comparativamente, os títulos do Leste Europeu, Oriente Médio e África tiveram perda de 9,8%. A dívida asiática caiu quase 3%, segundo índices da Bloomberg. Foi também um período brutal para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que amargaram seu pior trimestre em décadas.

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Investidores migraram em massa para a América Latina no último mês, fugindo de títulos diretamente afetados pela guerra. Ao contrário da maioria das nações em desenvolvimento da Europa, as principais economias latino-americanas não têm vínculos comerciais tão fortes com a Rússia e ainda se beneficiam da disparada dos preços das commodities.

Títulos da América Latina se saem melhor que de outros mercados emergentes após estopim da guerra

O desempenho superior recente marcou uma reviravolta em relação aos dois primeiros meses do ano, quando os títulos latino-americanos foram atingidos por uma onda de vendas de ativos de países em desenvolvimento causada por temores em relação ao aperto pelo banco central americano. Embora os títulos da região tenham se recuperado, grande parte do mercado global de dívida continuou sofrendo com as preparações para uma sequência mais agressiva de elevações de juros nos EUA.

Energia e inflação

O salto nos preços das commodities devido a preocupações com um choque de oferta desde o início da guerra aumentou o interesse dos investidores em títulos emitidos pelas maiores produtoras de matérias-primas da América Latina. O mercado de dívida é a única maneira de investir em estatais como a Petróleos Mexicanos (Pemex) e a Corporación Nacional del Cobre de Chile (Codelco), que não têm ações listadas em bolsa.

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Petrolíferas quase estatais em países como Colômbia, Brasil e México são as escolhas de investimento de que gostamos na conjuntura atual”, disse Kathryn Rooney Vera, chefe de pesquisa macroeconômica global da Bulltick, que recomenda comprar e manter em carteira títulos de empresas de energia porque vê “espaço para mais valorização”.

Os preços mais altos das commodities beneficiam produtores de matérias-primas, mas também aumentam a inflação já elevada na região. Por esse motivo, os investidores estão optando por títulos atrelados à inflação, buscando proteção contra o avanço dos preços ao consumidor.

  Inflação no Brasil e no México devem ficar bem acima da meta dos bancos centrais

“Mantemos nossa alocação desproporcionalmente maior em papéis com juros reais no México e Brasil”, escreveram analistas do Citigroup (C) liderados por Andrea Kiguel em relatório divulgado em 29 de março. O Citi tem posições compradas em títulos atrelados à inflação do México, conhecidos como Udibonos, com vencimento em novembro de 2023, e em NTN-B do Brasil com vencimento em agosto de 2024. O Goldman Sachs (GS) também recomenda Udibonos, preferindo os que vencem em 2031.

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No Brasil e México, a inflação deve terminar 2022 acima do teto das metas definidas pelos respectivos bancos centrais, segundo pesquisa da Bloomberg. Em comparação, as expectativas de inflação em outros grandes mercados emergentes, como África do Sul e Indonésia, estão bem contidas.

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