Bloomberg — Uma onda de calor na Antártida que chegou no início deste mês foi tão extrema que pode ser o maior aumento de temperatura acima do normal já registrado, segundo Robert Rohde, cientista-chefe da organização sem fins lucrativos Berkeley Earth, que analisou registros globais.
A temperatura na estação de pesquisa Concordia, um posto europeu na Antártida Oriental, mediu quase 38,5°C mais quente que o normal em 18 de março, atingindo uma alta de -11°C (por mais quente que essa temperatura seja para a região, valor ainda está abaixo de zero). Embora esta não seja uma das estações de serviços meteorológicos mais proemientes, Rohde disse que a medição pode ser a maior margem de todos os tempos.
A onda de calor na Antártida está 38°C acima do normal. Não, esse não é um erro de digitação. A estação de pesquisa remota no Dome C registrou uma temperatura quase 40°C acima do normal para esta época do ano, superando o recorde anterior de março em surpreendentes 20°C.
O registro de temperatura na Antártida por satélite remonta apenas ao início da década de 1980 – não é muito tempo e os dados são esparsos em comparação com regiões mais quentes e populosas ao norte. Os poucos registros, combinados com a forte variabilidade natural normal para a área, torna a relação entre o aquecimento global e o evento prematura.
“É difícil dizer outra coisa senão que eu ficaria surpresa se não fosse um sinal de mudança climática”, disse Friederike Otto, professora sênior de ciência climática do Imperial College London e chefe da World Weather Attribution, que examina eventos extremos para influência humana. “Mas também não espero que seja um evento tão claro e avassalador quanto foi o caso do Canadá no ano passado”.
Em junho de 2021, uma onda de calor sem precedentes sobre a fronteira oeste dos Estados Unidos e Canadá elevou as temperaturas por dias. Lytton, na província canadense da Colúmbia Britânica, quebrou o recorde de calor de 84 anos do Canadá por três dias seguidos, antes de ser consumida por um incêndio florestal. A onda de calor na Antártida competiu com essa quanto ao choque.
“É equivalente à onda de calor do noroeste do Pacífico em junho de 2021″, disse Peter Neff, professor assistente de pesquisa em glaciologia da Universidade de Minnesota. “Não acredito que os pinguins ligaram muito para um pouco de calor como esse”, disse ele, mas se esse salto ocorresse em lugares onde as pessoas vivem, “isso teria sido super perigoso”.
Jonathan Wille, meteorologista e climatologista da Antártida na Universidade Grenoble Alpes, também comparou a enormidade da onda de calor ao evento de 2021, pois “foi completamente sem precedentes e redefiniu o que pensávamos ser possível no sistema climático”, disse ele. Ele afirmou concordar com a análise de Rohde.
O calor chegou em um rio atmosférico, um jato de ar úmido e quente que desliza pelo céu entre sistemas de alta e baixa pressão. O fenômeno trouxe uma enorme quantidade de neve, o que pode ajudar a proteger a área contra futuras ondas de calor.
O calor provavelmente desencadeou o colapso da plataforma de gelo Conger, que não era uma preocupação principal para muitos cientistas, mas chamou a atenção ao se desintegrar em duas semanas. Os cientistas monitoram de perto os eventos na Antártida Ocidental, onde as frágeis plataformas de gelo estão retendo as geleiras que podem, com o tempo, elevar o nível do mar em níveis catastróficos. A Conger, por outro lado, ficava no fim de um leito rochoso relativamente plano, com poucas oportunidades para que grandes quantidades de gelo deslizassem em direção ao mar.
“Não quero que as pessoas fiquem muito assustadas com este evento. Esta plataforma de gelo estava em estado bruto”, disse Neff, acrescentando que estava lá há milhares de anos. “Pouquíssimas pessoas realmente prestaram atenção na Conger até que ela desmoronou”.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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