À medida que o Federal Reserve luta para reduzir a inflação mais alta em décadas, talvez o melhor resultado econômico que possa esperar soe como uma contradição: uma recessão de crescimento.
Essa é uma situação em que a economia se expande mais lentamente do que sua tendência de longo prazo de aproximadamente 1,5% a 2% e o desemprego aumenta, mas uma completa contração é evitada.
Embora fique aquém do pouso suave perfeito que o presidente do Fed Jerome Powell e outros dirigentes imaginam, é um resultado que economistas como o vencedor do Prêmio Nobel Paul Krugman consideram desejável para ajudar a aliviar as pressões persistentes sobre os preços.
“Se tiverem sorte, talvez consigam se virar com uma recessão de crescimento ano que vem”, disse Peter Hooper, ex-autoridade do banco central americano que agora é chefe global de pesquisa econômica do Deutsche Bank. Ele vê uma desaceleração como cenário mais provável.
O Fed precisa desacelerar uma economia que está “claramente superaquecida” ao emergir da pandemia, disse Krugman, professor da City University de Nova York.
A inflação - que já está na máxima de 40 anos e mais de três vezes a meta de 2% do Fed - parece prestes a acelerar novamente à medida que interrupções de fornecimento causadas pela guerra na Ucrânia aumentam os preços de alimentos e energia. O mercado de trabalho está, nas palavras de Powell, “extremamente apertado”, com mais de 1,7 vagas de emprego para cada desempregado.
Para tentar aliviar a pressão de demanda, o Fed pretende elevar as taxas de juros rapidamente para níveis mais normais e está preparado para empurrá-las para território “restritivo” se necessário para alcançar a estabilidade de preços, disse Powell durante conferência de economistas em 21 de março.
Os rendimentos de títulos de renda fixa dispararam após a fala dura de Powell, que aumentou as expectativas de aperto mais rápido pelo Fed. O rendimento da nota do Tesouro de dois anos encerrou a semana passada em torno de 2,29%, contra 1,94% na semana anterior.
Talvez não surpreenda que a autoridade monetária espere conseguir realizar um pouso suave para a economia em alta. O crescimento desacelera, mas permanece acima da tendência, de acordo com projeção mediana que o Fed divulgou em 16 de março. O desemprego cai para 3,5%, contra 3,8% agora, e depois fica estável até 2024. A inflação medida pelo indicador preferido do Fed cai para 2,3% até o final de 2024, ante 6,1% em janeiro.
A economista-chefe da Grant Thornton, Diane Swonk, disse que é “fantasioso” que o Fed não espere que o desemprego aumente à medida que restringe o crédito. Ela prevê que o desemprego aumentará para 4,8% até o final do próximo ano, à medida que a economia se desacelera acentuadamente, mas evita uma recessão.
“Eu chamo isso de pouso semi-forçado”, disse Swonk.
Krugman disse semana passada que vê o desemprego aumentando cerca de meio ponto percentual à medida que o crescimento diminui para um ritmo anual de cerca de 1%. O PIB americano se expandiu 5,7% ano passado, a maior taxa de crescimento desde 1984.
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