Bloomberg — Tentar decifrar uma mensagem coerente a partir das oscilações desconexas entre classes de ativos nas últimas semanas às vezes tem sido uma tarefa inglória.
Se antes uma alta nos rendimentos de títulos e preços de commodities sinalizava um enorme problema para a renda variável, agora as ações estão aumentando junto.
O endurecimento da postura hawkish do Fed começou como motivo de pânico nos mercados de risco. Agora, mesmo a ameaça de aumentos superdimensionados nas taxas de juros não é suficiente para intimidar os otimistas de Wall Street.
As guinadas têm ocorrido rapidamente e provavelmente devem continuar. Mesmo assim, algo próximo de um tema unificado parece ter se consolidado ultimamente: uma fé renovada em uma trajetória de crescimento.
Munidos de indicadores otimistas sobre o setor produtivo e contratações, os mercados começaram a se comportar como se esperassem que a economia evitará uma contração e se expandira.
“O Fed tem subido juros rumo a um boom”, disse Neil Dutta, chefe de economia da Renaissance Macro Research. “Sinais de recessão nos dados econômicos dos Estados Unidos são como a procura de vida inteligente em outros planetas: possíveis indícios, nenhuma confirmação”.
Os fundamentos sólidos são difíceis de ignorar, pelo menos por enquanto. O crescimento da economia americana acelerou no último trimestre, enquanto os lucros das empresas do S&P 500 (IVVB11) registraram expansões de dois dígitos pela quarta vez consecutiva.
Com base nas previsões de analistas, os lucros aumentarão cerca de 10% ao ano até pelo menos 2024. Enquanto isso, espera-se que o PIB aumente mais de 2% em cada um dos próximos seis trimestres.
De diversos pontos de vista, surge um padrão nos mercados após a alta de juros do Fed em 16 de março: ganho em ativos de risco. De lá até o final da semana passada, o petróleo subiu 17%, o S&P 500 teve alta de 6,6%, e os rendimentos de títulos do Tesouro de 10 anos se aproximaram de 2,5%, o nível mais alto em quase três anos.
Uma cesta de empresas de tecnologia pouco lucrativas, que sofreram fortes baixas durante os primeiros dois meses de 2022, quando o fantasma das taxas de juros mais altas pairava sobre seus valuations, atingiu sua mínima logo antes da decisão do Fed e, desde então, saltou quase 30%.
Ações recém-lançadas, muitas das quais ainda não deram lucro, tiveram a mesma trajetória. Um fundo negociado em bolsa que segue ofertas públicas iniciais recentes aumentou cerca de 20% no mesmo período.
Para Peter Tchir, chefe de estratégia macro da Academy Securities, correlações inconsistentes de ativos são a tônica dos mercados no momento.
“Estou penando para achar uma ‘pista’ no que parece ser um mercado muito confuso, desordenado e até incomum”, disse Tchir.
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