Argentina: FMI aprova acordo de US$ 45 bilhões em meio a risco político

Governo de Fernández se comprometeu a reduzir o déficit fiscal, suspender a impressão de dinheiro e reconstruir as reservas

El Directorio del FMI aprobó el acuerdo con la Argentina. Kristalina Georgieva se refirió a los riesgos que enfrenta la economía argentina.
Por Patrick Gillespie e Eric Martin
25 de Março, 2022 | 09:27 PM

Bloomberg — O Fundo Monetário Internacional aprovou uma ajuda de US$ 45 bilhões da Argentina, o passo final para consolidar um acordo que já enfrenta desafios econômicos e políticos.

O conselho executivo do Fundo acertou o programa em uma reunião na sexta-feira, segundo pessoas com conhecimento do assunto que pediram para não serem identificadas porque a decisão ainda não foi tornada pública. A assessoria de imprensa do FMI não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

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O acordo - o 22º da Argentina com o FMI desde 1958 - é o capítulo mais recente da tumultuada relação do país com o banco sediado em Washington, após dois anos de negociações lentas. O programa, conhecido como um fundo estendido, dá ao governo seu primeiro roteiro econômico de médio prazo desde que o presidente Alberto Fernandez assumiu o cargo em dezembro de 2019.

O acordo permite à Argentina espaço para respirar, fornecendo fundos que fortalecerão as reservas e permitirão que o país elimine pagamentos devidos de um programa do FMI de 2018 que não conseguiu estabilizar a economia. Como parte do acordo, o governo de Fernández se comprometeu a reduzir o déficit fiscal primário do governo, suspender a impressão de dinheiro do banco central e reconstruir as reservas, entre vários objetivos. O programa é leve em exigir grandes reformas.

Assim que o acordo foi falado pela primeira vez no início deste mês, a Argentina agiu rapidamente para enviá-lo ao Congresso, onde Fernandez exigiu aprovação para que entrasse em vigor. Os legisladores finalmente aprovaram o financiamento do FMI com apoio bipartidário, mas não as políticas econômicas que sustentam o acordo.

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Após o apoio do conselho, a Argentina receberá US$ 9,8 bilhões iniciais que permitirão ao país fazer um pagamento de US$ 2,8 bilhões ao FMI em 31 de março em meio a reservas líquidas cada vez menores. O restante dos desembolsos está condicionado à aprovação do país por revisões trimestrais do programa por funcionários do FMI que avaliam se o governo está atingindo suas metas.

Autoridades do FMI e da Argentina já enfatizam que as consequências econômicas da invasão da Ucrânia pela Rússia criam grandes incertezas em torno do programa, o que pode exigir que as políticas sejam “recalibradas” se necessário.

Desafios adiante

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Já surgiram divisões políticas em relação a este programa do FMI. A resistência que Fernández enfrentou no Congresso por parte de membros de sua própria coalizão de esquerda destaca os desafios que o governo enfrentará ao tentar desfazer os subsídios em setores-chave, como energia.

Enquanto isso, economistas expressaram dúvidas de que o governo possa atingir suas metas de esfriar a inflação e possibilitar o crescimento da economia este ano. Os preços globais de energia e alimentos, uma taxa mais rápida de desvalorizações da moeda e a redução dos subsídios às contas de energia elétrica devem manter a inflação elevada este ano, entre outros fatores.

Economistas do JPMorgan Chase & Co. (JPM) veem a inflação na Argentina em 62% este ano, bem acima da meta do programa do FMI de 38% a 48%. A consultoria argentina Equilibra vê a economia se contraindo este ano porque o programa do FMI exige que a Argentina acumule reservas, o que limitaria o dinheiro que tem para pagar as importações que sustentam a atividade econômica. O programa projeta crescimento neste ano entre 3,5% e 4%.

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