Inflação se dissemina e vai fechar março acima de 1%, diz BlueLine

Economista-chefe Fábio Akira comenta a divulgação do IPCA-15 e projeta continuidade das pressões inflacionárias com a guerra

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São Paulo — O IPCA (índice que mede a inflação oficial do Brasil) deve fechar o mês de março acima de 1%, refletindo o impacto do reajuste dos combustíveis, anunciado pela Petrobras no último dia 10, nas cadeias produtivas. A expectativa é do Fábio Akira, sócio-fundador e economista-chefe da BlueLine Asset Management, que comentou a prévia do indicador divulgada nesta sexta-feira (25). O IPCA-15 avançou 0,95%, acima das expectativas do mercado. Em 12 meses, o índice acumula alta de 10,79%.

“A leitura do IPCA-15 é muito preocupante. O índice de difusão, que mede o percentual de itens reajustados na cesta, chegou a 75,5%, o maior desde 2015. Isso significa que a inflação está cada vez mais disseminada na economia brasileira”, disse o economista à Bloomberg Línea.

Akira prevê que o IPCA de março fique entre 1,15% e 1,20%, incorporando os efeitos do reajuste dos combustíveis. Segundo o economista, a guerra entre Rússia e Ucrânia traz a preocupação com a continuidade de pressões inflacionárias com o aumento do barril do petróleo e dos alimentos, principalmente os grãos, como o trigo. Há ainda os problemas da escassez de fertilizantes e de semicondutores, além dos gargalos da logística mundial, como o frete marítimo mais caro.

O economista-chefe da BlueLine apontou, por outro, o efeito benigno da valorização do real frente ao dólar. Nesta semana, a moeda norte-americana chegou a ser negociada abaixo de R$ 4,80. “O dólar veio de R$ 5,60. Essa queda já está ajudando. Se não tivesse, como estaria a inflação hoje?”, indaga Akira.

O maior ingresso de capital estrangeiro no Brasil compõe o pano de fundo para o atual movimento de queda das cotações do dólar, com investidores reforçando posições em ativos em reais, a fim de obter ganhos com a diferença de juros com outros países. Atualmente, após nove altas seguidas, o juro básico está em 11,75% ao ano, o maior patamar em cinco anos, com a mediana das projeções das instituições financeiras apontando um patamar acima de 13% em dezembro.

Mesmo com o alívio no câmbio, ele diz que os fatores altistas estão prevalecendo, como os repasses da alta dos custos de produção das empresas para seus consumidores finais. “Uma discussão preocupante é a indexação à inflação passada, como era na época da hiperinflação, nos anos 1980. Um item que não tem nada a ver com a alta da gasolina sofre reajuste”, observa.

Para o economista, o conflito no Leste Europeu serviu para deslocar o foco principal do mercado, antes voltado para os riscos das variantes da covid, e agora direcionado às novas pressões inflacionárias que ameaçam desacelerar o ritmo de retomada da economia mundial.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem repetido que o país vai enfrentar um pico de inflação entre abril e maio, sugerindo que o fim do primeiro semestre seria de um certo alívio na evolução dos preços. “A desaceleração da inflação pode não acontecer de maneira tão pronunciada como se esperava antes”, alerta Akira.

Na última quinta-feira (24), o BC elevou de 4,7% para 7,1% a estimativa de inflação para este ano, admitindo que a meta de inflação deve ser superada pelo segundo ano seguido em 2022. Definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional ), a meta de inflação para este ano é de 3,5% e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 2% e 5%. Para 2023 e 2024, a autoridade monetária projetou uma inflação de, respectivamente, 3,4% e 2,4%.

No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,25% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 1,75% a 4,75%. Em 2024, o objetivo central é de 3%, com um piso de 1,5% e um teto de 4,5% por conta do intervalo de tolerância existente.

O sócio da BlueLine diz que a probabilidade de a inflação oficial ficar acima de 3% no ano que vem é maior. “Os riscos estão enviesados para cima”, diz Akira sobre a perspectiva para a inflação em 2023.

Fundada em maio de 2019, a BlueLine Asset Management é liderada por Giovani Silva e Fábio Akira, profissionais que trabalharam por muito tempo no JPMorgan. Giovani, CIO da gestora, atuou por 17 anos no JPMorgan onde foi Head Trader de América Latina. Fábio, Head de Economia, foi durante muitos anos economista-chefe para Brasil no JP Morgan. A gestora possui cerca de R$ 300 milhões sob gestão em estratégias Macro e Previdência. A BlueLine integra o programa Rising Stars, do Itaú Unibanco, que busca fomentar o desenvolvimento de gestoras de recursos no Brasil.

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