Bloomberg — Aqui vai mais um dos crescentes sinais contraditórios de Wall Street sobre a economia: as ações de grandes empresas de tecnologia estão quebrando sua correlação histórica com títulos de longo prazo – uma divergência potencialmente insustentável.
Um fundo negociado em bolsa, ou ETF, que monitora empresas de altíssimo valor de mercado vem superando um ETF de referência que segue títulos do Tesouro americano há duas semanas – desde que o Federal Reserve iniciou seu ciclo de aperto monetário.
O Invesco QQQ Trust Series 1 – que acompanha o índice Nasdaq 100 (NDX) – até ontem (30) vinha subindo 7,9% desde 16 de março, ao passo que o iShares 20+ Year Treasury Bond ETF caiu quase 1%.
Isso contraria a tendência dos últimos anos, quando os dois ETFs geralmente andaram em sincronia. Por um lado, a ruptura reflete a convicção crescente de que as ações de tecnologia oferecem proteção contra uma inflação próxima das máximas de quatro décadas, principalmente devido à sua reputação de apresentar lucros independentemente das reviravoltas do ciclo de negócios.
Rendimentos mais altos de títulos tendem a reduzir o valor presente de lucros futuros – algo que pode prejudicar as empresas de tecnologia em particular devido a suas promessas de expansão de lucros ao longo de vários anos.
No entanto, apesar de certo salto nos rendimentos ao longo da curva do Tesouro, o caso de amor com as empresas gigantes perdura. Um outro ponto de vista é que a incerteza econômica sinalizada pelo mercado de títulos está levando os investidores a essas máquinas de lucro confiáveis, graças à forte base de usuários das cinco gigantes de tecnologia americanas – Apple (AAPL), Alphabet (GOOGL), Amazon (AMZN), Meta (FB), Netflix (NFLX) – e afins.
“Existem barreiras de saída para clientes, existem barreiras de entrada para concorrentes, existem receitas recorrentes que são muito confiáveis em um mundo muito incerto”, disse Lawrence Creatura, sócio-diretor do fundo de hedge PRSPCTV Capital.
A grande questão é se tudo isso pode durar. Para Matt Maley, estrategista-chefe de mercado da Miller Tabak + Co., a enorme diferença de desempenho dos dois ETFs reflete a discrepância entre como títulos e ações estão reagindo à postura cada vez mais hawkish do Fed.
Ele aposta que os preços do QQQ vão esfriar no segundo trimestre, à medida que as pressões inflacionárias persistentes minarem os lucros corporativos.
“A história nos diz que quando uma divergência se desenvolve, é o mercado de títulos que geralmente acerta, e o mercado de ações que não”, disse.
Ontem (30), o QQQ fechou com queda de 1,1%, enquanto o TLT subiu 0,8%.
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