Mercados inclinam-se para o negativo por incerteza sobre guerra e danos econômicos

Futuros de índices nos EUA e bolsas europeias mostram variações frágeis, mas agora queda predomina; petróleo cai com força ante possível liberação de reservas

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Barcelona, Espanha — Oscilações frágeis e pendendo para o negativo. Os mercados acionários parecem reticentes sobre que caminho seguir - depois de subir, a maioria dos futuros de índices norte-americanos mudava de rumo, seguindo o desempenho das bolsas europeias. A forte queda dos preços do petróleo e a retomada das negociações de paz entre Rússia e Ucrânia melhoram o tom dos mercados. Porém, os indicadores que já mostram sinais de deterioração econômica, além de uma inflação mais potente, freiam o ímpeto comprador em bolsa.

As ações de grandes empresas norte-americanas de energia, como Exxon Mobil Corp. e Occidental Petroleum Corp, caíam nas operações prévias à abertura, levando os futuros de índices a deter uma valorização. Os títulos do Tesouro dos EUA se recuperavam, enquanto o dólar subia. Os preços do petróleo tinham queda pronunciada. Na Europa, queda generalizada entre os índices acionários. As cotações do ouro declinam.

As ações globais se encaminham para o seu pior trimestre em dois anos, em meio a preocupações sobre uma desaceleração do crescimento econômico, com a guerra na Ucrânia impulsionando a volatilidade nos mercados de commodities. Os investidores também avaliam a perspectiva de uma retirada mais acentuada dos estímulos monetários, pois a inflação acelerada força os bancos centrais a se tornarem mais agressivos com as altas das taxas de juros. Os mercados vêem agora uma forte chance de o Federal Reserve (Fed) elevar as taxas em meio ponto em sua reunião de maio.

🛢️ Aceno positivo

O governo dos Estados Unidos analisa um plano para liberar aproximadamente um milhão de barris de petróleo por dia de suas reservas. Segundo fontes a par do tema, esta liberação poderia chegar a 180 milhões de barris, a ser feita ao longo de vários meses. Com isso, a ideia é combater o aumento dos preços da gasolina e a escassez de abastecimento com as sanções à Rússia.

⚪ Nova rodada de negociações

Uma nova centelha de esperança vem com a informação de que oficiais de ambos os países estão prontos para retomar, amanhã, conversas por videoconferência, segundo o negociador ucraniano David Arakhamiya. O Kremlin ainda não se pronunciou sobre este encontro. As discussões seguiriam as conversações presenciais desta semana na Turquia, que não produziram um cessar-fogo de curto prazo ou grandes progressos em direção a um acordo de paz mais amplo.

👀 Atenção à macro

O mercado tem hoje uma série de dados importantes para avaliar, como o deflator de consumo PCE dos Estados Unidos, que é o principal indicador de inflação que orienta o Federal Reserve. A projeção é de que suba 6,4%, contra 6,1% da leitura anterior.

A inflação está disparando na Europa. A inflação da Alemanha alcançou um recorde histórico em março (+7,3%, contra +6,2% esperados e +5,1% anterior), segundo anúncio feito ontem. Na Espanha, a alta dos preços foi de 9,8%, a maior taxa desde 1985, bem acima dos 8% esperados e dos 7,6% de fevereiro.

🔴 Um dado que causou surpresa esta manhã foi o PMI da China: O setor manufatureiro chinês voltou ao campo da contração em março, depois de quatro meses seguidos de expansão. Os novos surtos de covid-19 no país, que obrigaram a China a decretar novos bloqueios, já mostraram seus efeitos sobre a economia. O índice de gerente de compras (PMI), o indicador de referência do setor manufatureiro, caiu para 49,5 pontos de 50,2 em fevereiro. Qualquer leitura abaixo dos 50 pontos indica retração econômica. O PMI composto, que combina a atividade de fabricação e serviços, caiu de 51,2 para 48,8, seu segundo nível mais baixo da série histórica.

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🟢 As bolsas ontem: Dow (-0,19%), S&P 500 (-0,63%), Nasdaq (-1,21%), Stoxx 600 (-0,41%), Ibovespa (+0,20%)

As bolsas reverteram sua alta ao constatar que as negociações entre Rússia e Ucrânia não renderam os avanços esperados. Indicadores econômicos, como os de inflação da Alemanha e da Espanha, também pesaram negativamente. Por outro lado, o aceno de que o governo dos EUA pode liberar petróleo de suas reservas estratégicas, o que provocou uma queda nas cotações da commodity, favoreceu as operações em bolsa.

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

• EUA: Reunião da OPEP; Pedidos Iniciais de Seguro-Desemprego; Demissões Anunciadas Challenger/Mar); Índice de Preços PCE/Fev; Renda, Gastos e Consumo Pessoais/Fev; PMI de Chicago/Mar; Estoque de Gás Natural

• Europa: Zona do Euro (Taxa de Desemprego/Fev); Alemanha (Vendas no Varejo/Fev; Taxa de Desemprego/Mar); França (IPP, IPC e Gasto dos Consumidores/Fev); Reino Unido (PIB/4T21; Investimento das Empresas/4T21; Transações Correntes; Índice de Preços de Imóveis Nationwide/Mar); Espanha (Transações Correntes/Jan); Itália (Taxa de Desemprego/Fev; IPC/Mar); Portugal (IPC)

• Ásia: Japão (Encomendas de Construção/Fev; Construção de Novas Casas/Fev; Índice Tankan Projeção Industrial/1T22; PMI Industrial/Mar); Hong Kong (Massa Monetária M3; Vendas no Varejo/Fev); China (PMI Industrial Caixin/Mar)

• América Latina: Brasil (Taxa de Desemprego; Taxa de Longo Prazo TLP; Balanço Orçamentário/Fev)

• Bancos centrais: Discursos de Andrea Enria e de Luis de Guindos (BCE) e de John Williams (FOMC/Fed)

📌 E para amanhã:

• PMI Industrial/Mar: EUA, Canadá, Zona do Euro, Alemanha, Reino Unido, França, Espanha, Itália, Brasil, México

• EUA: Taxa de Desemprego/Mar; Folhas de Pagamento do Governo e do Setor Manufatureiro/Mar); Gastos de Construção (Mensal) (Fev); Índice de Novos Pedidos ISM/Mar; Preços no Setor Manufatureiro ISM/Mar

• Europa: Zona do Euro (IPC/Mar)

• América Latina: Brasil (Produção Industrial/Fev; Balança Comercial/Mar)

-- Com informações de Bloomberg News