Bloomberg — Autoridades chinesas se preparam para dar a órgãos reguladores dos Estados Unidos acesso total aos relatórios de auditoria da maioria das mais de 200 empresas chinesas listadas em Nova York. Seria uma rara concessão para evitar um maior distanciamento entre as duas maiores economias do mundo.
A Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China e outros órgãos reguladores nacionais estão elaborando um arcabouço que permitirá que a maioria das companhias chinesas mantenha a listagem no mercado acionário dos EUA, afirmaram pessoas familiarizadas com o processo, que falaram sob condição de anonimato. O governo chinês está disposto a aceitar que algumas empresas estatais e privadas detentoras de dados confidenciais tenham de sair do mercado americano, acrescentaram as fontes.
A expectativa é que esse arcabouço esclareça quais dados podem desencadear preocupações com a segurança nacional, segundo os entrevistados.
Os reguladores discutem se as empresas que lidam com informações sobre consumidores, como a Alibaba (BABA), automaticamente se encaixam nessa categoria, disse uma das pessoas.
Se o plano for adiante, a decisão marcaria um incomum recuo da China e poderia encerrar uma disputa de décadas que se agravou quando os EUA estabeleceram que as companhias não enquadradas sejam expulsas da Bolsa de Valores de Nova York e da Nasdaq até 2024. Uma concessão demonstraria a disposição da China em equilibrar questões e segurança nacional com as necessidades dos investidores e das empresas em um momento em que sua economia enfrenta inúmeros desafios.
Gary Gensler, presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (ou SEC, na sigla em inglês), esfriou especulações esta semana sobre uma solução iminente, sinalizando que somente o total cumprimento das exigências relacionadas à auditoria permitirá a continuidade da negociação dos papéis dessas empresas nos mercados dos EUA.
A China pode simplesmente transferir uma empresa para uma bolsa fora dos EUA se preferir proteger os documentos financeiros, disse Gensler em entrevista.
A Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China não quis comentar.
Há duas décadas, Washington e Pequim discordam sobre a ordem para que todas as empresas com instrumentos financeiros negociados publicamente nos EUA concedam acesso à documentação de auditoria. No final do governo do ex-presidente Donald Trump, parlamentares americanos passaram a exigir que as empresas desenquadradas fossem excluídas. A legislação é particularmente ameaçadora para companhias sediadas na China e em Hong Kong porque Pequim se recusou a conceder acesso a auditorias corporativas, citando preocupações com a segurança nacional.
Mais de 200 empresas chinesas estão listadas nos EUA por meio de certificados lastreados em ações estrangeiras. Seu valor de mercado somado chegava a US$ 2,1 trilhões em maio de 2021, de acordo com um relatório do governo americano. O Golden Dragon China Index da Nasdaq, que acompanha companhias chinesas listadas nos EUA, caiu mais de 50% no último ano.
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