Inflação e medo de recessão agravam perdas dos títulos globais

Foco em combater a inflação significa problemas para a economia global, que também enfrenta complicações no mercado pela guerra

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Bloomberg — O pior período de perdas no mercado global de títulos de dívida está se aprofundando. Investidores estão se livrando de ativos de renda fixa, temendo que o aperto agressivo pelos bancos centrais empurre a economia mundial para a recessão.

Os títulos do Tesouro americano se desvalorizaram nesta segunda-feira (28) e uma parte importante da curva de juros dos EUA se inverteu pela primeira vez desde 2006. A onda de vendas reflete expectativas de que o banco central americano (Federal Reserve) lidere uma sequência de aumentos na taxa básica de juros enquanto a guerra na Ucrânia eleva ainda mais a inflação, que já é a mais alta desde a década de 1980.

O foco em combater a inflação significa problemas para a economia global, que também enfrenta complicações no mercado de commodities e no comércio internacional devido a sanções contra a Rússia e ordens de lockdown na China contra a disseminação da covid-19.

O rendimento dos títulos do Tesouro americano com prazo de dois anos subiu 0,14 ponto percentual para 2,41%, puxando o avanço dos rendimentos ao longo da curva. Investidores precificam 2 pontos percentuais de aumento na taxa básica de juros pelo Fed até o fim do ano. O rendimento das notas de cinco anos superou o rendimento dos títulos com vencimento em 30 anos, sugerindo que alguns investidores esperam uma crise econômica e talvez uma recessão.

O aperto monetário não preocupa apenas nos EUA. Os investidores também apostam em aumentos mais rápidos dos juros na Zona do Euro diante da escalada da inflação. Os mercados agora precificam quatro acréscimos de 0,25 ponto percentual na taxa básica pelo Banco Central Europeu até março do ano que vem.

“Com todos os bancos centrais fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo e os preços em alta, inevitavelmente haverá uma primeira grande desaceleração no crescimento, mas o potencial para uma recessão vem aumentando”, disse Geraldine Sundstrom, gestora de carteiras da Pacific Investment Management Co. (Pimco). “O que os bancos centrais estão fazendo, lamentavelmente, só funciona com a destruição da demanda, porque o choque da oferta causado pela guerra e pela volta da Covid na China não pode ser tratado com altas de juros.”

“O impulso dos títulos globalmente tem direção única no momento, enquanto os títulos do Tesouro americano se desvalorizam diante das expectativas de aumento de juros pelo Fed”, disse Damien McColough, responsável pela área de pesquisa de renda fixa do Westpac Banking em Sydney.

A desova de títulos do Tesouro americano provocou a primeira inversão em 16 anos em uma parte da curva de juros. A venda de títulos de prazo mais curto está mais acelerada do que a venda de títulos de longo prazo por causa das expectativas dos investidores sobre como os bancos centrais vão combater a inflação.

O rendimento dos títulos de cinco anos avançou 0,12 ponto percentual para 2,67%, superando a taxa dos títulos de 30 anos. A diferença entre os rendimentos dos papéis do Tesouro com prazo de cinco e 10 anos ficou negativa no início deste mês.

Embora a inversão seja historicamente interpretada como sinal de recessão, talvez não seja o caso desta vez porque a política monetária nos EUA tem sido muito flexível, afirma Mohit Kumar, diretor-gerente da Jefferies em Londres.

“Desta vez é diferente porque o Fed está tentando recuperar o atraso após ficar muito atrás”, disse ele. “Portanto, não esperamos que as atuais decisões do Fed provoquem uma recessão, mas veremos alguma desaceleração à medida que entram em território restritivo.”

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