Bloomberg — A pandemia nos levou a repensar muitas práticas e rotinas da vida profissional, como trabalhar em casa, fazer reuniões e entrevistas online. Agora, um outro passatempo do universo do trabalho está pronto para uma reavaliação: as conferências presenciais.
O que as pessoas realmente querem de suas experiências interativas? O primeiro insight da era da pandemia é que a maioria das apresentações formais deveria simplesmente ser abolida. A triste realidade é que quase ninguém presta atenção, e talvez nem deveria.
Em vez disso, para o bem ou para o mal, há uma oferta quase infinita de eventos no Zoom. O Zoom não continuará tão presente como esteve em seu pico de pandemia. Mas há apresentações no Zoom, razoavelmente credenciadas, quase todos os dias, muitas delas abertas ao público.
Eu recuso quase todos esses convites do Zoom. A maioria têm o formato de apresentações expositivas, e eu prefiro modos mais interativos. Além disso, tenho andado muito ansioso e impaciente. Se é para buscar material para alimentar meu intelecto na internet, prefiro o YouTube, onde posso parar o vídeo sempre que quiser para um lanchinho ou exercício.
Na próxima vez que você estiver participando de uma apresentação formal em uma conferência, faça a si mesmo estas perguntas: isso é melhor do que todas os outros eventos do Zoom que estou recusando? Isso é melhor do que o próximo melhor vídeo do YouTube que eu poderia estar assistindo? Para a maioria das pessoas, as respostas são óbvias. Os organizadores de conferência precisam estar dispostos a puxar o gatilho e conduzir as apresentações a uma aposentadoria tranquila.
Apresentações carismáticas ainda podem ter seu lugar para motivar uma equipe de vendas ou para construir um senso de união entre um grupo. Mas as apresentações meramente informativas estão obsoletas.
No início da minha carreira, eu ia a eventos profissionais não para ouvir, mas para conhecer outras pessoas interessadas no tema. Isso fazia sentido na época, mas hoje em dia a tecnologia da informação oferece alternativas superiores. Por exemplo, já estive em conferências que têm sessões de “encontros rápidos”, numa dinâmica que lhe permite conhecer muitas pessoas por, digamos, dois minutos e depois passa para o próximo encontro, num formato de rodízio. Isso poderia se tornar uma prática mais regular. Os organizadores da conferência também podem criar “grupos de encontros rápidos” onde todos os interessados em uma área específica têm a chance de se encontrar.
Outra prática maravilhosa estimulada pela pandemia que deve ter continuidade e de fato pode se estender a todas as conferências: sessões ao ar livre, especialmente com discussões em grupo.
Obviamente, isso não funcionará em todos os locais em todas as épocas do ano. Mas deve haver mais conferências em lugares quentes no inverno, digamos, ou na Europa em maio, ou em San Diego em qualquer época do ano. Apenas promova encontros ao ar livre e deixe as pessoas falarem, certificando-se de que as tarefas da mesa e do grupo as impeçam de se agrupar com seus conhecidos, permitindo assim, a troca entre novos colegas.
Olhando para trás, me surpreende quantas conferências anteriores nunca consideraram esse formato de debates e trabalhos ao ar livre como uma prática geral e formalizada. Podemos olhar para o tema em termos históricos e evolutivos. Os seres humanos, à medida que evoluíram ao longo dos milênios, passaram uma quantidade enorme de tempo conversando uns com os outros do lado de fora. Não deve surpreender que isso seja o que muitas vezes queremos fazer. Os organizadores da conferência devem atender a essa demanda.
Outra lição da pandemia é que está tudo bem, obrigado, ter menos conferências. Conheço muitas pessoas que ficaram “famintas por conferências” durante a pandemia. Elas realmente começaram a ansiar por assistir a esses eventos estranhos. Por sua vez, tenho evidências anedóticas de que as conferências das quais participei ou organizei recentemente foram muito mais populares do que as anteriores. Isso sugere um nível mais alto de apreciação e entusiasmo quando há menos oferta de conferências. Talvez esse seja um mundo melhor para todos.
Observe também que a proposta de “menos conferências” é altamente compatível com a sugestão de “mais conferências em lugares agradáveis onde você pode sentar ao ar livre”. Isso é uma má notícia para aquelas conferências de inverno em Chicago e Filadélfia (estou falando com você, Associação Americana de Economistas).
Finalmente, minha implicância pessoal: a maioria das conferências, mesmo as exclusivas, serve comida horrível. Quando organizo conferências, contrato fornecedores indianos para dar aos participantes algo um pouco diferente e um pouco melhor – além de ser mais barato e ótimo para vegetarianos. Não estou dizendo que toda conferência deve servir comida indiana. Mas se você está se dando ao trabalho de reunir pessoas vindas de longe, você também pode considerar servir algo mais apetitoso do que peito de frango grelhado.
Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. Um de seus livros é “Big Business: A Love Letter to an American Anti-Hero.”
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
– Esta coluna foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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