Xangai fecha metade da cidade para combater surto de covid

Cidade de 25 milhões de habitantes iniciou o lockdown de áreas a leste do rio Huangpu

Metade da cidade parada por quatro dias
Por Bloomberg News
28 de Março, 2022 | 11:55 AM

Bloomberg — Xangai ficará em lockdown em duas fases, alternando as duas metades da cidade, para realizar uma blitz de testes de covid em massa, enquanto as autoridades lutam para conter um surto, que está desafiando a abordagem chinesa de tolerância zero ao vírus como nunca antes.

Às 5h da segunda-feira (28), a cidade de 25 milhões de habitantes iniciou o lockdown de áreas a leste do rio Huangpu, que inclui seu distrito financeiro e parques industriais, por quatro dias. Depois disso, a outra metade da cidade, no oeste, entra em lockdown por mais quatro dias, e a primeira metade é liberada, segundo um comunicado do governo local no domingo (27).

Os moradores serão impedidos de sair de suas casas e o transporte público e os serviços de táxi e aplicativos serão suspensos. Carros particulares não serão permitidos nas estradas, a menos que seja justificado. A Tesla (TSLA) está estendendo a pausa de produção em sua fábrica de Xangai até quinta-feira (31), segundo fontes familiarizadas com o assunto. Algumas empresas financeiras correram para chamar funcionários para os escritórios antes do lockdown e disseram aos trabalhadores que se preparassem para dormir nos escritórios.

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As restrições abrangentes ocorrem quando a China experimenta sua pior disseminação de covid desde o surgimento do vírus em Wuhan, com mais de 6.000 casos de infecção local relatados em todo o país no domingo (27). O surto está colocando à prova a estratégia sanitária do país, que está se mostrando mais difícil de na prática, em meio a variantes mais contagiosas e está arrastando a segunda maior economia do mundo, à medida que o resto do mundo se normaliza.

Cerca de 62 milhões de pessoas no país estão em confinamento ou enfrentando um confinamento iminente, de acordo com cálculos da Bloomberg News.

A China recentemente adotou uma abordagem mais direcionada para lidar com surtos, como parte dos objetivos duplos do presidente Xi Jinping, de buscar eliminar o vírus e minimizar os impactos econômicos e sociais da estratégia Covid Zero. Mas o rápido aumento de casos em Xangai ressalta as limitações de tais medidas diante da cepa ômicron, altamente transmissível.

“O fracasso do modelo de lockdown direcionado é um grande revés, pois Xangai tem sido o teste para a China explorar um modelo alternativo que minimize os custos sociais”, escreveram os analistas do Oversea-Chinese Banking, Tommy Xie e Herbert Wong, em um relatório. “Isso pode atrasar o plano da China de flexibilizar sua política dinâmica de zero covid.”

A mudança em Xangai ocorre depois que as autoridades fecharam o centro de tecnologia de Shenzhen, no sul, no início deste mês, a cidade economicamente mais estratégica a sofrer tais restrições desde o início da pandemia. A mais de 3.200 quilômetros ao norte, Jilin, que faz fronteira com a Rússia, viu sua capital fechada em 11 de março e, dias depois, toda a província foi isolada. A região, um centro de fabricação de automóveis, permanece fechada.

As infecções em Xangai, que abriga a sede chinesa de muitas empresas internacionais e o maior porto do país, aumentaram nos últimos dias, apesar dos testes repetidos e ampliados. O centro financeiro registrou cerca de 3.500 novas infecções no domingo (27), de acordo com um relatório da CCTV, ultrapassando Jilin como o ponto de maior concentração de casos de covid do país.

Bolsa de valores e porto

A Bolsa de Valores de Xangai transferirá muitos serviços para o ambiente online e estendeu o prazo para as empresas listadas divulgarem declarações para as 23h, no horário local. As empresas também poderão solicitar o adiamento da publicação de seus lucros do ano inteiro. A cidade suspendeu o leilão de 36 terrenos. E as pessoas que desejam sair de Xangai precisarão ter resultados negativos em testes de covid.

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O porto de Xangai, o maior do mundo, manterá as operações durante o lockdown, informou o Securities Times. Companhias aéreas, ferrovias, transporte global de passageiros e carga estão operando normalmente durante a nova rodada de testes de ácido nucleico, disse Wu Jinglei, diretor da Comissão de Saúde de Xangai, em entrevista coletiva na segunda-feira (28).

