Bloomberg — A escolha do presidente Jair Bolsonaro de um consultor de petróleo considerado “business-friendly” para liderar a Petrobras (PETR4) foi recebida com alívio por investidores preocupados com subsídios a combustíveis depois que a invasão russa da Ucrânia fez os preços dispararem.
Adriano Pires, um veterano do setor com 30 anos de experiência e que atua como diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, defendeu a capacidade da Petrobras de definir seus próprios preços em artigos recentes e considerou a fixação de preços anterior como populista. Ele sugeriu um fundo que permitiria ao governo subsidiar temporariamente os custos de combustível para acomodar choques, sem que a Petrobras tivesse que pagar por isso.
“A indicação tende a ser bem recebida e alivia parte do recente baixo desempenho das ações da Petrobras que acreditamos ser devido à possível interferência do governo na política de preços”, disse Conrado Vegner, analista de petróleo e gás do Banco Safra SA, em um comunicado aos clientes na terça-feira.
As ações da Petrobras fecharam em alta de 2,2% em São Paulo a R$ 32,30.
As turbulências no comando da Petrobras ressaltam o quão difícil é para os países em desenvolvimento - onde as despesas de transporte ocupam uma fatia maior do orçamento familiar - repassar os custos aos consumidores quando os preços aumentam. As opiniões de Pires sobre preços baseados no mercado serão postas à prova em um ano eleitoral em que políticos de todos os matizes estão procurando alguém para culpar pela dor na bomba.
Pires não respondeu imediatamente aos pedidos de comentário.
Ataque político
O antecessor de Pires, Joaquim Silva e Luna, foi afastado depois que Bolsonaro criticou repetidamente a Petrobras depois de aumentar os preços no início deste mês. O líder Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente, tem atacado regularmente Bolsonaro por causa dos altos preços das bombas antes das eleições em outubro. Em comentários à mídia local na terça-feira, Luna disse que a Petrobras precisa permanecer independente do governo.
“A empresa não pode fazer política partidária”, disse Luna em evento em Brasília. “A empresa não pode fazer política pública, não pode, a lei não permite.”
Três dos últimos quatro presidentes-executivos da Petrobras perderam seus cargos em meio à tensão dos preços dos combustíveis. Caso Pires seja confirmado na assembleia anual de 13 de abril, ele se tornará o 40º CEO desde 1954.
“Isso significa que a empresa está passando por uma interferência externa significativa, que acreditamos criar risco em torno da continuidade da estratégia da empresa”, disse o Citigroup (C) em nota aos clientes na terça-feira. Luna foi afastado do posto emprego mesmo vendendo diesel e gasolina abaixo dos preços internacionais durante o pico causado pela guerra da Rússia na Ucrânia.
Privatizar a Petrobras
Pires tem sido um defensor da participação estrangeira na indústria de petróleo do Brasil e da expansão da área de exploração, e trabalhou anteriormente na ANP (Agência Nacional de Petróleo) do Brasil. Como consultor, ele tem falado regularmente em conferências do setor e está familiarizado com os principais executivos do país.
Ele teve um papel na regulação para um mercado de gás natural no Brasil que foi aprovado durante a atual gestão, e tem sido a favor dos preços de energia baseados no mercado. Durante a década de 1990, Pires foi superintendente da recém-criada Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a agência reguladora do petróleo conhecida como ANP.
Quando os preços estavam subindo em outubro passado, Pires escreveu uma artigo dizendo que era “completamente errado” pensar que o Brasil poderia vender combustível com desconto apenas porque é um exportador de petróleo, e que o país não pode “esconder” subsídios reduzindo os preços de entrada das refinarias da Petrobras. Enquanto o governo permanecer no controle da empresa, continuará a perseguir práticas monopolistas.
“A solução definitiva virá com a privatização da Petrobras”, escreveu.
O próprio Bolsonaro sugeriu privatizar a produtora para que o governo não seja responsabilizado pelos preços dos combustíveis. Um plano semelhante para vender o controle acionário do governo na concessionária estatal Eletrobras está planejado para este ano.
“É uma coisa rotineira, não é um problema”, disse Bolsonaro a apoiadores em Brasília na terça-feira quando questionado sobre a mudança na Petrobras, segundo a Veja.
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