Betterfly, app que converte exercícios em doações, quer avançar no Brasil

Em entrevista à Bloomberg Línea, Cristóbal della Maggiora, CCO do unicórnio chileno, conta sobre a intenção de ir para os EUA e Europa

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Santiago — Quase dois meses se passaram desde que a Betterfly se tornou o primeiro unicórnio social da América Latina e o terceiro do Chile. O que mudou após o marco? Cristóbal della Maggiora, cofundador e CCO da insurtech chilena, diz que foi um impulso emocional para a equipe. “É uma empresa que já vinha rodando em velocidades bastante fortes, e após o anúncio sente-se que está indo mais rápido. Mas, estritamente falando, continuamos com os mesmos objetivos, buscando a mesma coisa, e isso não muda”, disse ele em entrevista por telefone à Bloomberg Línea.

O crescimento da Betterfly foi acelerado. A empresa foi fundada pelos irmãos della Maggiora como Burn To Give em 2018, uma plataforma que permitia aos usuários transformar calorias queimadas durante atividades físicas em doações de alimentos para diferentes causas sociais.

Sediado temporariamente no Brasil, Cristóbal une forças, junto com a equipe local que ultrapassa 100 pessoas, para decolar no mercado carioca; enquanto seu irmão e triatleta Eduardo della Maggiora, CEO da Betterfly, se estabeleceu nos Estados Unidos.

A América Latina não é a única região onde eles querem chegar. A meta é chegar aos Estados Unidos, Portugal e Espanha até 2023. Eles já têm pessoas instaladas nesses países e estão fazendo análises e conversando com seguradoras e diversas empresas. “O que está por vir agora para a Betterfly será expansão, expansão e expansão... Sabemos que o que cada país precisa é um pouco diferente dos outros, então estamos em condições de ser flexíveis com o que cada um precisa para se ajustar a melhor ferramenta”.

A conversa a seguir foi editada por questões de extensão e clareza.

Bloomberg Línea: Como tem sido a licitação para entrar no mercado brasileiro?

Com a Betterfly sempre estivemos muito perto do que acontece. No Brasil estamos em uma marcha lenta, mas já começamos. Há uma equipe e em menos de um mês faremos um grande lançamento no país.

Que outras alianças com seguradoras você está conseguindo expandir?

Para o resto da América Latina, em termos de seguros, é com a Chubb que estamos fazendo um plano regional para abrir mais no Chile, Argentina, México, Equador, Colômbia. Estamos procurando outro parceiro seguro para a América Central e ainda não posso divulgar. E o Peru, anunciamos há duas semanas, com o Interseguro. Também um formato muito parecido no Brasil com a Icatu, com um parceiro local que nos dá flexibilidade.

É um bom momento para investir no ecossistema de empreendedorismo chileno?

Sim, o ecossistema empresarial chileno se beneficiou de um bom número de anos de incentivos e de um momento em que a maturidade já atinge níveis internacionais. Muitas empresas no Chile têm um nível de maturidade bastante sólido, e isso faz parte de uma onda completa. O nível de sofisticação dos fundos internacionais que chegaram ao país fez com que, de certa forma, elevasse a fasquia dos fundos.

Vamos ter muitas surpresas este ano de empresas que estão indo muito bem e que vão começar a voar.

O Chile pode estar passando por um processo de mudança de mãos dadas com a Convenção e um novo governo. Como você vê a situação do país para os empresários?

As mudanças políticas são sempre complicadas, mas algo nos deixa muito tranquilos: as empresas que começam a nascer hoje, e a Betterfly sendo uma delas - não a única -, vêm para resolver problemas reais da sociedade.

Quando você tem empresas que estão resolvendo problemas reais de pessoas ou do dia-a-dia, o tom político passa um pouco despercebido, pois no final essas empresas são apoiadas pelas mesmas pessoas. No caso da Betterfly, que quer melhorar a qualidade de vida das pessoas; a Cornershop que ajuda a ter mais tempo quando a comida chega em casa; e NotCo que quer melhorar a alimentação. São empresas que dentro de seu DNA é ajudar as pessoas a usar a tecnologia para melhorar a qualidade de vida de diversas formas. Isso faz com que as startups se tornem mais agnósticas sobre o que acontece politicamente.

Obviamente, tudo afeta. Se o país melhorar, todos nós melhoramos. O conceito de que as startups estão mais próximas das pessoas e não dos modelos de negócios tradicionais significa que existe uma espécie de “capitão” protetor sobre o que acontece no país. Mas, obviamente, há um ar de incerteza sobre o que se vê no país, como sempre, independentemente das cores políticas.

O que você acha do plano do novo governo do Chile? Você acha que isso vai favorecer o empreendedorismo?

Ouvimos boas promessas, mas afinal há boas promessas em todos os governos. Tentamos permanecer muito agnósticos em relação à questão política no Chile. Continuamos a pensar que é um país onde podemos fazer muitas coisas e até vermos algo que prove o contrário, continuaremos a pensar assim.

Em geral, como você vê o ecossistema regional?

A América Latina vive um momento muito frutífero para as startups. Em toda a região houve um boom de startups, 2020 e 2021 foram os anos recordes com a quantidade de capital, de investidores estrangeiros na região e em diferentes partes do mundo, que tiveram um foco muito forte na América Latina. Muitas startups deram esse salto para se tornarem regionais ou globais.

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