Biden chama Putin de ‘açougueiro’ e diz que ele ‘não pode continuar no poder’

Em discurso em Varsóvia, Biden pediu a aliados que se preparem para um longo conflito

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(Bloomberg) — O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, criticou o líder russo, Vladimir Putin, em discurso na Polônia neste sábado (26), chamando-o repetidamente de “ditador” e dizendo que ele “não pode continuar no poder” depois da invasão da Ucrânia.

Biden exortou aos democratas do mundo que se preparem para um conflito longo com o governo de Putin, seu mais recente pedido a aliados que se mantenham firmes contra um adversário que ele chamou de “açougueiro”.

“Precisamos ter clareza: esta batalha não vai ser vencida em dias ou meses”, disse Biden em um discurso duro no Castelo Real de Varsóvia no sábado, a última etapa de uma viagem à Europa para mostrar unidade entre os aliados contra Moscou. “Precisamos nos preparar para a longa batalha pela frente.”

Ele concluiu o discurso destacando que “pelo amor de Deus, esse homem não pode continuar no poder”.

Não ficou claro se o trecho estava no discurso escrito, e um funcionário da Casa Branca depois disse que Biden quis dizer que Putin não poderia continuar exercendo poder sobre os vizinhos e que o presidente não estava falando em mudar o regime na Rússia.

É bastante incomum que um presidente dos EUA peça explicitamente que um líder seja retirado do cargo, especialmente o líder de um país com armas nucleares do tamanho da Rússia.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump tentou forçar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a deixar o poder e o ex-presidente Barack Obama disse em 2011 que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, “precisa sair”. Tanto Maduro quanto Assad continuam no comando de seus países.

Biden fez referência a um famoso discurso anticomunista do ex-presidente dos EUA Ronald Reagan, que em 1987 implorou à União Soviética que “derrube esse muro” em Berlim. O muro caiu apenas dois anos depois. Biden começou sua fala em Varsóvia citando o discurso que o papa João Paulo II fez na Polônia em 1979 no qual implorou ao povo polonês que “não tenha medo” de regimes opressivos.

Mais cedo, Biden fez uma visita emocionante a refugiados da Ucrânia que mostraram o que está em jogo no conflito no qual os EUA garantiram que seus militares não intervirão. Ainda assim, Biden disse que a guerra poderia desaguar numa “terceira guerra mundial” se não for cuidadosamente avaliada.

Ainda não está claro se os EUA e seus aliados podem ajudar a pôr fim nos conflitos sem eles mesmos efetuarem disparos, já que houve relatos de ataques russos nas proximidades de Lviv, cidade que fica a cerca de uma hora da fronteira com a Polônia, pouco antes do discurso de Biden. Biden repeliu os pedidos ucranianos para que a Otan feche o espaço aéreo do país, o papel da China no conflito é incerto e sobram perguntas sobre a efetividade das sanções financeiras e em que velocidade a Europa conseguirá se desvencilhar do gás russo.

“As democracias do mundo estão revitalizadas com propósito e união”, disse o presidente dos EUA.

Biden, cujo discurso foi animado com aplausos da plateia, alguns de pessoas que carregavam bandeiras da Polônia, da Ucrânia e dos EUA, deixou uma dura advertência a Putin: “Nem pense em avançar um centímetro sequer sobre territórios da Otan”.

Ele disse que os EUA têm a “obrigação sagrada” de “defender cada palmo de território da Otan”.

A Casa Branca estima que mil pessoas - incluindo o presidente da Polônia, Andrzej Duda, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, e a líder da oposição em Belarus, Sviatlana Tsikhanouskaya - ouviram o discurso, bem como estudantes locais e funcionários da embaixada norte-americana.

“Minha mensagem ao povo da Ucrânia é a mesma que disse aos ministros da Defesa e das Relações Exteriores da Ucrânia, que acredito estarem aqui hoje - estamos com vocês, ponto”, disse Biden.

Mas ele também assegurou ao povo russo que eles não são inimigos nem aliados dos EUA.

Hoje mais cedo, Biden esteve com os ministros da Defesa e das Relações Exteriores da Ucrânia antes das audiências com Duda e o primeiro-ministro da Polônia - e de se encontrar com refugiados da Ucrânia.

Mais de dez milhões de pessoas na Ucrânia foram forçados a deixar suas casas e mais de 3,4 milhões saíram do país, incluindo os mais de dois milhões que chegaram à Polônia.

Em um momento, Biden baixou o tom de voz para falar sobre a situação dos que fugiram.

“Ajudar os refugiados não é algo que a Polônia ou qualquer outra nação devam fazer sozinhas”, disse ele.

A viagem de Biden, que começou com uma parada mais cedo em Bruxelas, tem o objetivo de estreitar alianças com a Otan, o G7 e a União Europeia e aumentar o apoio à Ucrânia. Em Bruxelas, Biden pediu que a Rússia seja removida do G20; ou então, que a Ucrânia seja convidada a participar das reuniões.

Biden ainda anunciou a promessa de aumentar as exportações de GLP para a Europa, como parte do esforço para reduzir o impacto do bloqueio das exportações de energia russa, enquanto impõe sanções a políticos e entidades russos. Os EUA prometeram aceitar 100 mil refugiados da Ucrânia, mas ainda não foi informado por quanto tempo.