O McDonald’s fechou lojas e interrompeu serviços em Pudong. A plataforma de entrega Meituan mostrou que a Pizza Hut e a KFC pararam de entregar no distrito, embora alguns pequenos restaurantes, que não pertencem a redes, ainda pudessem fornecer serviços. O shopping Century Link disse que suspenderá as operações por quatro dias.

A Nongshim, fabricante de macarrão instantâneo, suspenderá as operações em sua fábrica de Xangai entre 28 de março e 1º de abril e pode estender a interrupção dependendo da situação do lockdown. A fabricante de chips SK Hynix, bem como a Hyundai Oilbank, pediram aos funcionários que trabalhassem em casa.

Os lockdowns em Shenzhen e agora em Xangai, duas das cidades economicamente mais significativas da China, mostram o crescente custo - e o desafio - de manter uma abordagem de tolerância zero ao vírus em meio a variantes mais transmissíveis. Enquanto a maioria dos países passou a conviver com a covid, aceitando-a como endêmica, a China mantém sua estratégia de fronteiras fechadas, quarentenas obrigatórias e testes em massa, mesmo que se torne mais difícil a cada dia.

A economia da China enfrenta sua pior pressão de queda desde a primavera de 2020, durante a primeira onda da covid, escreveram os economistas da Nomura Holdings, no fim de semana. Xangai contribui com 3,8% para o produto interno bruto do país, segundo cálculos da Bloomberg News. E é a segunda cidade mais rica, atrás apenas de Pequim, de acordo com os últimos dados disponíveis do National Bureau of Statistics.

Para Xangai, as últimas restrições marcam um afastamento da abordagem anterior da cidade, que era mais direcionada quando se tratava de restrições e testes. As autoridades resistiram a um bloqueio total para evitar interrupções nos negócios, mas a experiência foi que a variante ômicron, altamente infecciosa, continuou a se espalhar.

Com o aumento dos casos de covid neste mês, Xangai reagiu fechando escolas e suspendendo todos os serviços de ônibus entre as províncias. Um número crescente de edifícios residenciais ao redor da cidade foi isolado nos últimos dias devido a casos suspeitos.

Em seu comunicado divulgado na noite de domingo (27), o governo de Xangai declarou que garantirá suprimentos básicos, como eletricidade, combustível e alimentos durante os períodos de lockdown.

Ainda assim, o anúncio surpresa provocou imediatamente uma corrida por mantimentos, pois os moradores procuravam estocar produtos e alimentos básicos antes do primeiro lockdown.

Na semana passada, muitos moradores de Xangai acumularam suprimentos devido à incerteza sobre os lockdowns, cada vez mais frequentes – a estratégia da cidade até agora – e a falta de motoristas de entrega. A polícia de Xangai deteve dois homens na semana passada por suspeita de espalhar rumores de que toda a cidade estava entrando em um lockdown total.

Veja mais: Xangai: Residentes em lockdown não conseguem comprar alimentos

As autoridades enfatizaram que as necessidades médicas de emergência dos cidadãos serão garantidas durante o lockdown. As instituições médicas precisam fornecer um “canal verde” para a recepção de pacientes, e o “transporte em circuito fechado” pode ser organizado pelas comunidades para casos especiais, disse Wu, da comissão de saúde.

Uma enfermeira morreu de asma na noite de quarta-feira (23) depois de ser afastada do Hospital Leste de Xangai, quando o departamento de emergência foi fechado para desinfecção sob as regras de controle da covid. Ela posteriormente morreu em outro hospital, de acordo com um comunicado do centro médico no distrito de Pudong da cidade.

Houve cenas semelhantes no início deste ano, quando a cidade central de Xi’an, lar dos famosos guerreiros de terracota, foi fechada para domar um surto de covid. Embora os níveis de casos não estejam nem perto do que está sendo visto no Ocidente e mesmo em outras partes da Ásia, a resposta radical da China vem tendo tanto impacto que levou o presidente, Xi Jinping, a pedir às autoridades que evitem o efeito sobre a economia enquanto continuam a tentar suprimir a covid.

Juntamente com a Tesla, as fábricas administradas pela Toyota (TM) e pela Volkswagen (VWAGY) na província de Jilin foram fechadas por semanas devido ao lockdown. Em Xangai, os operadores do mercado financeiro estão passando a noite em seus escritórios para evitar os lockdowns, que os impediriam de entrar no pregão.

– Com a colaboração de Claire Che, Michelle Fay Cortez, Daniela Wei, Fran Wang e Heejin Kim.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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