Renda variável recua com atenção voltada a guerra, dados macroeconômicos e bônus

Tantos os futuros de índices nos EUA como as bolsas europeias operam em queda e mercado de títulos soberanos, que tentou alguma recuperação, volta a exibir prêmios maiores

As variáveis que orientarão os mercados
30 de Março, 2022 | 07:16 AM

Barcelona, Espanha — Hoje as bolsas testam a solidez do repique recente e a resistência dos investidores a embolsar os ganhos acumulados. A atenção ao noticiário se divide entre a esperança de que se materialize um cessar-fogo na guerra da Rússia, ainda que com boa dose de ceticismo, e a enxurrada de dados macroeconômicos. Indicadores ao redor do globo, sobretudo os de confiança e preços, já evidenciam os danos detonados pelo conflito bélico.

Esta manhã, caíam os futuros de índices nos EUA e a maioria das bolsas europeias - o britânico FTSE lutava por manter-se no azul. Ouro e petróleo, ao contrário, subiam. Depois de operarem em direções desencontradas, os títulos soberanos voltavam a perder valor nominal. Instantes atrás, os prêmios dos títulos norte-americanos de 10 anos subiam para 2,41%, enquanto os de 2 anos marcavam um yield de 2,32%.

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🤔 Mudança real ou nova tática?

Dentro da OTAN, no entanto, há aliados que encaram com ceticismo a promessa da Rússia de reduzir as operações militares na Ucrânia. Marcará um ponto de inflexão no conflito ou simplesmente uma mudança tática? O presidente Joe Biden disse que esperará para ver. Enquanto isso, o fluxo de refugiados fugindo da guerra na Ucrânia alcança os 4 milhões de pessoas após cinco semanas de luta

💥 Inflação em disparada

Um exemplo é o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Espanha, divulgado esta manhã. O indicador de março surpreendeu com uma alta de 9,8% na comparação anual, a maior taxa desde 1985. Ficou bem acima dos 8% esperados e dos 7,6% anotados em fevereiro. A pressão da guerra sobre as commodities energéticas, que dispararam ante as ameaças de desabastecimento pela Rússia, pesou sobre as contas de luz e de gás ao consumidor final.

Uma bateria de dados macroeconômicos globais está agendada para esta semana e os indicadores de confiança, se materializados, prenunciarão uma forte queda no consumo. O cenário se complica quando, para frear a inflação galopante, os bancos centrais anunciam um período de aperto monetário.

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A confiança na economia da Zona do Euro caiu para o nível mais fraco em um ano, com as expectativas de inflação pulando para o nível mais alto desde que os registros começaram em 1985.

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🚨 Começam os planos de contingência

As notícias em matéria de abastecimento estão longe de serem alentadoras. A Alemanha ativou um plano de emergência para ajudar a maior economia da Europa a administrar o fornecimento limitado de energia, uma vez que a Rússia poderia interromper as entregas de gás natural.

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O governo em Berlim iniciou a primeira das três fases possíveis do plano para lidar com o fornecimento de energia espremida, disse hoje o Ministro da Economia Robert Habeck. A primeira fase envolve o monitoramento intensivo do consumo e das reservas de gás.

A medida vem depois que a Rússia insistiu que os pagamentos de energia fossem feitos em rublos em vez de euros ou dólares, uma exigência que os funcionários do governo alemão rejeitaram. Os principais fornecedores de energia da Alemanha advertiram nos últimos dias que a disputa poderia levar a interrupções.

⤵️ Curva de... recessão?

Toda essa perspectiva imprecisa, aliás, tem sacudido os mercados de títulos. Pela primeira vez desde 2019, ontem o rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano de dois anos superou brevemente o prêmio do bônus dez anos. A inversão da curva de juros acende um alerta nos mercados porque reforçam a visão de que os aumentos das taxas pelo Federal Reserve podem causar uma recessão.

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A inversão de ontem ocorreu quando os rendimentos a dois anos aumentaram enquanto os rendimentos a 10 anos diminuíram, cruzando-se no ponto de 2,39%. Antes de 2019, quando a curva se inverteu em agosto durante uma disputa comercial dos EUA com a China, a última inversão persistente da curva do Tesouro ocorreu em 2006-2007.

Um panorama dos mercados na primeira hora do dia

🟢 As bolsas ontem: Dow (+0,97%), S&P 500 (+1,23%), Nasdaq (+1,84%), Stoxx 600 (+1,74%), Ibovespa (+1,08%)

O impulso veio com o anúncio da Rússia de que reduzirá “drasticamente” a atividade militar perto de Kiev e Chernihiv. Mais tarde, o Kremlin esclareceu que isso não significava um cessar-fogo na guerra que começou há mais de um mês na Ucrânia. Mas os primeiros indícios de um acordo levaram o mercado a encadear o quarto dia consecutivo de altas das bolsas.

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

• EUA: Pedidos e Juros de Hipotecas MBA; Índice de Compras MBA; Variação de Empregos Privados ADP/Mar; Núcleo de Preços PCE/4T21; PIB/4T21; Gastos dos Consumidores/4T21; Estoques de Petróleo Bruto; Atividade das refinarias de Petróleo pela EIA; Produção e Estoques de Gasolina

• Europa: Zona do Euro (Confiança de Empresas e Consumidores; Clima de Negócios, Expectativas de Inflação ao Consumidor; Confiança Industrial e nos Serviços - Mar); Alemanha (IPC/Mar); Espanha (IPC/Mar, Confiança Empresarial); Itália (IPP, Confiança Empresarial e do Consumidor, Vendas da Indústria/Mar); Portugal (Confiança do Consumidor e Empresarial/Mar)

• Ásia: Japão (Produção Industrial/Fev); China (PMI Composto e Industrial/Mar)

• América Latina: Brasil (IGP-M/Mar; IPP/Fev; Empréstimos Bancários/Fev; Fluxo Cambial Estrangeiro); México (Taxa de Desemprego/Fev; Balanço Fiscal); Chile (Produção Manufatureira/Fev, Desemprego/Fev)

• Bancos centrais: Pronunciamento de Ben Broadbent, do Banco da Inglaterra (BoE)

📌 E para amanhã:

• EUA: Reunião da OPEP; Pedidos Iniciais de Seguro-Desemprego; Demissões Anunciadas Challenger/Mar); Índice de Preços PCE/Fev; Renda, Gastos e Consumo Pessoais/Fev; PMI de Chicago/Mar; Estoque de Gás Natural

• Europa: Zona do Euro (Taxa de Desemprego/Fev); Alemanha (Vendas no Varejo/Fev; Taxa de Desemprego/Mar); França (IPP, IPC e Gasto dos Consumidores/Fev); Reino Unido (PIB/4T21; Investimento das Empresas/4T21; Transações Correntes; Índice de Preços de Imóveis Nationwide/Mar); Espanha (Transações Correntes/Jan); Itália (Taxa de Desemprego/Fev; IPC/Mar); Portugal (IPC)

• Ásia: Japão (Encomendas de Construção/Fev; Construção de Novas Casas/Fev; Índice Tankan Projeção Industrial/1T22; PMI Industrial/Mar); Hong Kong (Massa Monetária M3; Vendas no Varejo/Fev); China (PMI Industrial Caixin/Mar)

• América Latina: Brasil (Taxa de Desemprego; Taxa de Longo Prazo TLP; Balanço Orçamentário/Fev)

• Bancos centrais: Discursos de Andrea Enria e de Luis de Guindos (BCE) e de John Williams (FOMC/Fed)

-- Com informações de Bloomberg News

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.