BRF elege novo conselho, ganha cara nova e põe fim a era da família Furlan

Mudança marca a saída da família fundadora da Sadia e a chegada de Marcos Molina, que passa a acumular também a presidência do conselho da Marfrig

O novo presidente do Conselho de Administração da BRF
28 de Março, 2022 | 08:29 PM

Bloomberg Línea — Os acionistas da BRF (BRFS3) decidiram. A empresa passa a ter a partir de hoje um novo conselho de administração. Como era esperado, a chapa apresentada pela Marfrig (MRFG3), maior acionista da BRF, foi eleita pela maioria dos acionistas. Assim, pelos próximos dois anos, Marcos Molina é o novo presidente do conselho de administração da BRF, tendo como seu vice-presidente Sérgio Rial, aprovados com 99,27%. Os demais membros são Augusto Cruz, Márcia Marçal dos Santos, Eduardo Pocetti, Flávia Bittencourt, Pedro de Camargo Neto, Altamir Batista da Silva, Deborah Vieitas e Aldo Mendes.

Com a eleição, deixam conselho da BRF os ex-ministros Pedro Parente, Luiz Fernando Furlan e Roberto Rodrigues, bem como Dan Ioschpe, Flavia Buarque de Almeida, José Luiz Osório de Almeida Filho, Ivandré Motiel da Silva e Marcelo Feriozzi Bacci. A substituição de oito dos dez membros também marca de vez o fim de uma Era. Com a saída de Furlan, mais nenhum membro das famílias que fundaram Sadia e Perdigão faz parte do comando da empresa. O ex-ministro de Lula é neto de Atillio Fontana, fundador da Sadia.

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Apesar de ter conseguido seu objetivo, Molina não teve uma vitória fácil. Na semana passada, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, solicitou que a eleição ocorresse por voto múltiplo. A ideia era tentar não perder influência no conselho diante da chapa apresentada pela Marfrig. E deu certo. Durante o fim de semana, Molina aceitou a indicação da Previ do nome de Aldo Luiz Mendes, que passou a integrar a chapa no lugar de Oscar de Paula Bernardes Neto, que “apresentou sua desistência à indicação para eleição ao conselho”. Em contrapartida, a Previ retirou o pedido do voto múltiplo.

Antes da Previ, quem tentou limitar o controle de Molina foi a Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. Em janeiro, pouco antes da emissão feita pela BRF, o fundo apresentou em uma assembleia de acionistas o parecer elaborado por Marcelo Trindade, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), dizendo que a Marfrig deveria pagar um prêmio aos acionistas minoritários caso alcançasse uma participação de 33,33% das ações da empresa. O estatuto da BRF, de fato, prevê esse pagamento, mas isenta o controlador desse acional caso essa participação ocorra por meio de uma emissão, o que era o caso na ocasião. Para evitar o conflito, Molina manteve a Marfrig com 33,25% do capital da BRF.

Agora, com todos os pingos nos is e efetivamente à frente da BRF, Molina pretende consolidar os números da BRF na empresa que fundou. A operação não significa uma fusão, mas poucos duvidam que isso ocorra em algum momento, mas já permite que os investidores comparem a empresa mais facilmente com Tyson (TSN) e JBS (JSBS3), que já operam com as proteínas de aves, suínos e bovinos.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.