As maiores altas e baixas da Bolsa no 1º tri e o que esperar neste trimestre

Setor financeiro e de energia elétrica foram destaques no período; blue chips e empresas ligadas a commodities também tiveram ganhos

Painel de cotações da B3
01 de Abril, 2022 | 07:59 AM

Bloomberg Línea — Cenário de alta de juros, forte pressão inflacionária, pandemia de covid-19, alta das commodities e, para piorar, guerra na Ucrânia. O primeiro trimestre de 2022 não foi para amadores na renda variável, com uma série de ventos contrários e forte volatilidade.

Ainda assim, o trimestre foi positivo para a ativos de risco, em especial na América Latina, que teve o melhor início de ano em três décadas na bolsa. No Brasil, o Ibovespa (IBOV) terminou o período em alta de quase 15%.

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Na Bolsa brasileira, o setor vencedor no período foi o financeiro, com rentabilidade acumulada de quase 25%, superando o desempenho do principal benchmark de renda variável brasileiro. Isso aconteceu, segundo Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da casa de análise Levante, por conta de nomes considerados descontados na B3 em relação aos seus múltiplos históricos, como é o caso de grandes bancos.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, chama atenção ainda para o cenário de alta da Selic, que é benéfico para bancos, permitindo aumento de spread de crédito e, consequentemente, de rentabilidade para as instituições financeiras.

Outros setores que se destacaram foram o de energia elétrica, que subiu cerca de 11%. “O setor, que em teoria é defensivo, teve uma alta significativa e foi o segundo de maior destaque em meio à alta do custo de energia, levando a essa migração do fluxo financeiro. É um setor que oferece proteção contra a inflação”, afirma Cozzolino.

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No holofote dos investidores, o setor de materiais básicos também chamou a atenção nos últimos meses diante da forte alta das commodities. Mesmo assim, destaca o sócio da Levante, o setor teve alta de apenas 7%.

“Quando olhamos papel a papel do setor, certamente muda a análise, dado que Bradespar (BRAP4) subiu 32,4% e Vale (VALE3), 23% – e como a mineradora tem peso relevante no índice, por exemplo, contribuiu bastante para a alta. Gerdau (GGBR4) também esteve entre os destaques, com ganhos de 13%”, diz Cozzolino.

Maiores altas e baixas no trimestre

O destaque positivo nos três primeiros meses do ano ficou com as ações de Carrefour Brasil (CRFB3), que tiveram ganhos da ordem de 48% no período. A explicação para esse movimento, segundo Fernando Siqueira, head de Research da Guide Investimentos, recai sobre a preferência de investidores por ações consideradas “de valor” nos últimos meses, em meio à maior volatilidade e incerteza.

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No quarto trimestre de 2021, o Carrefour reportou lucro líquido ajustado de R$ 766 milhões, uma redução de 13,5% em relação ao mesmo período de 2020. A margem líquida atingiu 3,7% no período, baixa de 0,7 ponto percentual em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.

Já no acumulado do ano, o varejista lucrou R$ 2,4 bilhões, recuo de 13% na comparação com 2020.

Destaque ainda para os papéis ligados às commodities, que se beneficiaram em meio à alta dos preços do minério de ferro e do petróleo no mercado internacional diante das preocupações com a oferta.

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Já na ponta oposta, Embraer (EMBR3) liderou as perdas nos primeiros três meses do ano, com baixa de 40%.

Maiores altas e baixas em março

Após B3 (B3SA3) e SulAmérica (SULA11) se destacarem entre as melhores performances do Ibovespa em janeiro e fevereiro, respectivamente, a ganhadora do mês de março foi CVC Brasil (CVCB3), com ganhos de 33%.

No quarto trimestre de 2021, a companhia registrou um prejuízo líquido de R$ 145,8 milhões, revertendo lucro de R$ 392,5 milhões apurados um ano antes. Segundo a empresa, o resultado líquido foi impactado positivamente por R$ 321,3 milhões, referentes a imposto de renda e contribuição social por conta de resultado negativo de 2020.

Destaque ainda para 3R Petroleum (RRRP3), que subiu 23,5% em meio ao momento favorável a commodities. Confira:

Asssim como no trimestre, Embraer (EMBR3) foi a ação do Ibovespa que mais caiu em março, com perdas de 15%. Destaque ainda para as baixas de 10,9% de Fleury e de 7,2% de Braskem. Confira:

O que esperar para o próximo trimestre?

Depois de um ciclo favorável para bancos e commodities, a avaliação de especialistas do mercado financeiro é de que os investidores devem passar a olhar para outras estratégias nos próximos meses, buscando empresas mais cíclicas e de crescimento, como varejistas, por exemplo, que podem se beneficiar do cenário de fim de alta da taxa básica de juros.

Para Siqueira, da Guide Investimentos, apesar do bom desempenho de empresas ligadas às commodities, o melhor já passou e a relação entre risco e retorno já não está hoje tão atrativa. “As empresas de crescimento tinham um vento contrário, que era o Banco Central elevando os juros. Isso pressionou muito essas empresas, mas o processo [de alta da Selic] já está no fim, segundo o BC. Além disso, elas estão com valuation baixo, muito baratas, abrindo oportunidade”, diz.

A avaliação é compartilhada por Komura, da Ouro Preto Investimentos, que diz ver uma rotação para ações ligadas a consumo interno, como varejo de forma geral, caso de Lojas Renner (LREN3), Guararapes (GUAR3) e Assaí (ASAI3), por exemplo, que são mais sensíveis a juros e devem se beneficiar do fim do aperto monetário.

Empresas de e-commerce, como Magazine Luiza (MGLU3) e Mercado Livre (MELI), contudo, não devem surfar esse cenário benéfico, segundo o analista, por conta do aumento da competitividade em relação a players estrangeiros, que têm levado a um aumento no custo da aquisição de clientes e queda das margens.

Também devem se destacar nos próximos meses, à medida que os juros começarem a cair, empresas dos setores de construção civil, shopping centers, além de empresas de utilities, consideradas mais defensivas, dadas as eleições no horizonte, diz.

Segundo Komura, apesar de perspectivas positivas para as commodities, com os preços se mantendo em patamares elevados, o cenário já está embutido no preço dos ativos, sem muito espaço para ganhos adicionais. “Quando olhamos o preço [das ações do setor], muita coisa boa já está embutida, como redução da alavancagem e distribuição de rendimentos. Agora seria um bom momento para embolsar os ganhos no setor”, diz.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.