Leonardo DiCaprio vira sócio de fundo de US$ 45 mi com foco em clima

Cinco primeiras empresas anunciadas no portfólio do fundo focam em sustentabilidade e mudança climática

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Bloomberg — A mudança climática é atualmente compreendida por cientistas como um problema sistêmico no qual decisões individuais são muito insignificantes para causar impacto em qualquer escala. Analisemos esse índice de evolução dos últimos 16 anos. O documentário de 2006 de Al Gore, “Uma Verdade Inconveniente”, termina com a pergunta “Você está pronto para mudar a maneira como vive?” e depois pede às pessoas que comprem aparelhos e lâmpadas energeticamente eficientes. O site retratado na sátira de 2021 “Não Olhe Para Cima”, por outro lado, implora às pessoas que “mudem o sistema”.

Leonardo DiCaprio, que estrelou o filme, é ativista, filantropo, poluidor de alto patrimônio líquido e agora sócio e consultor estratégico do Regeneration VC, novo fundo de capital de risco de US$ 45 milhões com foco em materiais de consumo e suas emissões de gases estufa. Outro consultor estratégico é William McDonough, arquiteto, designer e escritor que há décadas aconselha governos e empresas sobre como operar de forma sustentável dentro dos limites da biosfera da Terra ao mesmo tempo em que reciclam e reutilizam materiais em uma “tecnosfera” humana.

O Regeneration fornecerá financiamento em estágio inicial para empresas que dizem estar tentando eliminar resíduos de produtos de consumo e emissões de cadeias de suprimentos. As cinco primeiras empresas em seu portfólio são anunciadas como capazes de capturar pequenas quantidades de CO₂ de prédios comerciais para fazer sabão (CleanO2); cultivar couro sem depender do gado e de suas emissões (VitroLabs); transformar conchas das sobras da aquicultura em poliestireno, o plástico comum para embalagens (Cruz Foam); ajudar empresas a alugar e revender produtos (Arrive) e vender vestuário renovável (Pangaia).

Mudar “o sistema” o suficiente para conter as mudanças climáticas exigirá políticas coordenadas em todos os níveis da economia nacional e internacional, de acordo com o último relatório de 3,5 mil páginas do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Então, qual é a promessa de um pequeno fundo que tenta mudar o que os consumidores compram e a forma como compram?

Investidores de capital de risco investiram US$ 32 bilhões em tecnologia climática em 2021, segundo a BloombergNEF. As empresas de private equity investiram outros US$ 25 bilhões. Os setores de mobilidade, energia e agricultura atraíram a esmagadora maioria desse valor. O Regeneration pode se enquadrar na categoria “indústria e materiais” da BloombergNEF, que também inclui o Rubio Impact Ventures e o Closed Loop Ventures Group.

No contexto do setor financeiro ou no que diz respeito às demandas das mudanças climáticas, US$ 45 milhões “não é um número grande”, disse Michael Smith, sócio comanditado do Regeneration. “Neste momento, as indústrias de consumo representam quase metade das emissões globais, mas recebem apenas cerca de 2% do financiamento de capital de risco – e a maior parte desse financiamento ocorre em empresas em um estágio posterior. Considerando que este é o nosso primeiro fundo, em campo emergente, fomos incentivados com o interesse dos investidores”.

Apenas 22 dos 2.806 acordos de capital de risco e private equity no ano passado superaram a marca de US$ 500 milhões. A maioria ficou abaixo dos US$ 100 milhões. Isso é muito mais que todo o fundo de US$ 45 milhões do Regeneration. No início deste mês, o Google.org, braço beneficente do Google, da Alphabet (GOOGL), anunciou um Fundo Semente de Sustentabilidade de US$ 6 milhões para ajudar empreendedores na região da Ásia-Pacífico tirar suas ideias do papel. Esse valor é menor ainda.

Fundos de menos de US$ 100 milhões “são essenciais para escalar as tecnologias climáticas do futuro”, disse Sarrah Raza, que lidera a pesquisa de investimentos em tecnologia climática no BloombergNEF, grupo de pesquisa de energia limpa. As startups em áreas ainda de nicho tentam aumentar as rodadas iniciais de capital de risco de US$ 5 milhões para US$ 20 milhões — uma escala muito menor do que as tecnologias mais maduras precisam. Seu risco também é maior. “Esses fundos menores também costumam ter foco especial em determinados setores, o que os torna melhores parceiros para startups em estágio inicial, que precisam não apenas de financiamento, mas também de uma rede de apoio e consultoria”.

Novas pesquisas complicam ainda mais o problema de escala. Três décadas de desigualdade de renda global descontrolada mudaram completamente a situação. Em 1990, a renda nacional e o uso de energia explicavam a maior parte da desigualdade na poluição por gases de efeito estufa; países mais ricos poluíam muito e países mais pobres poluíam pouco. Hoje, graças à desigualdade de patrimônio, a divisão é entre pessoas mais ricas, que poluem muito, e mais pobres, que poluem menos. Os países em si importam menos, pois a desigualdade dentro deles cresceu – mas os debates sobre políticas não fizeram sucesso.

Isso significa que as pessoas que mais poluem – que também são as mais ricas – têm uma responsabilidade substancial inexplorada – e não discutida – de reduzir as emissões globais. E até agora essas pessoas não estão fazendo isso por conta própria. A visão simplista de que nenhuma redução individual de emissões pode resolver o problema está dando lugar à ideia de que qualquer pessoa que possa comprar luvas de US$ 85 feitas de caxemira reciclada é provavelmente mais responsável por mais poluição. Políticas que incentivam produtos de baixa emissão e baixo desperdício em detrimento dos convencionais podem, na verdade, ter um impacto cumulativo.

Mesmo o sabão mais sustentável não vai lavar a atmosfera, mas os investimentos dos 1% mais ricos do mundo em empresas e fundos de baixo carbono podem ajudar.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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