Bloomberg Línea — Em 30 dias, a maior feira agropecuária da América Latina reabre seus portões em Ribeirão Preto, após não ter sido realizada nas edições de 2020 e 2021 devido a pandemia. Conhecida por concentrar boa parte do PIB do agronegócio, a Agrishow movimentou na sua última edição, em 2019, R$ 2,9 bilhões de negócios, mas seus organizadores ainda relutam em fazer projeções para este ano. Contudo, há quem estime que os negócios realizados durante a feira possam chegar a R$ 6 bilhões.
“Não dá para estimar o volume de negócios deste ano. Os preços das máquinas e equipamentos mudaram desde 2019, mas os fundamentos do setor ainda são sólidos. Dentro de um raio de 100 quilômetros de Ribeirão Preto já não existe mais vagas de hotel”, afirma Francisco Matturro, presidente da Agrishow.
Os preços das commodities agrícolas em alta e o aumento da área plantada com grãos no Brasil são as principais apostas dos organizadores e expositores da feira deste ano. Além disso, a taxa de 9,5% cobrada no financiamento de 10 anos de um equipamento novo é vista como razoável, considerando os atuais patamares da Selic. “É verdade que as principais linhas de financiamento a juros controlados se esgotaram entre o fim de outubro e o início de novembro. De qualquer forma, a rentabilidade do agricultor está elevada o que nos permite estimar vendas maiores este ano”, disse Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq.
O clima de otimismo que circula ao redor da realização presencial da feira, contudo, esconde alguns elementos de risco para o setor. Se por um lado o produtor está capitalizado depois de duas safras de preços de commodities em alta e câmbio favorável, por outro, o aumento dos custos de produção, a elevação da taxa de juros e o dólar dando sinais de enfraquecimento já acendem a luz amarela para o setor.
O plantio da próxima safra acontecerá com os preços dos fertilizantes em patamares muito mais elevados, valor dos combustíveis reajustados e máquinas e equipamentos também em níveis mais altos. Mesmo com as cotações das commodities em patamares próximos das máximas históricas, o câmbio é um fator de atenção, dada sua recente trajetória de queda.
“Os juros no Brasil estão subindo, o que tem atraído muito mais dólares para o Brasil. Vamos plantar uma safra com o câmbio a R$ 4,80, com custos elevados, mas não se sabe exatamente qual será o dólar no momento da colheita”, afirma Eduardo Daher, diretor-executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), uma das sócias da Agrishow.
Apesar da apreensão do setor produtivo em relação ao abastecimento do setor com fertilizantes, a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), outra sócia da Agrishow, não espera pela falta do insumo. Segundo a entidade, não existe uma sanção comercial para a compra de fertilizantes da Rússia e os estoques disponíveis nas fazendas, distribuidores, nas empresas e nos navios garante um certo fôlego para o plantio da próxima safra, que acontece no final de setembro.
Se do ponto de vista dos negócios da feira existem tanto motivos para otimismo quanto para cautela, Ribeirão Preto enxerga no retorno da Agrishow uma importante fonte de renda para a cidade. Em cinco dias de feira, são injetados na economia da cidade do interior paulista cerca de R$ 40 milhões. “A feira talvez seja o principal evento que ocorre na cidade e beneficia não apenas Ribeirão Preto mas todos os municípios do entorno. A população cresce em 150 mil pessoas durante a feira”, afirma Duarte Nogueira, prefeito de Ribeirão Preto.